segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Eu, particularmente, gosto de réveillon. Gosto dessa sensação de um ciclo sendo encerrado e outro iniciado. Por isso, desejo a você, caro leitor, um recomeço singular e intenso.


Dez 2020

"Hoje eu apenas queria escrever um texto-sopro. Um texto sereno de beira de mar. O último de 2020. Esse ano em que tudo me cortou e me rompeu. Em que me costurei de novo com linhas imaginárias, tecendo novos sentidos. O ano. Ritual. Gosto das passagens.  Voo ao teu encontro querendo deitar a cabeça no mar. O mar é um colo. Deixo-me chorar o encanto do mar. É que a gente também tem um mar por dentro. Hoje eu queria apenas ser doce. Lavar o sal da pele no rio. Deitar na rede que me embala o pensamento. Sentir a grama verde nos pés de areia, me penetrando os dedos. Dormir exausta de cansaço com o corpo quente, sentindo o gosto de vinho nos lábios. Apenas. Delicadezas. Dessas que a vida ganha cores. Sabores. Leveza de sentir amor no vai e vem das ondas. Acalento na impermanência do mar. Saudação. Hoje eu queria apenas o silêncio diante da enormidade de não saber, que ergue indefinido em frente aos olhos. Deixar-me levar sem porto de chegada. Despida de tudo que me cabe, despeço – me de 2020. Não lamento, só agradeço. Sinto em mim os ecos das vivências. O sabor das dores. A grandeza dos amores. As incompreensões que me moldaram novas formas de existir. E assim reverencio a vida que me arrebata sem começo nem fim, flutuando na corrente do rio. Feliz 2021, ano novo. Recebo – te com o espanto de uma criança diante do mar.  Nem mais nem menos. Apenas. "


Silvia Badim




FELIZ ANO NOVO!!


domingo, 13 de dezembro de 2020

Para falar do Natal, não existem segredos, basta olhar para dentro de nós mesmos. ______________________________________ Fernanda Molina


Img:  Natal 2019


Natal

Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
Era gente a correr pela música acima.
Uma onda uma festa. Palavras a saltar.

Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima.
Guitarras guitarras. Ou talvez mar.
E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.

Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia.
No teu ritmo nos teus ritos.
No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia).
Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos.
E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia.
No teu sol acontecia.

Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia).
Todo o tempo num só tempo: andamento
de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia.
Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva
acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água turva
na cidade agitada pelo vento.

Natal Natal (diziam). E acontecia.
Como se fosse na palavra a rosa brava
acontecia. E era Dezembro que floria.
Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava.
E era na lava a rosa e a palavra.
Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.

– Manuel Alegre, em ‘Antologia Poética’.




Françoise ajudando a 
 Montar a árvore!!

nov/ 2020