sábado, 30 de janeiro de 2016

"Desapropriei meu coração, temporariamente. Aluguei um apartamento em Paris. Aceitei a oferta de emprego do jornal local. Dispensei a mobília. Reduzi a bagagem. Economizei as malas. Cortei pessoas do convívio. Fretei meus carros. Desativei e-mails antigos. Usei um codinome. Emprestei as emoções. Comprei novos cílios, pintei os olhos. (...) _________________________ Érica de Paula

"Tão forte e tão frágil."
Maquiei as olheiras, caprichei no rímel, mas... Você não é aquele que me conhece despida da maquiagem, da formalidade e das calças justas? Perdão. Há quanto tempo não te encontro? Que não sei da sua chuva, dos seus aniversários, dos teus escapulários telefônicos, das tuas manhas conhecidas e desmedidas. Desencontrei de teus olhares a muitas luas. Nós dois não nos desfizemos das bagagens. A gente deixou uma linha em branco, é isso? Que poderia ser um encontro, um reencontro, um sorvete, uma conversa. Não sabemos. Eu não sei. Vez em quando você me acha. Teoricamente, eu não correspondo. Teoricamente. Mas confesso, eu te encontro sempre à noite, antes do sono, do sonho, das luzes apagadas, das minhas meias verdades encontrarem um sentido pra nós dois. É estranho porque não terminou. A conexão, a porta aberta, o laço vermelho na minha cintura, 30 de janeiro, Adele, bilhetes em papéis coloridos. Devo crer que você me continua. Ainda que um possível reencontro esteja instalado no nada, no nunca, na outra vida. Certas continuações se permitem sem contar com as permissões corporais. Talvez seja este o nosso caso. Os mais românticos diriam uma lembrança, uma marca, uma memória, uma história para lembrar. Eu não sou romântica. Você não é de terminar. E tudo permanece porque nossos olhos não deixaram de se conhecer.


Érica de Paula

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Dividir o teto não garante proximidade, o que assegura a afeição é dividir o destino. ______________________________ Fabricio Carpinejar

"Seria tão bom sentir seu cheiro agora". __ M. Borges
Amo por descuido, prazer, união das vértebras, conjunção dos joelhos. Por safadeza, beleza, overdose de coragem. Por falta de juízo, falta de ocupação, de saudade, de regras. Amo pelos olhares encontrados, brilho da lua, gosto do beijo, sorrisos marotos, alegria sem motivo e pelos pés fora do chão.Amo pela sensação de pertencimento do meu amor. Pelo frio nas mãos. Pelo arrepiar na nuca. Amo também porque amar dá um frio na barriga. Amo pela ausência de teorias para amar. Amo porque me perco nas palavras e o amor me dá coragem de fazer aquilo que eu nunca faria se fosse normal. O amor ajuda-me a suportar as verdades então, amo pra falar bobagens, fazer histórias, guardar na memória, tolerar o dia, pra lembrar como é bom amar. Amo para não fazer feio na vida. Amo pra grudar meu corpo, calar minha boca, soltar meu mel. Por dengo, chamego, desassossego. Amo pela temperatura quente do amor. Na boa, eu amo porque amor é a única palavra que faz rima, canção, poesia, filme e outros salamaleques. Amo porque o amor facilita o entendimento entre duas pessoas de vidas tão diferentes, e transforma dois corpos, um lençol e uma cabaninha em um castelo com um rei e uma rainha. Amo porque o amor me leva a todos os planetas sem sair do lugar. Amo pelas minhas carências, toxinas e embriaguez. Amo porque o amor é capaz de me distrair e considerando esse quesito faz a vida acontecer em um único capítulo interminável, de cor azul, com todo o restante dos dias, sendo feriado. O amor é ininterrupto. Não tem pausa. Não possui outra versão e nem tagarela pedindo bis. É contínuo, sem pontuação, acentuação e sem outras frescuras. Amo porque o amor não desistiu de mim.


Precisa de mais?


