quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

"(...) E o verso, amanhecido, descreveu mais um novo amanhã. (Conheço versos a quem o presente nunca é bastante e cujo horizonte é sempre uma ponte a conduzir-lhes ao horizonte do além)....." ___________________________________ Nara Rúbia Ribeiro

"...devemos desistir da vida que planejamos
e aceitar aquela que está esperando por nós".

__ Joseph Campbell
Buscadora de si, pisou na areia com pés firmes abrindo mão dos falsos atalhos que escolhera. Navegou por toda sua vida de antes com velas içadas a ser levada pelo sopro de outras vozes, ideias tantas e conselhos muitos. E assim, chegando onde não queria, alcançou lugar nenhum. Hoje era o primeiro dia de um ano inteiro a lhe revelar o novo e, entre todos os que lá estavam a contemplar céu colorido e beber champanhe, esperava ela sua primeira promessa do porvir vinda de dentro. Queria traduzir-se amanhã e depois em muitas versões de si mesma, a desmentir o velho triste e a colher próspero interior a florescer madurez. Cansada de levantar muralhas a cobrir o infinito das bênçãos procuradas ou, de querer saber qual lado da moeda se irá mostrar, abandonou seus pedaços, seus cacos e suas crenças: pular sete ondas, acender sete velas, colher sete rosas, dar três pulinhos, notas no sapato, lençóis limpos, comer lentilhas, romã, uvas, folhas de louro; não mais entregaria ao destino a boa sorte. Agora, era ela a boa sorte a não mais esperar o mar lhe trazer conchas bonitas ou pedras opacas; resolveu decorar ela mesma de formas novas e cores outras a sua vida.


Remaria contra a maré, mas com o vento a seu favor.

Guilherme Antunes

Bem- vindo 2016

domingo, 27 de dezembro de 2015

"E, porque tudo pode conspirar a nosso favor, bem-aventurado seja o próximo ano." _________________________ Carlos Eduardo Leal

Um ano novo abençoado a todos!
Passou a entender o que falam as janelas quando se fecham com o vento e as esquinas quando se dobram. Passou a entender o tom grave dos trovões e a eternidade daquele senhor a vender pipocas frente ao parque. Passou a entender sinais fechados e aquele livro aberto justamente na página vinte e seis. Passou a entender repetições de filmes, carências, tédios e rinite alérgica. Passou a entender a demora do garçom e a prontidão do entregador. Passou a entender a linguagem das flores, das coincidências e dos erros de sua mãe. Passou a entender o que dizia o velho quadro no consultório, o cacoete do farmacêutico, a lágrima que hoje se convidou. Passou a entender a escuridão em torno da vela e a solidão do seu pai. Passou a entender o troco esquecido no balcão, o trocado pedido no farol, a conversa no banco de trás. Passou a entender a farpa no pé, no peito, memórias e pães embolorados e as simpatias de sua avó. Passou a entender as casas cor de ocre no centro, as igrejas sempre vazias, o comércio sempre cheio, o congestionamento sempre às sextas-feiras e as tristezas sempre aos domingos. Passou a entender desculpas e as urgências de um beija-flor, um cigarro aceso no ponto de ônibus, o cisco no olho e as entregas do carteiro ao seu vizinho. Passou a entender atrasos, acasos, desvantagens. Perdas, ganhos e fragilidades. Passou a entender o que diz o grilo, a cigarra e os medos. Passou a entender o que faz o sol na fresta da sua porta, o que acontece ao chamar o nome do seu cachorro e o café que esfriou entre as discussões. Passou a entender de estômago e de estresse. Passou a entender o olhar atento dos bebês e dos seguranças de loja. Passou a entender o que não entendem os seus amigos. Passou a entender as nuvens só para amar com a imaginação. Passou a entender a rapidez de uma chuva de verão e a inundação no corpo de quem perdeu alguém. Passou a entender o que nos causam as distâncias, as saudades, as verdades, o perdão e o amor. Passou a entender o som alto na madrugada e o que acontece quando a gente não diz o que deve dizer. Passou a entender o que é dormir, o que é sonhar e quais os dias de feira na sua rua. A vida entre seus silêncios e barulhos começou a conversar com ela e explicar-lhe tudo. E tudo que havia era uma coisa só. E como poderia ela explicar essa coisa só, caso lhe perguntassem? 

"Poesia", responderia.  

