quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Há que te despetalar, meu amor, não pra te ferir, porém, para compor a beleza que te contorna. _______________ D.A.

Quando o coração pede calma,
 é tempo que a gente dá.

F. Rocha
Tempo para parar de sofrer e para esquecer de chorar. Tempo para desentristecer e para desanuviar. Tempo para voltar a viver e para – novamente – se alegrar. Tempo para se abster e para se acostumar. Tempo para parar de doer e tempo para aliviar. Tempo para adormecer e, após um bom tempo, sonhar.Tempo para se erguer e para – em frente – caminhar. Tempo para aprender e tempo para ensinar. Tempo para prometer e tempo para realizar. Tempo para sentir prazer e para a vida gozar. Tempo para devolver o que o tempo deixou passar. Tempo para aquecer, o que não pode mais esfriar. Tempo para não temer e para não titubear. Tempo para defender, sem precisar acusar. Tempo para percorrer o caminho onde se quer chegar. Tempo para envelhecer e para o tempo olhar. Tempo para amadurecer e para aprender a lidar. Tempo para voltar a crer, que o tempo se encarrega de curar. Tempo para agradecer, o que o tempo foi capaz de consertar.

Fellipo Rocha



sábado, 26 de setembro de 2015

"Ergo os olhos em direção ao infinito e são ventos de sul os que me rasgam por dentro..." ________________________ D.A.


"Eu e minhas saudades irremediáveis
do que nem sei se foi,
e nem sei se será."

(Rachel Carvalho)
Não me pergunte as razões, mas preciso chorar. Isso não é coisa de um coração magoado ou dor de algum amor inacabado. Não, não é! É explosão dos guardados. Excesso de opção. É pó acumulado onde não deveria mais estar. Preciso chorar, isso é fato! Desenterrar algumas verdades. Semear alguma metáfora sobre ser gente sensível e repetir com as infalíveis lágrimas a limpeza da alma. Preciso chorar com a mesma força com que os colibris sugam as flores. Desmanchar todos os precipícios e aumentar a possibilidade de envelhecer por entre os olhos. Preciso chorar nem que seja um choro de paz, dando dicas de que ou virá primavera por aí, ou o outono aumentará sua força derrubando as folhas que ainda sobraram de minha sombra. Preciso chorar sem fazer nenhum barulho. Sem discurso explicativo e improvisado. Preciso desse mau costume. Milhares de vezes, preciso chorar. Ser silêncio engasgado. Palavra não dita. Seria até muito árduo explicar e eu não convenceria a humanidade, mas se consola saber, preciso chorar para aliviar, corrigir, respirar. Sem nenhum pesadelo que me inocente do ato, sem arrumar desculpas e sem sofrer de dúvidas; preciso chorar. Recolher as histórias indecentes, os pensamentos impróprios, a preguiça social e continuar com o incerto e a coragem apenas para chorar. Chorar uma inundação e sequer ficar marcas do vendaval. Nos próximos dias, sem muitas reações, sem abandono da vida, preciso chorar. Mastigar as lágrimas e soprar para o vento os últimos respingos. Esperar o choro tal como se espera uma ressaca de um porre e sobreviver sem nenhum efeito colateral. Feito terra fértil, preciso verter o choro e deixa-lo se desfazer devagar. Sem essa de pressa, preciso chorar lentamente. Devastar as flores mortas. Preciso chorar e ficar cinzas. Me apossar dessa perturbável vontade que hoje é um luxo até que a missão do choro esteja cumprida e definitivamente traga uma satisfação intima. Desde já eu me autorizo a chorar. 


