quarta-feira, 29 de março de 2017

"Não faça amor, apenas seja. Amor não é coisa que se faça, não é uma ação, é um estado de alma." ________________________ Clara Baccarin

Amor não é coisa que se faça, não é uma ação, é um estado de alma. Amor não é algo que se decida e se pratique com a razão, com as mãos hábeis e os corpos performáticos e a alma escondida, adormecida, atrofiada. O amor se faz quando a gente sai. O amor vem quando a gente deixa de querer trazê-lo, comandá-lo ou evitá-lo. O amor emerge quando a gente fecha os olhos e respira fundo. Fazer amor não é coisa que se planeje, almeje, deseje.  Sexo é entrega, é despir a alma, é energia que transborda e que toma o lugar de tudo: das vergonhas, das diferenças, dos pensamentos, dos medos… Não prenda ninguém pelo sexo, sexo não é para isso. Não queira seduzir alguém pelo sexo, sexo assim é desperdício. Sexo não é para prender nada, sexo é libertação. Não contenha o choro, o riso, o grito. Não finja mais nem menos. Não queira agir para possuir, não queira se movimentar para dominar, não queira atuar para conquistar. Me desculpe dizer, mas sexo não é jogo de poder. Egos não deveriam ir para a cama, apenas deuses e deusas, vestidos de energia vital, prontos para um ritual sagrado. A cama deveria ser um canal, um portal, os corpos apenas um instrumento do amor. O quarto deveria ser um barco à deriva nas mentes em silêncio. E o tempo respirando e fluindo, deveria ser desfeito. Sexo deveria vir do relaxamento, do descansar as almas e deixá-las voar até encontrarem o céu. O quarto não é um palco dos movimentos frenéticos onde mostramos a nossa manjada dança da sedução que segue as revistas de moda e os vídeos pornôs. Amor não é coisa que se faça, o amor nos incorpora (ou nos volatiza), o amor nos possui, e não o contrário disso. Ele tem movimentos próprios. Os nossos ritmos mecânicos só constroem outras engrenagens que não têm nada a ver com amor. O tempo do amor não é o nosso. O amor não tem que sair correndo para pegar o ônibus, para ir para o trabalho, para prender um namorado, para construir uma família, para comprar um carro. O amor não tem que ser estruturado. Fazer amor não é um ato, é uma doação. O amor se move na gente vagarosamente. Mas temos que deixar. Temos que respeitar. Temos que cuidar. Cuidar do nosso corpo e o do nosso companheiro. Cuidar do nosso sentimento e o do nosso companheiro.O amor não exige nada, não julga, não apressa, não repara, não precisa de viagra. O amor acalma. O sexo acalma, renova, exala luz própria de puro sol em nossos corpos lunares. O amor assim transpassa e perfuma toda casa e a vida.

Fazer amor não é um ato, é uma doação..
Amemo-nos!

Clara Baccarin -

sexta-feira, 24 de março de 2017

"Para entender nós temos dois caminhos:o da sensibilidade que é o entendimento do corpo; e o da inteligência que é o entendimento do espírito. Eu escrevo com o corpo. Poesia não é para compreender, mas para incorporar. Entender é parede; procure ser árvore." ______________________ Manoel de Barros


A sensibilidade que tenho para escrever as inquietações do coração é a mesma que me faz afundar em tristezas e lembranças. Eu brinco de sofrer, de vasculhar o que há aqui dentro, e nem sempre encontrar o que eu gostaria. Alguns poderiam, na ciência de si, achar isso uma loucura. E quem disse que não é? Sou brisa e furacão, intensidade e mansidão, nada e tudo, ao mesmo. Eu sofro com propriedade. Sorrio na eterna vontade de abraçar a todos. Sou euforia no beijo e no silêncio. Para mim, saber sofrer em momentos pontuais sempre foi um dom que conservo comigo. Me sinto viva, sensível, me deixo doer, me faço empática com os outros, mas principalmente comigo. Volta e meia, quando sozinho, sentado na varanda da minha casa que tanto me faz companhia, me pego lembrando das pessoas que levaram um pedaço do meu coração e nunca mais me devolveram. Mal sabem elas que sempre há amor comigo. Mal sabem que, independentemente do que haja ocorrido, ela sempre farão parte da minha história. por bem ou por mal. Amores sempre têm sua importância. Mesmo com tantas emoções sendo vizinhas, não fujo dos obstáculos, das dores, dos desafetos que me batem à porta sem nem me pedir licença. Olho no olho, choro junto, rio na cara do perigo, peço que seja louco, imprevisível ou sereno, mas que, por favor, haja amor. A sensibilidade me traz tristezas lindas – há tanta beleza na tristeza –, mas, por outro lado, me faz me perder em questões simples de serem resolvidas. Dizer “não” é um sacrifício, sempre me sinto culpada, principalmente quando me deparo com entregadores de panfletos nas ruas; dizer “não” a eles ainda é um treino diário para mim. Deixar de gostar de alguém é um martírio, sempre acredito que o fim ainda não é o real fim. Me iludo, viajo nas possibilidades, brinco como quem brinca com fogo, de continuar gostando de quem não gosta mais de mim. Viver sem me apaixonar é para mim algo inexistente. Qual é a graça da vida sem a sensibilidade de se apaixonar pelas esquinas? Ser sensível é viver tudo à flor da pele, é amar sem se preocupar com o amanhã. É, também, carregar muitos desafetos, muitas tristezas e alegrias únicas. Talvez essa seja a maior qualidade de ser sensível: todas as emoções são sempre únicas. Mesmo me sentindo estranha e meio boba nas minhas decisões, quase sempre tomadas pela emoção, eu não deixaria de amar com a intensidade que amo. Nem se eu pudesse ter domínio de mim. Nem assim.