G. Antunes- Adaptado

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Oxalá pudéssemos meter o espírito de natal em jarros e abrir um jarro em cada mês do ano. ____________________________ Harlan Miller

Feliz Natal!
"Eu estou pensando em você hoje porque é Natal, e eu lhe desejo felicidade. E amanhã, porque será o dia seguinte ao Natal, eu ainda lhe desejarei felicidade. Eu posso não ser capaz de lhe falar sobre isto diariamente, porque eu posso estar ausente, ou nós podemos estar muito ocupados. Mas isso não faz diferença... Meus pensamentos e meus desejos estarão com você da mesma forma. Qualquer alegria ou sucesso que você tenha, me fará feliz, iluminará por todo ano. Eu desejo à você o Espírito do Natal."





Van Dike

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

''Sua prece era um misto de medo e expectativa. Um emaranhado de palavras mal colocadas e desconexas. Aquela era a oração mais confusa de sua vida e, mesmo assim, Deus compreendeu.'' ________________________ Luciana Leitão

"Abençoadas sejam as dádivas
 que vêm nos lembrar, com alívio,
 que há lugares de descanso
 para os nossos cansaços."

Ana Jacomo
Frágil e forte. Dependente ou não. A cada situação renasço um pouco.O tempo lapida a alma... As perdas nos moldam os valores... Sou uma flor, um gigante.Às vezes, uma menina ...E muitas vezes sou bem mulher. Desafio a indiferença do mundo e choro diante de um gesto de amor. Vivo meu dia-a-dia tentando fazer tudo ser mais doce, mais leve, carrego sempre no rosto um sorriso... Das pequenas coisas ás grandes todas me chamam a atenção, e agradeço por cada uma. Vejo e sinto ternura no amor, magia na intimidade, serenidade na rotina, Deus em cada amanhecer... Meu coração pulsa amor.... Meu corpo pulsa desejos... desejo de ser amada... querida... desejos de amar, e querer... de viver fantasias... e misturar com a realidade... De alcançar a minha estrela mais alta, e me identificar plena em mim...

D.A.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

"Amanhã fico triste, Amanhã. Hoje não. Hoje fico alegre. E todos os dias, por mais amargos que sejam, Eu digo: Amanhã fico triste, Hoje não. Para Hoje e todos os outros dias!!" _______________________________________ Encontrado na parede do dormitório de crianças do campo de extermínio nazista de Auschwitz.


Silencie seu coração e 
ouça o que ele tem a lhe dizer.

"Quando chove – entre nós – é sinal de um milagre que se avizinha, diz-se; e hoje choveu bastante. Cá dentro reverbera o murmúrio da chuva; seus traços oblíquos e líquidos, o seu falar intermitente. É pois o fio da sua húmida caligrafia, o redesenhar do destino a cada badalada do seu sino. A metamorfose, o renovar, o vivificar; é tudo quanto se espera depois da chuva preencher o chão com a sua escrita. A chuva representa em muito a esperança, seja de uma boa colheita ou de uma sementeira promissora. As pessoas campestres – como eu – gostam da chuva, para além de atenuar o calor que por aqui se faz e humedecer a relva para os pastos, a chuva é por si só um sinal, um símbolo de fertilidade e de fartura. Um sentimento de alívio ressoa sempre que chove: haverá, de certeza, água para um, dois ou três dias, e os banhos não mais serão austeros, e as flores envoltas ao quintal libertar-se-ão da esquálida magreza imposta pelos fulminantes raios do sol. Um sentimento de alívio ressoa sempre que chove. A chuva só deixa de ser boa quando inunda tudo em volta, quando chove torrencialmente ou quando faz transbordar os rios, deslizando a terra ou quando arrasa os vales, derruba as pontes e viadutos. Aí sim, causa tristeza e torna-se um bem desnecessário! Aliás, diz o ditado que tudo em excesso faz mal. Há vezes que ocorre cruzarmo-nos com um parente ou um amigo que o tempo há tanto nos separara e dizemos convictos “hoje vai chover”, porém não é a chuva – fenómeno físico ou natural – que esperamos mas queremos apenas enfatizar o encontro, o seu lado “miraculoso”. Conota-se com isso a falta da chuva, a saudade, a secura que é isso, e traduzimos, portanto, na falta que esse parente ou amigo nos faz. Hoje choveu muito, eu dizia, e um cinzento esbateu-se por dentro, tão baço quanto era o próprio dia. Quanto era, digo, porque, súbito, o telefone tocou: – Alô, quem fala? E uma lâmpada acendeu a vela memorial de tempos idos, tempo antigo, em que o amor tinha outro sabor. Fosforesceu o dia em mim, e de repente uma vontade de me molhar, de dançar à chuva. A chuva fez tanto sentido e, enquanto pingava, era como se o fizesse no tecto do meu coração. Uma pessoa que eu tanto quero bem sem saber que a mim ela quisesse também, ligou-me e isso era tudo o que faltava para o meu dia explodir de beleza, nesses dias que só a nostalgia e velhas lembranças dão sentido ao meu viver.


