sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Vieram falar da tua partida, nas velas enfunadas que se viam ao longe, no rumo sem rumo das cartas de marear que ficaram abertas em mim. Disseram-me: sabias que há uma âncora no cais que costumavas ser mas que não amarra qualquer veleiro que ali aporte? Sempre soube. ______________________ Jose Luis Almeida.

Você pensou que ela seria seu Porto Seguro?

Justo ela, o mar em fúria?

Quando vento, ela voa livre

Quando pousa, ela é pura luxúria

Você pensou que ela seria sua rosa?

Esqueceu que ela é puro espinho?

Quando flor, ela desabrocha
Quando for, ela esquece o caminho

Você pensou que ela seria fogo brando?

Justo ela, a brasa acesa?

Quando mar, ela é maremoto

Quando amar, ela é incerteza

Você pensou que ela seria calmaria?

Justo ela, a mais intensa tempestade?

Quando chuva, ela é ventania

Quando jura, ela é de verdade

Você pensou que ela seria sempre doce?

Com seu jeito meigo e seu olhar amável?

Quando calma, ela é puro açúcar

Quando alma, ela é intragável

Você pensou que ela seria sua?

Esqueça tudo que pensou sobre ela

Quando você vem, ela fica nua

Quando você vai, ela volta a ser só dela!




Taiana Coelho

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Se deixar, quero virar uma saudade boa dormindo no teu olhar mais bonito. Me deixar à beira de um verso interminável tatuando o teu meio-sorriso no meu início. ________________________ Cáh Morandi e Priscila Rôde

"- Eu nunca gosto de nada, e gostei tanto de você. 
- É?
- Droga.
- O quê?
- Eu falando de gostar.

- E daí? 
- E daí que vai acontecer tudo de novo. 
- O quê?
- Vou sentir demais, falar demais, escrever demais. E você vai embora."


Tati Bernardi

domingo, 22 de janeiro de 2017

Despertarei mais cedo apenas para o meu amor beijar-me antes do vento. ________________________ Guilherme Antunes

Quero experimentar novamente a doçura da graça que passa. O calor ardente do sol, o perfume que paira na atmosfera e embriaga. Ouvir o riso das estrelas, o sorriso misterioso da lua e se deixar contagiar. Permitir o vento levar as asperezas que atravancam o caminho. Florescer! Entregar-se e entregando-se não sentir-se metade, não ficar partida, mas inteira e plena, como plenos são os dias.

Angella Reis











* Teoria Geral do Desassossego (Adaptado)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Minha alma tem pés descalços e olhos brilhantes infantis. Ela veste trapos imprestáveis, tem uma corda cingida à cintura e vive em busca de borboletas, versos e passarinhos. Alma, peço-te, agora: Leva-me junto de ti! Carrega-me em teus braços. És infinitamente maior do que sou. ______________________ Nara Rúbia Ribeiro

"Não é preciso muita coisa para o coração encontrar a paz.
Acho até que ele gosta das pequenas mesmo.
Daquele olhar que conforta,
daquela companhia que acalma,
do abraço que toca a alma,
da amizade gratuita
e do amor correspondido.
E quando vemos, pronto!
É calmaria dentro de nós."


(Rachel Carvalho)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

E mesmo com esse amontoado de reticências que se acumularam, repara só o acerto que foi. O tanto que foi. Lembra dos nossos planos de ontem? Lembra da tríade – reciprocidade, desejo e compreensão – que sempre trouxemos como norte? Lembra da gente? _____________________ Bibiana Benites

Tudo bem. Tudo indo. Tudo certo. Tanto amor. Tudo incerto. Tanta coisa ruidosa. Tanta saudade danosa. Tanto querer. Tanto fazer. Tanto prazer. Tanta espera pelo nada. Tanto frio no vazio. Tanto choro sem consolo. Tanta loucura solitária. Tanta dor sem cura. Tanto aqui. Tanto muito pelo pouco. Tanto pouco pelo muito. Tanta escuridão sem motivo. Tanta claridade sem necessidade. Tantos presentes urgentes. Tantos futuros incertos. Tantos invernos nus. Tantas primaveras mortas. Tantos ensaios sem roteiros. Tantas peças sem palmas. Tanta coragem sem causa. Tantos medos sem motivos. Tantos punhos cerrados. Tantos abraços contidos. Tantos ganhos sem necessidade. Tantas necessidades sem ganhos. Tantas buscas sem encontros. Tantos imaginários. Tantos silêncios perversos. Tantas portas abertas. Tantos corações fechados. Tanta cumplicidade sem par. Tanto amor desperdiçado. Tantas lembranças acumuladas. Tanto eu presente. Tanto tu ausente.


Ita Portugal

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

"Não subestime o tempo das voltas, nem diminua a leveza nos passos." ________________________ Priscila Rôde

O tempo. Entre todas as coisas do mundo, talvez ele seja o maior espelho das verdades. Pode parecer um otimismo exagerado da minha parte, mas eu raramente os cometo. Eu acredito no tempo. Acredito na sua capacidade de nos mostrar quem as pessoas realmente são. De curar as dores e nos mostrar quais escolhas nos fizeram bem. Longe de dizer que não confio nos homens, seria uma tolice da minha parte. Afinal, cultivo uma calorosa paixão pelas sinceridades e sentimentos completamente entregues. Mas aprendi com o próprio tempo o valor dos seus ensinamentos. Como os gregos, eu carinhosamente o chamo de chronos. Muito me ensinou. Porém, algo é inevitável. Suas verdades são tão valiosas quanto a sua escassez. Nada existe além do presente. Por isso, saiba escutá-lo bem.