Ita Portugal

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Falam da falta que eu vos faço e não escutam a música das minhas lágrimas, ligeira, imaterial, música que se esquece dentro do que se vai sendo, como a das canções de amor que me amaciavam a vida. __________________________ Inês Pedrosa

Arquivo Pessoal
Esperam que eu seja politizada, ecologicamente correta, discreta e educada. Esperam que eu seja concursada, tenha uma vida estável, bata o ponto. Esperam que eu aceite tudo, que pague os preços cobrados, que me vista adequadamente, que eu não fale palavrão. Esperam que eu cresça, me forme, case e tenha filhos e entre na forma do felizes para sempre como se fosse uma receita óbvia de programa de culinária. Esperam que eu me comporte, que eu não me importe com as aberrações e o caos modernos, que eu consuma. Esperam que eu beba para socializar, que mascare meus medos exaltando minhas fugas. Esperam que eu não fume, esperam que eu me vista bem, seja magra, tire foto com filtro e acredite no photoshop. Esperam que eu compartile alegrias e poste sorrisos, como se o número de curtidas valesse mais que um abraço. Esperam que eu esteja sempre correndo e que meu tempo seja escasso. Por favor, esperem sentados. Tô fora desse quadrado. A minha vida não espera nada, minha pintura pessoal tem cores próprias e uma moldura que cabe só dentro do meu quadro.

Lilian Vereza

domingo, 20 de setembro de 2015

"Música é a terapia pra alma. " _______________________ Wagner'd Rock



Quando se ouve boa música fica-se com

saudade de algo que nunca se teve e nunca se terá

"Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes".


sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Atravessando o temporal aprendemos a planar. Sobrevoar a vida para avançar usando a violência do vento. Tal como as gaivotas. ______________________ Joan Margarit.

Daí ela se lembrou 

de como é ser forte. 

Ela enxugou suas 

lágrimas e sorriu. 

Sim, sorriu, 

porque ela sabe que algo 

melhor está por vir. 

Ela sabe. 

- Tati Bernardi
Tarda, mas não muito, o dia em que todos os acasos não precisarão de definições. Tarda, mas não muito, o dia em que a justiça ganhará a sua maior graduação e todo o restante será insuportável. Tarda, mas não muito, o dia em que a verdade não será deformada e o amor, esse será a fiel representação da existência humana. Tarda, mas não muito o dia em que o sangrar do coração será curado com um simples afago. Tarda, mas não muito o dia em que desconfiaremos da verdade e enfiaremos o dedo na garganta para vomitar os clichês. Tarda, mas não muito, quando os olhos serão abertos para enxergar a vida em preto e branco e as mãos então, serão obrigadas pintar a vida com sua cor predileta, sem importar-se com as combinações e harmonia. Tarda, mas não muito, quando determinaremos que a beleza não irá esmagar a bondade, o caráter e a sobriedade.  Tarda, mas não muito, o dia em que a esperança será encontrada com facilidade tal como caçar borboletas nos jardins. Tarda, mas logo chegará o tempo não mais se discutirá a validade da vida e a importância da história. Tarda, mas não muito o dia em que cada humano será merecedor de protagonizar suas verdades e ninguém será rebaixado a sombras dos afetos alheios. Tarda, mas por muito pouco teremos tolerância para a nossa impaciência sentimental, ternura para as descomposturas da vida e o amor não mais passará por um degradante processo seletivo. Todos serão merecedores dele. Tarda, mas não muito.


Ita Portugal

terça-feira, 15 de setembro de 2015

"(...) Escuta: é o vento que canta. Ando desacelerada e me convém. Preciso de mais tempo. De mais ar e de mais flores. Castelos em Paris? Quem sabe.(...)" __________________________ Érica de Paula

"Estas são as mudanças da alma.
 Eu não acredito em envelhecimento.
 Eu acredito em alterar para sempre 
o aspecto de alguém para a luz. Eis meu otimismo."
~Virginia Woolf
O que me sobra é o que te faz falta, o que não me incomoda te arrasa, o vento que não me leva te arrasta, o seu medo pra mim não é nada, a força que me sustenta te abala, a loucura que me atrai te assalta, a luta que me guia é a que te alastra, a paixão que me acalanta te mata, morreremos do mesmo jeito, com a diferença do momento, e a química do complemento! 