Álvaro Taruma, escritor moçambicano

sábado, 12 de dezembro de 2015

Eu não sei se tem alguma coisa que alivia a gente mais do que quando chega alguém perto de nós naqueles momentos difíceis. Pega nossa mão e diz: “Eu estou aqui!” _______________________ Padre Fábio de Melo



“Solidários, seremos união.
Separados uns dos outros seremos pontos de vista.
 Juntos, alcançaremos a realização de nossos propósitos.”

Bezerra de Menezes

“Estou vivendo a mística dos retornos. Adentrei os labirintos do tempo para reacender minhas saudades. O motivo é um só: ando mais necessitado de passado do que de futuro. Enquanto o futuro imagino, o passado sabe quem eu sou. Ele é o guardião de minhas memórias. Por isso eu retorno. Para recobrar as lembranças que me confessam, para reaprender as simetrias de minha alma, para reatar o cordão de minhas origens e voltar a pisar as areias brancas da cidade que me viu nascer. Volto para reencontrar a cultura do meu povo, reassumindo com ele o compromisso de nunca me esquecer os construtores deste mosaico que me tornei. Porque depois de muito andar, depois de vasculhar estradas e destinos tantos, eu descobri que o melhor lugar do mundo sou eu mesmo. Nada será novo, mas as regras da vida continuam as mesmas! Se quero um mundo melhor terei de cultivá-lo primeiramente em mim. Preciso me livrar das inocências que me semeiam ilusões. A solidariedade que reconheço ser necessária nos dias de hoje depende de mim. Se não estendo a mão na direção do que está ao meu lado, não faz sentido orar para que termine a fome no mundo. É no estreito dos meus caminhos que posso transformar o universo. Se considero a verdade como um valor irrenunciável, preciso quebrar o elo da mentira que sustento. É na mentalidade que a semente da liberdade interior encontra ventre, lugar para crescer. E nisto consiste a beleza desse instante: o tempo está passando, mas o encanto que você pode recolher será o suficiente para esperar até amanhã, quando o pássaro encantado, quando você menos imaginar, voltar a pousar na sua janela. Ando também pensando no poder das palavras. Há palavras que bendizem, outras que maldizem. Descubro cada vez mais que JESUS era especialista em palavras benditas. Quero ser também. Além de bendizer com a palavra, ELE também era capaz de fazer esquecer a palavra que amaldiçoou. Evangelizar consiste em fazer o outro esquecer o que nele não presta, e que a palavra maldita insiste em lembrar. Quero viver para fazer esquecer! Queira também! Nem sempre eu consigo, mas eu não desisto. Não desista também. Há mais beleza em construir do que em destruir! Fico pensando que evangelizar talvez seja isso: descobrir jardins em lugares que consideramos impróprios. Os jardineiros sabem disso. Amam as flores e por isso cuidam de cada detalhe, porque sabem que não há amor fora da experiência do cuidado. A cada dia, o jardineiro perdoa as suas roseiras. Sabe identificar que a ausência de flores não significa a morte absoluta, mas o repouso do preparo. Quem não souber viver o silêncio da preparação não terá o que florir depois... Precisamos aprender isso. Olhar para aquele que nos magoou e descobrir que as roseiras não dão flores fora do tempo nem tampouco fora do cultivo. Se não há flores, talvez seja porque ainda não tenha chegado a hora de florir. Cada roseira tem seu estatuto, suas regras... Se não há flores, talvez seja porque até então ninguém tenha dado a atenção necessária para o cultivo daquela roseira. A vida requer cuidado. Os amores também. Flores e espinhos são belezas que se dão juntas. Não queira uma só. Elas não sabem viver sozinhas... Quem quiser levar a rosa para sua vida, terá de saber que com ela vão inúmeros espinhos. Mas não se preocupe. A beleza da rosa vale o incómodo dos espinhos... ou não.