Matheus Jacob

domingo, 15 de janeiro de 2017

As lembranças fracionam um inerte passado, Quando a nostalgia regressa com suas dúvidas. Ontem, caminhando pelas ruas, me lembrei do tempo Em que o amor era capaz de levar luz ao vento e respirar. Essas ruas ainda seguem falando de nós... _____________________ (Adilson Shiva)

Cena do Filme Titanic
Será que todo mundo tem as sensações que me acometem de vez em quando? Saudade da infância, preguiça da vida, um vazio existencial tão grande que só pode ser explicado como saco cheio. Vivo no meio do caminho, carregada de “mais ou menos”, levando vírgulas e reticências que coleciono desde a adolescência. Nunca soube me desfazer dos cadernos usados, que dirá das mágoas e amores mal resolvidos. Jamais perdoei meu primeiro amor da infância. Era um presságio: “Prepare-se, sua vida romântica será dirigida por Lars Von Trier, e mesmo no ápice do sucesso, ninguém entenderá nada!”.Sabe, as pessoas seguem em frente enquanto eu ando em círculos. Parece que as frustrações são grãos de areia convidativos e eu sou a criança com um balde, aquela que insiste em construir castelos na beira do mar. Eu até gosto das ondas. É com resignação que as vejo batendo nas torres tortas do meu castelo, pronta para começar tudo outra vez. Vê? São tantas loucuras e elucubrações sem sentido que não posso deixar de questionar se são exclusivamente minhas. Mantenho uma coleção de arrependimentos tão grande quanto a coleção do Louvre. A diferença é que minhas dores não tem público. Vai ver é por isso que o tempo se arrasta e nunca dou certo com ninguém. Há muita arte abstrata aqui dentro, muita coisa esperando para ser entendida, mas o amor quer figuras simples: uma casquinha de sorvete, um passeio de mãos dadas, a intensa superficialidade de uma relação que acontece no dia a dia, e não nas entranhas das minhas crises existenciais. Acho que fui embora em cada amor que não rolou. Cada um desses caras, dos que amei e dos que eu quis amar, carregou um teco da minha paz solitária, deixando essa fulana ansiosa e deprimida, essa velha que tem pressa e preguiça na mesma medida. Eu queria ser Meg Ryan, mas sou Kate Winslet forjando uma grande história de amor, agarrada a uma tábua, vendo tudo afundar e perdendo o par romântico em menos de 48 horas. Quanto mais eu amo, menos sei sobre amor.


Fhá Queiroz

sábado, 14 de janeiro de 2017

Mas essa é a natureza do amor, comparável à do vento: fluido e arrasador. ______________________ Ferreira Gullar.

Arquivo Pessoal
Alguns silêncios falam. Gritam tão alto que são capazes de transmitir mais sentimentos que muitas palavras ditas ou escritas. Traduzem o fim de um tempo, a indiferença natural ou forçada, a necessidade de ser notado ou esquecido. “Todo silêncio tem um nome, tem um motivo…” A frase, atribuída à Clarice Lispector, tem muito a dizer. Pois o silêncio pode ser sintoma de saudade, de “sinto a sua falta mas não há mais nada a ser dito”; ou mágoa: “fui ferido por você, e em vez de revidar com palavras lhe dou o meu silêncio”; ou finalmente indiferença e frieza: “meu silêncio é minha alma tranquila e em paz longe de você”. Silêncios falam alto para quem espera por uma resposta. É a mensagem visualizada e não respondida mesmo passadas 72 horas, é o sumiço de alguém que costumava fazer barulho o tempo todo, é a falta daquela risada deliciosa, é a impossibilidade de ir atrás de alguém que não quer mais ser encontrado. O silêncio é uma arma poderosa mesmo para quem não tem a consciência de estar numa batalha. Porque dentro do silêncio cabem inúmeras interpretações, e pode enlouquecer quem fica esperando só, com suas inquietações. Mas também pode ser o empurrãozinho que faltava para aquele que espera virar o jogo. Porque ser tratado com silêncio demorado é viver enclausurado. É aceitar o cárcere da falta de conclusões e respostas, é permitir ser manipulado pela ausência de sinais. E talvez seja hora de descobrir que quem muito se esconde, uma hora deixa de ser lembrado. O silêncio é necessário e carrega inúmeros significados. Mas quando é usado para manipular e ferir, deixa de seguir um caminho de coerência com o coração para ser uma arma inconsequente da razão. Nem todo mundo ama da maneira certa, e muita gente se apega aos amores rasos e errados. Há que se ter cuidado com o silêncio. Com o silêncio que provocamos ou que é provocado em nossa vida. E coragem para abandonar silêncios que ferem, pois o bom da vida é encontrar respostas no amor que damos e de graça ofertamos…




Fabíola Simões

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Fora, cai a chuva. Dentro, ela deseja que ela nunca acabe. _______________________ Manuel Filipe

No meio das defesas todas, havia algo que não se defendia, não sabia como se defender, não conseguiria, ainda que tentasse. Havia algo delicioso de se sentir que escorregava de dentro da gente e se esparramava no sorriso. Escapulia no olhar. Cantava no silêncio. Fazia florescer pés de sol no tempo encantado em que estávamos juntos. Dispensava nomes e entendimentos. Havia algo que tinha um cheiro inconfundível de alegria. De vida abraçada. De chuva quando beija a aridez. De lua quando é cheia e o céu diz estrelas. Um cheiro da paz risonha do encontro que é bom.


Ana Jácomo