domingo, 29 de novembro de 2015

Amar para sempre é ter mil bichos papões para derrubar e uma só bala no revólver. Meu Deus! Eu nem sei atirar! ____________________________ Pretextosdiários

Janela aberta: entra sol, entra dia, entra poesia.
— acitnamor.
Pertenço às declarações rasgadas, às madrugadas insanas, à poesia piegas. Meu amor é esse fruto ácido das inconseqüências juvenis. Meu amor não se veste bem, ele sai desgrenhado na noite cheia de luzes. Não entra pela porta da frente, ele pula a janela. Meu amor não é mensurável. Ele é daqueles que não se ajustam. Não pertenço à irritante prudência dos amores modernos. Nunca me dei a esses sentimentos contidos. Na era dos corações mudos, meu bem, eu sou o grito. Meu amor é canção e já começa pelo refrão. Eu amo apesar das caras de espanto, dos burburinhos diante da loucura das paixões ébrias, amo apesar da sua cara de quem não entendeu nada. Tolice, meu bem, o amor não foi feito pra ser entendido. Eu amo a sua alma confusa, insana, errante – eu amo apesar do erro. Eu não amo no seu tom. Meu amor toma um porre e te faz uma serenata desafinada. Não acompanha tua bossa nova: meu amor é rock’n roll. Ele escreve versos tortos em guardanapos molhados numa mesa de bar. Meu amor não vai embora quando é preciso. Ele fica, bate, insiste. Meu amor não te procura as virtudes. Ele não pondera, não te espera no altar, não analisa teu boletim, não aceita o teu portfólio. Você me ganha nos detalhes. Meu amor renasce toda vez que você sorri bonito, meio de lado, como quem não espera muito do dia seguinte. Ele dança cada vez em que os nossos passos cambaleantes se encontram. Ele me anestesia os sentidos, me confunde as certezas, arrebata a minha consciência. Ele não aprende os passos, te tira pra dançar num supetão, num descompasso. Meu amor não se esconde em nenhuma máscara de pureza. Se mostra inteiro, altivo, vivo. Antes de se explicar, ele te confunde. Mostra a que veio, descalço, despido. Amor que se preze não pensa. Ele não se pergunta, ele vai. E te leva junto. O amor é o porta-voz da insanidade. E se for consumado, sem medo, sem vergonha e sem pudor: que me consuma.

Nathalí Macedo

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Amor: esta loucura que quer limitar o que é infinito... _________________________ Mel

Sou amor com medo, ou, solidão consciente? Pouco me arrisco, mas, ainda continuo riscando nomes. Lembro da saudade de amar, converso com meu coração e me pergunto, em silêncio, como será daqui pra frente. Digo a ele, com esperança, que espero um dia conseguir me abrir e tirar o fantasma vestido de orgulho que tanto me habita. Sei que a maturidade nos dá o caminho, mas, os receios e traumas nos deixam mudos perto do amor que está por vir. Espero um dia voltar a ser calmaria e amor. Espero também receber compressão de mundo quando meu sorriso for pequeno. Espero que a dor não seja mais consequência do ressacar das minhas emoções. Espero que meus ombros se tornem leves quando o deitar for necessidade. Espero até demais… Não queria esperar tanto. O amor se torna inconjugável com o esperar. Que o amor venha e deixe a dor virar vento de outono nesse coração que, mesmo não admitindo, tanto anseia pelo verão. Mas, que venha como surpresa. E, diferente de filmes de comédias românticas, nos surpreenda no final. Nos faça calar a boca, e por mais antagônico que seja, gritar quarteirões como o desamar é burrice. Então ame, enquanto o amor ainda conversa com você. Ame enquanto a saudade ainda brinca de aparecer. Ame enquanto a solidão não se tornou constante. Ame enquanto… Só ame, esqueça o enquanto. Por enquanto. 

Frederico Elboni

terça-feira, 24 de novembro de 2015

E quanto a você meu amigo galvanizado, você quer um coração, não sabe como tem sorte por não ter um. Corações nunca serão práticos até que inventem um inquebrável. ________________________ O Mágico de Oz

Alinhavar pessoas, esse é um dos ofícios do tempo.
Mas não é facil domar o zig zag da linha tênue
que costura os sentimentos...