Ita Portugal

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

"Quero apenas o tempo de perceber em teus olhos que um dia fui resposta." _________________________ (Dan Cezar)

Antes, já tinha deitado minha voz no silêncio.
 Agora, calo as mãos.
 Palavras valem a pena se nos
 esperam encantamentos.
Mia Couto.
Hoje eu acordei pensando em você. Grande novidade. Mas acordei pensando em algo diferente do mesmo clichê de sempre, entre aquela grande questão sobre te ter ou te perder. Hoje eu acordei pensando nos teus sinais. Me deparei com a constatação de que, de você, nada tenho. São só sinais de difícil compreensão ou sinais que eu tenho inventado. Se o certo for a primeira opção, bem, não me faço de rogada. Mostro cada vez mais o quanto eu quero ser alguém pra ti. E me dedico a estudar teus sopros, teus anseios e tuas respostas. Me coloco num jogo de menina ansiosa, criança em véspera de natal na tentativa de poder enxergar em cada palavra sua um pedido de companhia. Porém, Meu Bem… Se a opção certa for a minha construção idealizada de sinais para alimentar esse drama, admito minha encruzilhada. O meu lado pessimista diz que essa é a verdadeira face da história. E eu não me surpreenderia em me enganar mais uma vez com sinais inexistentes. O curioso é que eu não me importo. Sempre fui auto-suficiente. Romances e ficções de cabeceira me bastaram. Mas, pela primeira vez em muito tempo, eu estou decidida a abrir mão de ser tão minha. E, se for de acordo, faço disso o melhor motivo pra ser tão sua.


Daniel Bovolento- Adaptado

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

"Derrubei todas as minhas paredes pra dar lugar a mais janelas." ________________________________ Fernanda Gaona

Meu amor, com os lábios
vou medir as tuas distâncias.

Fernando Coelho
"Sou tão humana, Meu Deus! E no processo de lapidação, joguei fora algumas das minhas arestas, que talvez fossem o que eu tinha de mais valioso. Sou apenas alguém que poetiza, que oscila, que anseia, que sofre, que ama, que acorda de madrugada pra pensar e tem inveja dos que dormem tão profundamente àquela hora. Não tenho nada que outra pessoa não possa desenvolver também. Não há limite que eu não possa superar. E se você me encontrar por aí, ou por aqui dizendo coisas e mais coisas, duvide de mim também. Sou apenas mais uma na multidão que, enquanto caminha, vai deixando pra trás certezas, adereços, endereços..."



Marla de Queiroz

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Eu acredito nos encontros! As borboletas sempre voltam... Eu acredito em conspiração! Os ventos sempre sopram... Eu acredito em Deus! O céu sempre me sorriu... ________________________ Saulo Fernandes.

Um dia me disseram que
 "quanto mais alto o voo, maior a queda".
 Eu digo que quanto mais alto é o voo,
 mais bela é a vista...enxergue do alto,
 além do horizonte.
Miguel Costa.
É tanto cedo. Manhã liberta e um sobressalto. Um turbilhão de sentidos e um. Estou sóbria e carente. O amor em pedaços espalhado no rigor da certeza. E o teu sorriso. Cortante e furioso. Gentil e cúmplice. Íntimo. Um carinho, um cansaço que perdi. Tenho a solidez dos arrepios e a tua mão na minha. Um silêncio e só uma tradução: você guarda estes meus olhos em tuas lembranças, eu guardo os teus em minha vida.

Dan Cezar- Adaptado

O meu choro que nasce na Bahia, vem de gotas de areia que machucam o mar doce do meu amor, perdido de luar a beira-mar. __________________________ Fernando Coelho

Estar com o coração em paz,
ainda que sofrido,
 é um sinal de que tomamos
 a decisão certa.


Pe. Fábio de Melo.
Menino mais lindo do mundo esse Mar. Sou louca por ele. Menino feito de água, que pede mergulho, abraço, 'se achegue", saudade. Ser absurdamente louca por alguém ou alguma coisa envolve mais do que gostares e amares conhecidos, são delírios de profundidades não acessíveis à mente do agora, é um passeio inconsciente, um vai-e-vem que nunca se revela, mais que existe em partículas, que viram ondas, que se movem na velocidade do que só se alcança com a alma, e nela mergulho, pra chegar nos teus braços de mar.