Frederico Elboni- Adaptado



quarta-feira, 22 de março de 2017

"Repara que o outono é mais estação da alma que da natureza." __________________ Drummond

No momento em que traço estas linhas de fim, tenho diante de mim a primeira folha do Outono, a primeira folha de Plátanos, que esta semana, caminhando numa praça, o vento trouxe e sem avisar pousou em meu peito, bem ali na altura do coração. E não adianta dizer que foi meu anjo porque ele anda ocupado com coisas mais importantes no momento. Mas foi um sinal. Sinal positivo. Primeiro porque a mãe natureza me diz através deste gesto poético que estão se findando os dias tórridos deste que foi o mais caliente dos verões. Está chegando a estação mais sublime do ano, a estação dos Poetas. Pois eu trouxe a folha comigo, está aqui em minha frente, inerte, num álbum entre fotos de outras flores; A folha é marrom-claro, em tons de ocre e nuances de cobre. Já foi verde como a esperança. Para nós que já estamos sentindo as primeiras aragens, as primeiras auroras da estação que está chegando, é preciso lembrar de Bashô, um antigo poeta japonês, monge zen-budista que peregrinava à pé pelo velho país do sol nascente e relatava em seus poemas haicais as maravilhas da paisagem. Já naquela época ele falava da beleza da lua nas noites de Outono.  Nada muda a paisagem romântica e bucólica, quando numa noite de Outono, tudo fica mais nostálgico, feérico e sublime. Através da história, muitos poetas escreveram sobre a lua. Mas é o luar outonal a principal fonte de inspiração, como se fosse um pacto com a musa, uma ode aos céus, um ditirambo ao amor. Mas é hora de, sob o halo lunar, guardar minha folha de Outono. É hora de fechar este álbum. É hora de abrir este coração.


Tchello d¨Barros

domingo, 19 de março de 2017

" O lado quente do ser...." Eu gosto de ser mulher! Sonhar, arder de amor... _________________________ Maria Bethânia

Qualquer palavra que complemente a frase “ela é…” é enganosa. Nenhuma mulher é só, nenhuma mulher é isso. Todas somos muitas. E, por mais que se tente resumir em uma expressão, nem 20 isso seria possível. Toda mulher é o amor da vida de alguém: ela mesma. É pra ela que decide a melhor cor de sombra ou solta os cabelos volumosos. É pro espelho que troca as melhores caras é nele que se vê, é com ele que se entende. Toda mulher é sexy. Mesmo a carola (exatamente porque carola?). Mesmo a chefe séria, mesmo a colega de trabalho tímida, mesmo quem catequisa para o resguardo. Todas têm um sex appeal, todas têm um estilo de lingerie e um jeito único de tirá-la. Absolutamente todas as mulheres têm um olhar de tesão que destinam ao seu homem (seja seu por um minuto ou uma vida inteira). Toda mulher é um vulcão. Toda mulher é mãe. Tem sentimento maternal com os amigos que vivem desilusões, com os namorados doentes precisando de cuidados, com o querer receber bem quem nos visita e querer que todos saiam satisfeitos (pra não dizer embuchados). Toda mulher é um pouco viúva dos amores que morreram e um pouco órfã dos que não viveu. Consegue ver nas entrelinhas de um poema motivos para lembrar de que não lembram, sofrer por quem não devem. Toda mulher é exagero. Toda mulher é super-heroína que vence diariamente os seus medos e a sua insegurança para estar mais perto de si mesma. “Toda mulher é uma laranja inteira”. Toda mulher não é uma. Toda mulher é plural. E é exatamente por isso que não há como prever as reações, julgar as decisões ou querer mal a uma mulher. Porque uma delas, essas tantas que vivem em cada uma de nós, é exatamente quem você procura. Ou de quem foge.


