O tempo não volta, moço. Ainda que regresse por rotas que um dia passou, as pessoas não estarão paradas no mesmo lugar. As situações serão outras. Outros mistérios, novos anseios. Entreguei em tuas mãos a chave. Desafiei os espaços, a noção do certo e errado, ignorei conselhos amigos. Escolhestes o discurso, a cobrança, as homéricas cenas. Enquanto fixavas teu olhar no deserto, no vento cálido, nas ancestrais desculpas. Eu mirava onde o vento fazia a curva, onde nasceu a primeira gota. O tempo não volta, moço. Levantei da calçada, troquei as janelas, cortei o cabelo, aprendi a respirar fundo, preferi estar acordada. Outros mistérios, novos anseios. O vento, o tempo te levou para o lugar que tu escolhestes. Quanto a mim, optei por ser nuvem e pé no chão.
Abraão Vitoriano
Abraão Vitoriano
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