Be Lins

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Uns amam, uns dizem que amam, uns pensam que amam e outros só querem ser amados. _______________________________ Géss Ferreira

Ela, indiscutivelmente, quer duas almas. 
E pessoas com almas não se fazem em uma noite.
Às vezes, leia-se quase todo dia, demoro para dormir. Penso demais, e isso, com certeza posterga o sono. Faço redemoinho dos sentimentos que me habitam; descarto os desnecessários e conservo os que ainda trarão beleza. E quando todos já estão a dormir, fico vendo filmes e séries, como se eu nem precisasse trabalhar amanhã; me perco em livros, como se a realidade não fosse tão linda como os livros que leio; ensaio diálogos e futuros hipotéticos, como se eu pudesse prever o que há por vir. Essa fração de tempo, entre o pensar e o dormir, é como se fosse um balanço harmônico do dia, do mês ou, em raras exceções, do ano. Nesse oceano que a gente mergulha antes de dormir, cativo de solidão e melancolias, boas e ruins, a gente distribui energia para o que almeja, reorganiza as prioridades dos amores e dos sonhos que virão e, como se fosse justo, deixa que a responsabilidade do peso que a gente carrega seja levado pelo inexplicável poder que uma noite de sono tem. Há tempos sou esse misto de solidão e necessidade de companhia. Confesso que há dias em que agradeço aos céus por estar sozinha, brincando com as loucuras do meu mundo interno, cozinhando o que me vem à mente, ouvindo as músicas que me tocam o coração, mas há dias em que abro a janela somente para ouvir os carros passarem, ou me entrego a uma simples televisão ligada, só para me sentir menos sozinha. Esse misto de solidão, que tanto gosto, com essa saudade de companhia, que tanto preciso, é uma linda história de anos. Passo dias escrevendo em total solidão, vasculhando o que há aqui dentro, tentando descobrir as tristezas e alegrias existentes, minhas e dos outros, e bebendo vinho – mesmo eu não bebendo vinho frequentemente, mas achei que daria um tom de elegância ao texto. Para mim esse tempo é tão precioso, tão único, tão meu. É como se minha alma e meu corpo estivessem juntos, sincronizados. Todas minhas companhias, ou a grande maioria delas, sempre souberam respeitar o meu espaço. Souberam conter um pouco da sua carência, ou da sua simples vontade de estar junto, só para me deixar voar nas palavras que, sem dúvidas, são as minhas melhores amigas – elas nunca me traem. Fico feliz e totalmente entregue quando elas, as minhas companhias, sabem respeitar a tranquilidade solitária que meu coração precisa. Um calor feito a dois é uma saudade. Fato incontestável. Não somente pelo esquentar dos pés, mas, porque quando se divide as cobertas, não se divide somente as cobertas, ou o calor que há na gente, mas se divide os sonhos, os anseios, as preocupações, o mundo interno que há dentro de nós. E eu estaria mentindo caso dissesse que não sinto saudade de admirar a pessoa amada ao meu lado dormindo. Mas na maioria das vezes não há milagres para ter alguém ao nosso lado, tão rapidamente, que não seja somente um momento de suprir carência. E, sinceramente, não faço questão de mais um vazio, tenho tantos aqui dentro. Com o contar dos dias, que passam sem nos pedir licença, a gente aprende que quanto mais a alma recebe silencio, mais ela está preparada para receber um amor. Saber esperar, sem preencher um vazio com outro, é uma maturidade linda. É conseguir preencher a saudade de um amor com outros amores; sejam eles livros, músicas ou o abraço da própria companhia. Hoje durmo sozinha, porque assim escolhi, mesmo volta e meia podendo escolher diferente. Acontece que a minha cama é grande, mas, infelizmente, ela é muito seletista e não aceita somente dois corpos. Ela, indiscutivelmente, quer duas almas. E pessoas com almas não se fazem em uma noite.

Frederico Elbone- Adaptado

domingo, 17 de janeiro de 2016

Francês. Só podia. Paris. Óbvio. 1867. Poeta. Boêmio. Dandy. Termo que eu adoro FLÂNEUR. Sepultado no cemitério do Montparnasse. Paris. Marie Daubrun, sua musa. Fim trágico. Deixa pra lá. "A alegria de precipitar-se no abismo." Ainda são informações superficiais. Vou pro banho. Repetir os rituais. Perfume, brincos, velas, luz na janela, cabelos numa trança bonita, manta, aquele canto macio, só meu, e seu, e de BAUDELAIRE.