Marcelo Candido

domingo, 6 de setembro de 2015

Eu te amo como um colibri resistente, incansável beija-flor que sou, batedora renitente de asas viciada no mel que me dás depois que atravesso o deserto. (...) ________________________ Elisa Lucinda

É o beija-flor
que beija a flor,
ou a flor que
beija o beija-flor?

José Paulo Paes





Eu te amo como quem esquece tudo
diante de um beijo:
as inúmeras horas desbeijadas os 
terríveis desabraços
os dolorosos desencaixes
que meu corpo sofre longe do seu.
Elejo sempre o encontro
Ele é o ponto do crochê.
Penélope invertida
nada começo de novo
nada desmancho
nada volto...

sábado, 5 de setembro de 2015

"Porque tudo em mim ama tudo em você." _________________________ John Legend

Depois da chuva, 
flores fortes 
voltam ainda mais coloridas.

— Floricitar
-Moço, será que ainda tem chance? Será que ainda tem remédio? -Eita, menina teimosa! -Moço, acho que gosto d'ele, gosto do jeito sem jeito, gosto do sorriso tortinho que ele faz quando me vê, da conversa com vários sentidos, o carinho que ele faz em mim. É, eu acho que gosto. -Cê acha? Menina, cê sabe que se apaixonar é insano. Vai machucar o coração de pequena moça. -Eu arrisco se preciso for, se ele me quiser eu pulo nesse mar, mesmo que seja maré. Sem ele eu não fico. Tá doído, meu peito sinto estalar. -Esse rapaz ainda não enxergou o brilho que carregas dentro de ti. Ele ainda está cego, perto de tal sensibilidade de flor. Tu és menina que palpita, salta e canta. Tu és noite, és sol que aquece.

— Floricitar

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

"Quando a gente começa a se perguntar: para quê? Então as coisas não vão bem. E eu estou me perguntando para quê. Mas bem sei que é apenas 'por enquanto'. _______________________ Clarice Lispector

Quero acolher a calmaria como um afago da paz
 e me permitir um recolhimento que 
não se pode publicar, 
pois é um descanso. 

Marla de Queiroz
Não me pergunte muito o que eu quero da vida. Sim, quero amar e, quem sabe, me entregar, mas não me peça para ser decidida quando o assunto for, exatamente, decidir. Se pedires para eu decidir entre azul e verde, sumo. É muito para a minha cabeça. Se quiseres que eu escolha entre Veneza ou Paris, ficamos por aqui mesmo. Gosto tanto dos dois. Se houver necessidade de decidir entre as minhas comidas prediletas, demorarei horas. Fico com medo de errar a escolha. Não me faça escolher, só me leve junto… Não me dê opções, me dê beijos. Me dê margem para sonhar. Me dê certezas que as faço paisagem. Nasci para aquarelar as certezas que existem, não para criá-las. Façam e criem as certezas por aí, mas, deixem que eu as coloco cor e vida… Certezas são monocromáticas, dúvidas são coloridas. Às vezes, sei muito bem o que eu quero. Mas, no cantinho pensativo da minha cabeça, acho que deveria fazer outra coisa. Medo da vida realmente ser só isso? Medo da vida ser tudo isso e muito mais? Não sei… Ser indecisa é isso. É não ter nada destinado. É ser para-raio das possibilidades do mundo. É achar que o mundo é muito mais do que essas certezas do nosso mundinho; volta e meia tão pequeno, tão mesquinho…A verdade é que não sei o que fazer comigo. Mas, também, não aprisiono ninguém no meu mundo de incertezas. Pois, como levarei alguém comigo, se nem sei para onde quero ir? Seria muito egoísmo da minha parte… É, ando meio indecisa comigo, mas certa de que, a indecisão só é saudável, quando ela só machuca a gente.


Frederico Elboni - Adaptado