Padre Fábio de Melo

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Mas, ainda que os desencontros se sobressaíssem diante de toda aquela história, ainda que não tivéssemos estrutura física, psicológica e emocional para lidarmos com o turbilhão que foi o nosso durante, ainda assim, soubemos resgatar a boniteza do que ainda significávamos um para o outro. Da centelha, tomamos impulso. E ali encontramos uma nova possibilidade, sem resistências. Era um estar gratuito. Nos queríamos mais que todos os quereres de antes. E isso bastava. ___________________________ Bibiana Benites

Assim que deixei a vida tornar pequenos
acontecimentos  algo singularmente novo,
 passei a ter uma harmonia mais inteira comigo
.

B. Benites
Talvez porque ela seja independente, porque toma conta do recado sem ter que pedir a ajuda a ninguém. Talvez tenha grandes sonhos, suportados por um coração que por vezes é maior do que o corpo que o carrega. Talvez alguns a vejam como fria e distante, mas ela chama-lhe sanidade. Talvez a vejam sempre com a cabeça na lua e focada nos seus objetivos que, não se dá conta quando o amor bate à porta. Talvez ela esteja tão habituada a ter controle de tudo o que está ao seu redor, que a simples ideia de se entregar um bocado a quem quer seja lhe provoque tremores. Talvez debaixo de toda a confiança e sucesso que demonstra, ela seja bastante insegura. Não é perceptível à primeira vista, nem será para todos mas para os que conseguem chegar ao pé dela, entendem que precisa de uma quantidade significativa de tempo sozinha. Claro que tem família e amigos próximos com quem gosta de partilhar o seu tempo, não é uma pária ou anti-social, mas busca incessantemente o seu tempo de reflexão isolada, para se centrar e sentir inteira. Não é do tipo de “cair de amores” por qualquer um, mas isso não a impede de tentar de procurar esse momento único, que lhe pode elevar o corpo e a mente a um estado que ela não compreende, que só lhe tráz confusão e não sabe lidar quando lhe querem dar amor. De qualquer forma não é uma causa perdida, só necessita de uma abordagem mais sensitiva, para aquele coração enjaulado. Então como é que alguém se pode relacionar assim? Pode ser pelo lado Paciente, não é fácil para ela mergulhar de cabeça em algo que se possa sequer parecer com uma relação séria. Se ela passa tempo com ele, é porque já tirou bastante tempo para avaliar a situação e uma grande dose de coragem para aceitar os seus primeiros passos. Chegará o dia em que ela vai pedir para ir mais devagar, depois de ter passado uma noite sem pregar olho, a auto-criticar pela sua inabilidade de ter carregado nos travões mais cedo, avaliar o laços que já foram criados e incitar-se para saltar rapidamente da relação antes que seja tarde... Pode ser pela abertura à Conversa, porque como passa tanto tempo com as suas ideias, assume que ninguém a compreende e que as suas opiniões são muito intensas para os outros. Raramente partilha o que lhe vai na cabeça, para não ser considerada dramática, filosófica ou simplesmente esquisita. Mas no fundo valoriza conversas profundas, partilha de ideias e aprendizagem e não sabe o quanto isso a torna BONITA para quem a saiba ouvir balbuciar sem parar sobre um tema que a apaixonou. Pode ser pelo Apoio. Parte da luta interior desta mulher é entre o compromisso que tem com os seus sonhos e objectivos e deixar felizes aqueles por quem tem carinho. Não é algo que seja intencional, ela só é determinada no que procura e sentir-se culpada por não conseguir passar tempo com ele ou não conseguir realizar algum tipo de meta, só lhe prova a incapacidade de estabelecer laços como os comuns dos mortais. Assim sendo apoiem-na, encorajem-na a prosseguir os seus objectivos, que ela vai devolver na mesma medida a quem a apoia, com um coração tão apaixonado, quanto lutador! Não sejam 2 metades de um todo, mas dois todos ainda maiores. Ela pode ser independente e ter dificuldade em depender de outros embora confie neles, mas não esperem depender da presença dela, tanto quanto ela espera depender de alguém para viver. Só funcionará se se relacionar com alguém completo, que demonstre amor, aceite e respeite a sua independência como uma característica e não defeito. Passar tempo sozinhos e afastados, é tão importante nesta relação, como a fazer sentir única e amada quando estão juntos e quanto estão juntos, é estar JUNTOS mesmo! Se ela tiver amor para dar (e tem mesmo muito), pode ser um bocado estranha a demonstra-lo ao inicio, mas só precisará de tempo, tempo para perceber as coisas por ela mesmo, para entender como funcionam com outro e acima de tudo, entender bem lá no fundo que ela só quer ser amada como o resto das pessoas, à sua maneira talvez…

©Ricardo M.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Ela chove quando a saudade se move. Lembra das sombras dele. Mas, o amor não quebra galho. Um dia é temporal. No outro, orvalho. _______________________________ Noemi Prates.