"O belo é sempre raro."
Charles Baudelaire
Não sei porque estou resistindo tanto para começar a ler Baudelaire. Penso que estou evitando o mesmo erro que cometi com você. Excesso de expectativa. Descobri Charles na rede, óbvio que sabia da existência dele, mas nada consistente, que justificasse uma busca, até que meus olhos cruzaram com os dele. Foi paixão à primeira vista. Ele fala coisas, fala no presente, porque se trata de um ser imortal, coisas do mundo carnal, acresce à elas o caráter do espiritual, necessário, salvador da pátria para que a vida não se repita maçante e igual. Mas eu resisto. Quero ler nele as coisas que eu penso, e sob o risco de não ser, eu me retenho. O que não fiz com você. Com você fui na veia. Teci e morri na minha própria teia. Queria que você fosse como eu queria, fui te lendo e interpretando, tirando conclusões, não sem sua devida e imensa colaboração, até que não houve jeito, e deu no que deu. Engraçado que pra ler Nietzsche, por exemplo, não me fiz de rogada. O ser deprimido que precisou inventar um deus pra dar cabo das suas carências, um ser deprimido por morrer de amor pela maravilhosa e avant garde LOU SALOMÉ, mulher divertida, apaixonada pela vida, o vampiro alemão, que se projetava nas palavras feito um mimado, agarrado nas asas daquela que não o quis, fez sua obra amarga, saldo da sempre ela, a frustração amorosa com fins doentios, tão próprio dos artista, só eles, que conseguem expor suas amarguras em bem elaboradas escrituras. (Desculpa Nietzsche, mas não sou uma estudiosa, e esse é só um resumo de interpretação, direito que me cabe, e perdão às opiniões contrárias, é só uma visão bizarra dessa que vos fala). O mesmo ocorreu com Schopenhauer, outro alemão dono das dores do mundo, acreditava no amor, mas o mantinha fora das linhas da felicidade, coisa mais danada, como se não fossem conjugáveis na mesma frase, e eu o li sem pestanejar. Péssima influência. Adorável identificação. (mais um pedido de perdão) Devorei Espinoza. Baruch, o holandês. Quanta frustração naquele ser que sofria e sofria, e todo o lamento por não ser aceito por suas diferentes posições, que no fundo descabiam tanto quanto. Marginal sem ser. Contrário sem ser. Ardente negando-se a ser. Ciumento. Orgulhoso. Teimoso. Repousa seu busto no solo metafórico que o baniu. Como todos, nasceu, viveu e morreu. E o gato segue com sete vidas. Ninguém entendeu... Olhando os livros na pequena biblioteca, esses citados e alguns outros, tantos, queridos e amorosamente lidos, me pergunto porque busquei influências tão frias, embora o mundo da filosofia seja bem assim mesmo, consistente de autores que concluem a vida de forma esquisita, quase trágica, doída, pouco atrevida, são muitos se comparados aos filósofos seres otimistas, quase uma contradição, poucos são os devotos do prazer como signo de salvação. Conclusão miúda minha. Conceda-me essa licença. Talvez seja assim mesmo, porque é fato que a vida é dura. Pra cada tipo de criatura, uma dor que se anuncia, sem direito à renúncia, haveremos de pisar as brasas, e no final do dia correr pra casa, onde faremos um ninho, e dormiremos encolhidos no trauma de uma separação essencial. Somos seres essencialmente sozinhos. A agonia é latejante. É quase ultrajante o tanto de dor. Até no amor. Nenhum tipo de dor deveria ser permitida. Nenhum. Pra ninguém. Tenho tanta pena do ser humano. Do meu ser humano. Do teu. Do mundo todo. Todo mundo tão tolo. Aff. Cá estou eu. Perdão se me estendi em pouca ou nenhuma razão. Só fui dando vazão à meus pensamentos miúdos, talvez ridículos, até absurdos, toda essa volta pra me perguntar, 

_ vai começar a ler ou não vai começar a ler Diários Íntimos de Charles Baudelaire?


Be Lins

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Resta-me saber se a saudade cabe numa canção que havíamos sonhado juntos... _______________________ Adilson Shiva

 A vida poderia ser só isso, 
ela disse enquanto me cheirava o pescoço.
 Sim... 
Respondi, rindo da sua inocência.

João Nunes
O ruim de escrever é essa mania que a gente tem de querer achar palavra pra sentimento. Saudade, por exemplo, você pode usar o Aurélio inteiro, não há nadinha no mundo que descreva o que ela faz no peito. Então fico aqui, quieta, revirando os avessos, transtornada com essa minha incapacidade de transcrever o que não entendo direito. Sentir sem saber explicar é reboliço dos grandes! Mas não me resta muita coisa que não seja rabiscar mil rascunhos, é o que tenho. É o jeito!

- Rachel Carvalho

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Amor: esta loucura que quer limitar o que é infinito... ___________________ Mel

Saudades...
Solto e íntimo, e uma pressa de engolir a tua saudade. Penso tão longe, não, penso tão perto e esfuziante. Por cima dos sonhos os enganos de um dia. Não cabem mais. Não se confundem mais. O sol me indica tua sombra. A lua a deita, cúmplice e tanta. Não tenho mais os cuidados e os medos. Preciso sorrir o teu amor no meu instante. E na minha vida. 