quinta-feira, 16 de março de 2017

"O Vento me define tão bem: sou calma feito brisa, sou forte quando preciso e viro vendaval se tentam roubar o meu sorriso." _________________ Inês S

Ela quer ser olhada. Ela busca ser olhada. Mirada, contemplada, despida. Clama por olhos abusados que cruzem com os seus. Dedicados. Olhos amantes. Olhos atentos a saber dos silêncios que gemem seus desejos. Anseia ser encontrada como alguém jamais a procurou. Um olhar devasso a devassar suas entrelinhas. A enxergar suas invisíveis confissões. A sua própria existência. Um olhar que a decifre e a devore. Sonha por dissolver-se no par de olhos que a mergulhe. Que a asfixie. Que a salve. Acredita que os olhos podem ser perigosos. Acredita que os olhos devem ser perigosos. Quer sentir-se nua. Quer sentir-se plena. Busca a ventura do salto acompanhada ao precipício. Somente o amor pode realizar o salto. Somente o amor pode despi-la.


Ela quer sentir-se amada.

Gulherme Antunes

quarta-feira, 15 de março de 2017

Deus, me ensina a ser flor mesmo quando todo o resto for espinho. — Versear

Não sei se porque não aprendi 
Arquivo Pessoal
a cuidar de mim
não aprendi a cuidar de ti
não aprendi a cuidar de nós 
um dia eu tão bem soube cuidar 
dos cactos – mas as outras 
plantas morreram 
algumas de sede, outras úmidas em demasia
e fiquei eu, e ficaram os cactos 
e os vasos vazios e os meus olhos
soterrados por luz e água salgada 
tenho aprendido a cortar as raízes 
mas nos meus olhos, terrenos inóspitos
flores inominadas continuam 
misteriosamente a nascer


(Flávia Brito – "Cactos")

sábado, 11 de março de 2017

"De longe te hei-de Amar. Da tranquila distância, em que o amor é saudade e o desejo, constância..." ____________________ Cecília Meireles

Há algo perverso que nos convoca a voltarmos aos rostos que já despedimos; e sentirmos saudades do que não se gostaria de sentir. O passado é um exagero. Leva demasiado e deixa-nos muito pouco. Acumulamos dele o quanto podemos como que para sabermos de nós sem nunca sabermos, carregando-os numa pilha que fatalmente desmoronará. Há algo perverso que nos convoca a voltarmos para as tristezas. Comem-nos a felicidade com qual direito? Deitamo-nos com elas a espera de despertarmos melhores. Antes, gratos pela vida sem sabermos outra coisa que não a vida. Agora, sonhamos tudo o mesmo ou menos, a querer o mesmo ou menos. O agora é um exagero. Leva demasiado e deixa-nos muito pouco. Buscamos por medicinas e conversas a cuidarmos dos sintomas de uma única desordem: não sabermos ser. Apáticos, intensos, desesperançosos ou eufóricos são emoções tão transitórias quanto persistentes que cedo ou tarde por elas nos curamos. Mas nos curamos de quê? Há algo perverso que nos convoca a voltarmos às mortes que já superamos. Quando morremos, tudo ao redor divide-se por metade. Quanto já nos sobrou? E o que de nós ainda restará?


Guilherme Antunes

domingo, 5 de março de 2017

A sabedoria das mulheres não é raciocinar, é sentir. ____________________________ Immanuel Kant

Um arco-íris de energia...
Ao nascer, menina - moça, mulher,
Contraditória... Culta... Indomável...
Dócil... Enamorada... Dedicada... Lutadora...
Temperamental em seus outonos...
Com sua originalidade, muitas vezes desconcertante,
Arrisca-se a viver exercitando corpo e alma,
Num eterno “decifra-me ou te devoro”.
Chega a ser emoldurada,
Nem sempre se harmoniza com a realidade.
Busca todo amor do mundo, esquecendo-se do grande segredo:
Ele habita em você!
As mais delicadas esperas... A de gestar uma vida!
Acontecem num aprendizado divino e intimo.
A alegria e a responsabilidade por estar viva,
08 de março dia Internacional da Mulher

Img: Arquivo pessoal
E ser fonte de vida...
Pontuam o coração mesmo que silencioso,
Amando... Amando... e, amando...
Com seu elástico cordão umbilical,
Até que tenha nascido e pulsado por alguém.
Ser complemento e completada,
No espasmo da felicidade do amor e de amar!
Sabe que a vida lhe cobrará
O que fez dela e,
O que deixou que fizessem
Na omissão do desespero
Simplesmente... por ser mulher.