Prenda-me em seu olhar.

Renda-se bem devagar. 

Guarde os meus detalhes nas retinas. 

Esconda-me em suas pupilas. 

Decifre os meus sinais. 

Siga as minhas pistas.

Descubra o mundo, mas, não me perca de vista.



Noemi Prates.
Hoje foi mais um dia daqueles. Silenciosos. Observei cada canto desta casa, sempre vazia. Fiz tudo o que podia, coisas que eu achava que nem sabia fazer. Li livros, assisti a vários filmes, brinquei com meu gato, pintei o cabelo e as unhas. Acho que estou de luto... pelo meu coração. Alguns filmes me lembraram você e por isso, chorei. Reli aquelas conversas; sabe aquelas que me enviou quando me dizia uma serie de poesias diretamente vindas do coração. Pois é, elas mesmas. Tempos bons foram aqueles, não é? Não me lembro quando foi a última vez que ri. Aliás, lembro sim. Foi no sábado... retrasado. O dia em que aquela maldita enxaqueca começou. Na quinta já não aguentava mais e resolvi procurar um médico. Sinceramente, acho que ele se assustou. Me diagnosticou como doente de amor crônico. E foi aí que eu percebi: não tem cura.

Kelly Gomes (flor)- Adaptada

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

"...devemos desistir da vida que planejamos e aceitar aquela que está esperando por nós". _______________________________ Joseph Campbell

Um herói é um indivíduo comum que
 encontra a força para perseverar e
 resistir apesar dos obstáculos devastadores.
” 
Christopher Reeve

O filme, em 1978, foi uma febre: álbuns de figurinhas, pôsteres, sequências, roupas (me lembro de ter um maiô que era a reprodução do uniforme do herói).Eu consumia todas as bugigangas que meus trocados permitiam enquanto sonhava em voar abraçada àquele invencível peito de aço. Então algo fundamental aconteceu: na minha gula de fã, comprei uma revista na qual havia uma foto do ator Christopher Reeve sorrindo gostosamente, ajoelhado nas areias cariocas, descabelado, vestindo roupas comuns e suando como um homem normal (a ponto de sua camisa ostentar rodas escuras em torno das axilas). O choque de realidade me causou uma estranha comoção: comecei a me interessar por outros filmes do ator e por outros homens descabelados. O suor de Reeve falou mais alto à minha libido pré-adolescente do que o visual impecável do Super-homem. O que detonou essa memória foi um presente que ganhei no domingo: o filme "Superman II Donner Cut". Nele, o herói decide se tornar Clark Kent em tempo integral para viver com Lois Lane. Mesmo indo contra as advertências do pai (Marlon Brando), ele abre mão de seus poderes e se torna humano. E o que faz Lois nessa barafunda? Nada! Ela sequer tenta impedir que seu amado desista de ser ele mesmo. Que burra! Permitir que alguém abdique da sua essência para ficar com você é o mesmo que ganhar um homem sem alma (é melhor ter um pedaço de um homem integral do que ter integralmente um homem aos pedaços). Ao se tornar humano, o ex-Super-homem não demora nada para se meter em encrencas que uma pessoa comum de carne e osso saberia evitar. O agora indefeso heroi não tem a mais remota ideia de que a grandiosidade da vida não está em voar, parar trens ou fazer o tempo retroceder: a verdadeira coragem é ser Clark. E nós, meninas que crescemos com herois e príncipes de toda sorte, às vezes perdemos uma vida inteira em busca de um Super-homem quando o interessante, o sexy, o desejável mesmo é Clark Kent, é a cálida e selvagem humanidade de Christopher Reeve ajoelhado na praia com manchas de suor molhando sua camisa. É aí que reside a felicidade possível: nesse prosaico e estupendo suor.