Dan Cezar

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

" E quando eu pensei haver acabado, você me provou que eu tinha errado, que o fim só existe se inventado, que nenhuma distância é definitiva (...)" _________________________________ Renata Aragão

Matando Saudades...
Rafaela / jan 2016
e que não se vive de expectativa,que o voo exige os pés plantados, que os minutos não passam atropelados,que o próprio sonho se impõe medidas; e que o encontro se segue às despedidas,que todas as voltas também são idas, que o mistério se esconde às claras,que daquilo que parte ficam aparas; e que nada que se sente tem sentido,que o medo é soluço contido, que o choro é poesia vazada,que a loucura é razão disfarçada; e que o amor é sempre madrugada,que os beijos são estrelas cadentes, que nos olhos acontecem poentes,que os eclipses vêm dos abraços; e que as letras surgem dos traços,que o fruto está na semente, que o futuro aguarda o presente,que tudo é quietude somente...


Renata Aragão

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

HIPÉRBOLES DE VOLÚPIA E TERNURA...

"O Amor é tão  óbvio"

Solange Maia
E se, de repente, cada alegria nova desfaz um nó? E se a gente nem acreditava mais que esses nós podiam ser desfeitos? E se, de repente, nossas convicções começam parecer endurecidas demais? E se a gente sentir uma vontade imensa de rever as ideias, de olhar por outro ângulo, de nos dar uma chance, de ignorar os julgamentos e de ser feliz, estupidamente feliz ? E se, de repente, nos dermos conta que bem no meio da nossa vida tranquila e sossegada, surgiu aquele alguém que muda tudo que a gente já foi ? E se essa pessoa vira imediatamente uma música em loop infinito na cabeça da gente? E se a gente não quiser nem um pouquinho dar stop nessa música ? E se, de repente, todas as coisas prontas que a gente sabia descobrem-se na verdade apenas começadas ?E se o que antes era muito vira agora muito pouco ? E se, de repente, um único beijo dura duas horas, e a gente nem se lembrava que isso existia ? E se já não sabemos onde fica a fronteira que divide a paixão e o amor, porque tudo anda deliciosamente misturado ? E se, de repente, um olhar entra dentro da gente e nos faz sentir absurdamente amados, desejados e cuidados ? E se a gente nem quiser mais se proteger? E se, de repente, a gente descobre que existe sim alguém capaz de perceber que mora um poema inteiro dentro da nossa boca ? E se agora a gente sabe que saudade é uma coisa muito, muito sem graça ? E se, de repente, a cama branca já não combina mais com esse desejo tão gostoso, onde o coração pulsa em sintonia com a pele, e a gente desenha hipérboles de ternura nas costas voluptuosas do outro ? E se a gente começa a querer enfeitar a vida do lado de fora, só pra combinar mais com o lado de dentro ?

(Solange Maia)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

"(...) Não quero rimar as palavras, quero algum inverso desse inverno que se estende por verões que não se espraiam, mas... essas vontades de um voo impossível, de um flerte entre um ser feito de sol, e uma criatura miúda, que corre e molha seus pés em poças de uma água já caída, rimar parece a única saída, de me salvar. (...) _____________________________ Be Lins

Qual será a rua daquela canção que 
nos escreve mas não nos define?