Panelovisk
“É preciso muita coragem para amar as mulheres marcadas pelo passado, aquelas de temperamento forte, mas de bom coração. Muito amor é necessário para curar as feridas e decepções. Mas acima de tudo, precisa ser inteligente, porque elas são tão maduras e tão experientes que já não acreditam no que você sente, mas no que está disposto a fazer por elas.” – Walter Riso. Não temos mais a aparência de 20 anos, pois as pedras do caminho moldaram nosso corpo. Nosso olhar é cúmplice, pois tem sido formado há anos. Acumulamos de maneira perfeita a experiência e juventude, o que nos faz dominar a arte e a gestão de nossa essência, acrescentando vida aos anos que desfrutamos e ainda temos para desfrutar. Porque uma mulher com mais de 40 anos deixa sua marca por onde passa, tornando-se senhora de seus passos. Sente que pisa firme, transmite segurança em si mesma e conseguiu uma estabilidade e equilíbrio emocional hipnotizantes. Mais de 40 respirações de ar fresco …“Muitas vezes me perguntam quantos anos eu tenho…Que importa isso? Tenho a idade em que olho as coisas com mais calma, mas com o interesse de um maior crescimento.Tenho anos quando os sonhos começam a acariciar os dedos, e se transformam em esperança. Tenho anos de amor, às vezes é um flash louco, ansioso para queimar no fogo da paixão desejada. E às vezes um refúgio de paz, como o pôr-do-sol na praia. Quantos anos têm? Não há necessidade de discar um número, que fez os meus desejos, meus triunfos, as lágrimas derramadas pelo caminho quebrado para ver meus sonhos… Vale mais do que isso. Que importa se tenho vinte, quarenta ou sessenta! O que importa é a idade que eu sinto. Tenho os anos que preciso para viver livremente e sem medo o caminho, carregando comigo a experiência e a força dos meus desejos. Quantos anos têm? Isso é que importa!? Tenho os anos necessários para perder o medo em fazer o que eu quero, desejo e sinto.” José Saramago 40 e 50 são um momento peculiar em que você se encontra entre duas gerações que revelam a natureza efêmera da vida, então percebemos que devemos aproveitar e reconciliar nossos mundos. Você deixa de se preocupar com o que passou e o que passará, e começa a desfrutar do que está acontecendo. A partir dos 40 finalmente entendemos que cada pessoa com quem você se depara tem uma função. Algumas pessoas te põe à prova, outras te usam, há aquelas que te amam e te ensinam, mas as pessoas realmente importantes são as que despertam o melhor em você. Elas são e serão as poucas pessoas extraordinárias que te lembram que tudo vale a pena. A magia do momento. “As mulheres da minha geração são as melhores. E ponto. Hoje elas têm quarenta anos, e são lindas, muito lindas, mas também calmas, compreensivas, sensatas e, acima de tudo, diabolicamente sedutoras, apesar dos pés de galinha ou das coxas com celulite, isso é o que as torna tão humanas, tão reais … Lindamente reais.” – Sharon Stone, 48 anos. Muitas mulheres com mais de 40 anos já estiveram em situações difíceis. Podem ter sido renegadas e rejeitadas pela sociedade.Viveram traições e decepções que as amadureceram. Sentiram sua pele se rasgando por separações desonrosas, rejeição e desprezo. Foram feridas pelas flechas ais inesperadas. Elas têm carregado em suas costas grande parte do fardo da vida e, portanto, as mulheres com mais de 40 desenvolveram um sétimo sentido que lhes permite ir mais longe, manter a calma e se conciliar com a vida. Como brincadeira, é dito que uma mulher de 20 anos pode ser atraente, a 30 pode ser sedutora, mas só as com mais de 40 podem ser irresistíveis. Este é o resultado de uma mistura perfeita de experiência e juventude. De alguma forma, a mulher com mais de 40 deu um passo importante na busca de amor. Ela agora se ama mais do que amava há uma década. Não se esqueça, mulher …Os anos têm permitido olhar a vida com mais calma, mas com interesse de maior crescimento. É agora que o amor pode ser impetuoso ou um refúgio de paz. É agora que pode gritar seus medos sem receio e fazer o que quiser, mesmo temendo falhar. Hoje você pode amar, aceitar e abraçar, pois os anos te tornaram uma pessoa muito mais completa, muito mais você mesma.


