domingo, 26 de agosto de 2018

Porque sentimento é assim, sempre sentimos, não importa se é inverno. ____________________________ Bárbara Paloma

Arquivo Pessoal
Ele tem a fórmula que acaba com a minha vontade de fugir. Ele sana todas indagações. Mas ele nunca começa os parágrafos. Ele sussurra tiros. Limpa a cena do crime. Mas ele nunca fica para as explicações. Ele é o motivo da febre. Ele faz café para tomar o remédio. Mas ele se vai depois que estou com 36,5°C. Ele sabe que pode pedir tudo. Ele pode ter o melhor de mim. Mas ele nunca espera os sonhos virarem realidade. Ele é a cura para dor que ela é. Ele segura a minha mão até a dor passar. Mas quando abro os olho ele já não está mais lá. Eu o amo tanto. Não queria que ele fosse embora. Mas não posso pedir para ser dona do que nunca foi meu.




HELIARLY RIOS.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Até que a verdade me trai e eu vejo que tudo isso não passou de um sonho até agora. E sabe, menino, um dia me disseram que viver desejando algo não é jeito bom de ser feliz. ____________________________________ Amanda Armelin

"Às vezes, quando eu digo:
 Eu estou bem,
eu quero alguém para me olhar nos olhos,
me abraçar apertado e dizer:
Eu sei que você não está."
SENTIR FALTA: verbo intransitivo, invariável, singular. Sinônimo de falta de ar. Espectro, perseguição, obsessão. Mente perturbada pela presença constante de uma imagem, figura ou sensação. O mesmo que calafrio, sede, fome, transpiração. Falta de inspiração. Talvez um sim e um não, uma indecisão. Vontade de saber onde está, fazendo o quê e com quem. Ciúme, traição, dependência, necessidade, insônia, Conjuga bem com agonia, companhia, fantasia. Na primeira pessoa do plural não admite separação, rompimento. Risco de progressão, perigo, contaminação. Algo fatal, indenominável, fixação. Oxigênio, sem respiração. Pressão. Desespero. Início de paixão.Tempo que não passa. Pessoa que não aparece. SOLIDÃO.


Bianca Ramoneda, in Só

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

“E se eu plantar amor, será que colho você?” — Letícia Corrêa.

Muitos vivenciam o amor como um rasgo a que a alma se submete intencionalmente para exigir que a mão do amado a costure. O problema é que a mão do outro nem sempre está disponível para esse trabalho: a alma sangra, dói, e os rasgos se expandem… A dor, quando bem resolvida, pode ser um prenúncio de beleza. Mas, para que o belo de fato advenha, é preciso viver a dor, senti-la, tocá-la, integrar-se a ela, e transmutá-la, sabedores de que o vivenciar a dor também é parte do exercício de amor. Já tive muitos castelos desmoronados na poeira dos dias. Quem não os teve? E a dor, nesse caso, é inevitável. Em nossa alma aprendiz, amar é desejar estar ao lado do outro, dentro do outro. É querer ser o outro sem sair de si mesmo. É construir uma redoma de sonho e ali inserir o amado, sob a eterna e vigilante proteção dos nossos olhos. E queremos que o outro caiba exatamente no nosso sonho e viva o nosso projeto de existência. Que ele esteja no cenário que construímos e encene o papel que lhe escrevemos. E, num repente, algum novo vento nos sopra e mostra que o outro não é exatamente o aquele a quem julgamos amar. Percebemos que ele tem segredos e mistérios maiores que pensávamos e ficamos perplexos ao perceber que ele tem caminhos traçados e que quer percorrê-los, muitas vezes, sem nós. Perdemos a voz ao saber que a alma do outro é hóspede e hospedeira de outras almas. E as nossas pernas tremem ao constatar que a redoma era ilusão. Que todo o castelo de amor era ilusório. E a dor chega e castiga e fustiga a alma com cem mil acusações. O que nos sangra, num momento como esse, é a obrigação de desamar. Mas será que isso existe? Os poetas, há muito, já apregoaram que o amor é sempre “para sempre”. Questionaremos as verdades poéticas? Banalizaremos o amor? Faremos dele um bibelô barato e quebrável destinado a adornar, por breves dias, as estantes da nossa alma? Ocorre que somos ainda aprendizes da arte do eterno. O amor não reside senão no desejo da plenitude do outro. Ele não se esmera a não ser no respeito ao outro. Ele não pulsa a não ser para o querer o bem e sonha que o outro, pássaro livre em perfeição de voo, possa vislumbrar, dos cumes de si mesmo, os mais belos sentimentos e paisagens da terra. E assim, quando o outro não mais deseja estar ao nosso lado, isso nos fere e sangra, mas o que nos massacra não é o outro. É desejo egoístico de aprisionar um espírito que também, assim como nós, tem sede de infinitos. Tenho comigo que o que mais dói é a obrigatoriedade que nos impomos, quando o castelo desmorona, de desamar o outro. E embora talvez não o tenhamos amado de fato, fizemos um esboço de amor e é desorientador apagá-lo. Desamar é doloroso demais, porque o desfazimento do amor é contrário à nossa natureza etérea, espiritual, eterna. Devemos, sim, exercitar o desapego; não o desamor. Desejar a liberdade, a integralidade, a plenitude do outro. Compreender que o que dói não é o amor não correspondido, mas a quebra das correntes (talvez até de ouro) com que tentávamos prender alguém. Apenas quando soubermos apreciar com encantamento a liberdade, seja ela nossa ou de um ser amado, teremos conhecido a face invisível e invencível de um amor verdadeiro. E a alma, outrora rasgada, fará das cicatrizes uma arte emoldurada e rebordada de vida, na certeza de que toda a dor, bem lá no fundo, labora a nosso favor.


Texto de Nara Rúbia Ribeiro


Lindo presente!

Julho de 2018