Be Lins
Essa alternância de HIATOS. (hiato: intervalo, pausa, desconexão, distância, com ou sem intenção, tudo intercalado.) Presença, ausência, paciência, nada se encaixa dentro destes nossos ensaios de viver em tempos descompassados. E são tantos os tempos, adventos, contratempos, novos ventos, eu não aguento mais esse tormento, de onde me surge um novo argumento: _ E se fossem outros os convites...Por exemplo:Hoje você poderia ser Dante, e eu, a sua Beatriz. Não aqueles dois deprimidos da ponte, mas dois seres que fogem para outros jardins. Podemos ser até crianças, Romeu e Julieta, crianças em idade de amar...Podemos brincar de esconde-esconde, mas não entre céus e infernos, chega desse frio, chega desse inverno, deixemos o purgatório pra depois, vamos chutar as culpas, as cobranças, as lamúrias, vamos fazer delas pedras de um castelo moderno, sem breu, chega de tanto cinza, e de tanta lama, e de tanto drama, vamos trocar temporais por litorais, vamos parar de ver vultos e vamos pular uns muros, correr na noite, destrancar o quarto, pular da cama, vamos calar o mundo e torna-lo só nosso, se o pesadelo é possível, tudo é crível, podemos viver uma noite incrível, sem velas sem arandelas sem sentinelas a nos vigiar, podemos ser duas almas, mas também dois corpos, sangue nas veias, pulsações, excitações, outros toques, e muitos beijos, podemos mais do que supomos, embora sejamos dois bobos, colecionadores de hiatos, dois chatos, dois amantes que abrem mão da volúpia, pra ficar olhando as voltas que a cornucópia dá, ou deixa de dar, se eu sou Beatriz, você é meu Dante, mas podemos ser outros tantos, podemos usar o nome que melhor nos aprouver, Ana, Maria, Fausto, Miguel, que importância tem o céu e o Infinito se todo segredo está talhado em granito, somos guardiões, mas também somos corações, nunca teremos direito se sempre formos iguais, e é aqui que essa outra que sou, te convida para fugir destas fúnebres catedrais. Vamos ser somente gente. Gente de carne e osso, tomados por uma paixão descabida, fechar as portas do ego, desse super ego infernal, e mergulhar na alma, na calma, na descoberta de palavras novas, para nós, tão pouco usais,vamos falar de espumas, bolhas de sabão, vamos falar de almofadas, da delicia de não fazer nada, vamos falar de comidas, frívolas delicias, frutas da estação, vamos entrar na contramão daquela avenida, vamos deixar definida nenhuma condição, a não ser a que nos garanta uma nova sensação uma sensação de conforto, intimidade, deletar a saudade do mapa, assinar nossos nomes na ata que nos desata dos nós marítimos, e se for para afundar, só ser for no mais alto do mar, pra mergulhar com um folego sem fim, sinta meu peito, assim, com todo o ar do mundo dentro de mim, assim , assim, tudo verde, tudo azul, turquesa, esmeraldas, veja como são lindas as criaturas, vamos desenhar figuras na areia, deitar nosso corpos nus numa esteira, vamos abrir mão de eiras e beiras, vamos falar besteiras até o sol se pôr, e então vamos correr até voar, vamos nos abraçar e sentir a vida, vamos botar a vida no meio, botar a vida bem dentro da gente, entre a gente, vamos ao menos sonhar com isso, e se preferir, no lugar de convite, salve: compromisso, _ Pense como seria experimentar...

Be Lins

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Quando tudo for absurdo. Fique surdo para o desnecessário. Cego para as impossibilidades e mudo para as murmurações. Deixe o tempo falar por si. Foi assim que amadureci. __________________________ Noemi Prates

"De todos as cores, vermelho.
De todas as flores, gérbera.
Quando tudo era dor, ela aprendeu a ser flor!
Ora toda noite antes de dormir.
E nunca esquece de agradecer pelas bonitezas do dia.
Agradece também pelo que é feio, mas engrandece.
Acredita que o sofrimento enobrece, mas nem sempre, porque prefere o caminho mais fácil.
Põe o pé direito pra fora da cama primeiro. (nem sempre)
Herdou algumas supertições, além do riso fácil e do olhar ágil.
Está sempre apressada e atrasada.
Fala mais com as mãos, que com a boca.
Pensa mais rápido que fala e quase não fala o que pensa.
Aprendeu a ser comedida.
Tropeçou muitas vezes no caminho.
Já se apaixonou pra sempre.
Já morreu de amor.


Não acredita mais em príncipe encantado, mas torce pra que lhe provem o contrário todo-santo-dia."


D.A

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

"Essa ferida, meu bem, às vezes não sara nunca; às vezes sara amanhã." _________________________________ "O Amor Bate na Aorta" Carlos D. Andrade

Contrário ao que o mundo diz,
 há um outro inventado, 
dentro da alma que navega
 com bons ventos, 
desfazendo as turbulências e 
anunciando que a vida é nossa.
Não, eu não sou uma mulher bonita, não sou a mais simpática e bem humorada. Jurava que não prenderia teu olhar, mas ao contrário: fui presa. Surpreendeu-me na insignificância do momento, coloriu-me numa moldura de delicadezas, deu-me as mãos dentro da minha escuridão. Convidou-me para fora, beijou-me delicadamente cada cicatriz. Não me perguntou sobre as feridas: trouxe-me a cura.
Cáh Morandi