Célia Rangel

quinta-feira, 2 de março de 2017

Ela não é solitária mas ama profundidade e nos lugares profundos não existe muita gente. _______________________ [Zack Magiezi]

Arquivo Pessoal
Noutro dia escrevi aqui que muitos nascem para a solidão. E tudo vai levando a essa confirmação. Por mais que experimente amar, por mais que lute para dividir coração e sentimentos, eis que o amor se desanda no seu lado mais indesejado. Há uma luta titânica para encontrar no amor uma felicidade. Deseja-se o outro não só pelo corpo e a carne, mas principalmente pelo encanto da amorosa compreensão. E sendo compreendido poder partilhar o melhor da vida. É que em nome do amor há janela e porta abertas. Em nome do amor há uma esperança de alegria e de contentamento. Em nome do amor há uma doce ilusão de caminhar pela nuvem, de lamber algodão doce, de brincar com a lua e as estrelas. Há no amor o idílio, o delírio e o êxtase. Ao menos na idealização, o amor emerge assim como salvação do corpo e da alma, como elevação espiritual, como portal de paraíso e relva ao entardecer perante o horizonte mais belo. Há no amor uma poesia não escrita, mas a certeza de um poema. Há no amor o livro mais belo já escrito, ainda que toda palavra ainda precise nascer. Há no amor uma relíquia dourada que todos desejam ter como tesouro maior. Por isso mesmo que a busca do amor não significa apenas a fuga de um estado de solidão, de tristeza e aflição, para ser alçada à feição de grande conquista. Neste sentido, exsurge como uma necessidade para as grandes transformações da vida. De tal idealização do amor, a sua falta provoca justificações descabidas. Não é feliz porque não ama, não tem alegria e contentamento porque não ama, vive na solidão da estrada porque não ama, tem dias e noites aflitas porque não ama, não divide o corpo porque não ama. Mas será que o amor será garantia do melhor na vida, da grande satisfação no viver, de toda a felicidade que possa surgir, do fim de tudo pesaroso que possa existir? Sim e não, talvez a resposta, pois a feição do amor só pode ser dada por aquele que tem o amor como objetivo e não como meio. Não obstante as expectativas nem sempre alcançadas através do amor, a verdade é que nela está o primeiro passo para outro modo de viver. Não basta afastar a solidão ou a tristeza, mas atrair para si possibilidades e esperanças de grandes realizações. Sim, por que amando a pessoa logo desanda o copo do negativismo para enchê-lo de perfume. Amando, inegavelmente que a pessoa se predispõe a fazer melhor, a realizar melhor, tudo com mais tenacidade e força. No amor está a vontade de fazer e viver. Ora, o amor é prazer, é alegria, é contentamento. Quem ama deve levar jovialidade no semblante e sorrisos no coração. E não angústias, tristezas e sofrimentos. Quem ama declama seu amor em pensamento, escreve seu amor na vidraça, perpetua seu momento numa página da vida. Quem ama conversa com a manhã e com o seu passarinho, abre a janela à borboleta e vê a sua boca no bico do beija-flor. Quem ama troca as flores de plástico por rosas viçosas, troca a lavanda no vidro pelo perfume do outro. Quem ama desenha na areia seu poema de vida, e jamais temendo que a onda avance para destruir. Amando, certamente que não se procura avistar o amor em situação de desamor. Injustificável seria que o amor sentido você impedido de ser sonho e voo apenas pelo fato do medo. Medo de perder, medo de ser traído, medo de reencontrar a solidão, medo de que a alegria logo se transforme em dor. Há que se afastar todo joio do trigo. O amor não convive nem com a dúvida nem com o medo. Ou se ama ou se desama. E se é para frutificar o amor, que a sua certeza seja como a necessidade de se seguir sempre adiante. Sendo amado e levando o amor consigo, em busca de encontrar mais amor. Como diz o poema, que o amor seja infinito enquanto dure. Sua imortalidade está na força a ele concedida a cada momento da relação amorosa. Assim o amor, assim amar.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com