Stella Florence


Construir-se é um processo cheio de frustrações onde precisamos exercitar e separar o que conquistamos de tudo que precisamos deixar para trás. _______________________________ Poeta da Colina

Que venha o Natal
Sempre me guardo nas mãos de DEUS. Todos os anos nessa mesma época, penso no que poderia ter feito à mais. Penso naquilo que deu certo, naquilo que ainda está por vir, e o que não deu certo, não me lembro mais. Vai ver não era pra ser. Tem uma citação de Ana Jacomo que diz: "A mágica começa no mágico, não naquilo que ele toca." Verdade. Mágico é agradecer. Gratidão pra tudo. Deus é tão Generoso, isso não é segredo, e agradecer de coração faz diferença. Não faço mais lista de prioridades quando chega o final do ano. Já não tenho essa ilusão. Prioridade é continuar vivendo dia-a-dia. Prioridade é amar, cuidar. Prioridade é a fé. A vida é isso, o canto e o desencanto, é a coragem. E acima de tudo, amor, atenção, respeito e carinho, nos nossos projetos, nos nossos sonhos. Com nossa familia e nossos amigos. Conosco, com nosso amor, com quem fica. Agradece e não esquece que existe o longo prazo. E a curto prazo, nem tudo depende de nós. Vigia o teu lamento, observa os teus boicotes. Agradece e não esquece que falhas. Agradece e não esquece que somos humanos. Agradece das idas e vindas, das perdas e danos, e nunca esquece em refazer (sempre) teu ponto, tua caminhada, teus re-começos Pra quem acredita essa é a graça. A todos um encantador despertar. 


Rosa De Saron Morais

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

“Como ficou tarde tão cedo? Já é noite antes do entardecer. Dezembro já está aqui antes de Junho. Meu Deus, como o tempo voa. Como ficou tarde tão cedo?” ________________________ Dr. Seuss

Um dia vai, um outro vem...
 Boa noite e sonhem o bem!
Porque estava nublado, escuro, precisava chover. Precisava vir uma tempestade que levasse embora todo cheio que precisava ser vazio. Precisava um arco-íris após a chuva pro dia poder renascer! Eu realmente precisava chover.

Damaris Ester Dalmas







terça-feira, 1 de dezembro de 2015

O amor é mais falado do que vivido. Vivemos um tempo de secreta angustia. Filosoficamente a angustia é o sentimento do nada. O corpo se inquieta e a alma sufoca. Há uma vertigem permeando as relações, tudo se torna vacilante, tudo pode ser deletado: o amor e os amigos. _____________________ Zygmunt Bauman - sociólogo polonês

Duas coisas fazem a tristeza
de um homem:
 tudo o que ele não tem e
 tudo o que ele não sabe amar.

Fernando Coelho
Respirar, viver não é apenas agarrar e libertar o ar, mecanicamente: é existir com, é viver em estado de amor. E, do mesmo modo, aderir ao mistério é entrar no singular, no afetivo. Deus é cúmplice da afetividade: omnipotente e frágil; impassível e passível; transcendente e amoroso; sobrenatural e sensível. A mais louca pretensão cristã não está do lado das afirmações metafísicas: ela é simplesmente a fé na ressurreição do corpo. O amor é o verdadeiro despertador dos sentidos. As diversas patologias dos sentidos que anteriormente revisitámos mostram como, quando o amor está ausente, a nossa vitalidade hiberna. Uma das crises mais graves da nossa época é a separação entre conhecimento e amor. A mística dos sentidos, porém, busca aquela ciência que só se obtém amando. Amar significa abrir-se, romper o círculo do isolamento, habitar esse milagre que é conseguirmos estar plenamente connosco e com o outro. O amor é o degelo. Constrói-se como forma de hospitalidade (o poeta brasileiro Mário Quintana escreve que «o amor é quando a gente mora um no outro»), mas pede aos que o seguem uma desarmada exposição. Os que amam são, de certa maneira, mais vulneráveis. Não podem fazer de conta. Se apetece cantar na rua, cantam. Se lhes der para correr e rir debaixo de uma chuvada, fazem-no. Se tiverem subitamente de dançar em plena rua, iniciam um lento rodopio, sem qualquer embaraço, escutando uma música aos outros inaudí vel. E o amor expõe-nos também com maior intensidade aos sofrimentos. Na renovação do interesse e da entrega à vida que o amor em nós gera tocamos mais frequentemente a sua enigmática dialética: a sua estupenda vitalidade e a sua letalidade terrível. Mas, como dizia o romancista António Lobo Antunes, «há só uma maneira de não sofrer: é não amar». Mas não é o sofrimento inevitável a todo o amor que impede a vida. O obstáculo é, antes, o seu contrário: a apatia, a distração, o egoísmo, o cinismo. 

José Tolentino Mendonça, in 'A Mística do Instante'