Fonte: La Mente es Maravillosa- A magia de ser mulher depois dos 40

sábado, 21 de novembro de 2015

"Tu sabes! Não importa o que me aconteça na vida, mesmo que os meus caminhos não sejam junto aos teus, minhas saudades -aquelas irremovíveis- serão sempre tuas." _____________________________________ (Rachel Carvalho)

A poesia está guardada nas palavras
 — é tudo que eu sei.

Manel de Barros
Sou a saudade de um jardim que nunca existiu, de filhos que nem nome têm, de um amor que nunca vivi. Vivo o desafeto de sonhar, sozinha, um amor de cinema. Almejo o inexistente, me digo ser euforia, mas, quando me pergunto se um dia ele virá, transbordo na maldade do tempo. Estranho dizer, mas a minha melhor parte é aquilo que não sei. Então, antes de vir, não me pergunte quem sou, ou como amo. Sou um mistério para mim. Me desvende, me faça não ter onde me esconder, descubra o amor que há aqui dentro, só não me deixe saber disso. Minta para mim, não me deixe enxergar que estou amando, assim, amo como ninguém. Fingindo que não sei amar, te digo, não me faça prometer amores certos e responsáveis, me ganhe no silêncio do vivido, se disponha a ver a cidade acender ao meu lado, o vinho se pôr em bocas diferentes e, se possível, me deixar ser eterna por um instante. Não necessito de mais que um instante, pois, preciso te dizer, a eternidade me assusta. O amor me assusta. A assertividade do que sinto me assusta. Me entregar para um coração que não seja o meu, então, se faz apavorante. O amor, que aqui habita, se faz como um livro, onde poucos foram os que leram algum trecho, e inexistentes foram os que terminaram de ler. Quando sozinha, no silêncio da minha presença, deixo o amor em livro sair. O apanho da estante mais empoeirada da minha livraria e lhe dou a atenção merecida. Pelo menos nas noites em que estamos a sós. O leio em voz alta, para nunca esquecer do que quero sentir, rabisco suas páginas, divido todo o meu eu e, ciente de realmente estar sozinha, choro por somente eu tê-lo lido até ao fim. Depois, o coloco no seu lugar, pois, se eu permitir, ele se deixa ser lido por todos. E, infelizmente, eu ainda não sei dividi-lo…

Fred Elbone- Adaptado

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

'Os apaixonados suspiram. E se apaixonam ainda mais. ' _______________________ Caio F.Abreu

E ela estava nos labirintos
dos 60 segundos ,
dos 60 minutos,
que a encaminhariam
à alguma hora...


(Clarice Lispector)
Você sabe que eu não sei o tom do seu azul. Mas parece que nele, sempre chove. Deve ser de propósito, haja vista, você conhecer minha predileção pelas águas, pelos líquidos sentimentos que são os mais frágeis e os mais fortes, os que vencem as pedras sem que elas sequer percebam. O que eu não sei é lidar com essa alternância. Pedra. Agua. Pedra. Agua. Pedra. Duais. Laterais. Tridimensionais. Excepcionais criaturas que na mistura são iguais. Falo das palavras que compõem até aos pés às minhas tantas mentes que se alternam entre realidades, paralelos, fantasias, caos, cais, porto sem mar, mar sem areia, areia sem sal, sal sem alimento, comida sem fome, fome sem você, você e minha fome, tua fome que me quer, silenciar turbilhões sentimentais é luxo que não nos cabe. Embora seja um luxo poder se dar ao luxo de divagar o inexistente como se a dor fosse real, poder fazer do pranto sua língua quando nada te molha, te falta, poder perambular madrugadas como se tudo fosse nada, e fazer verso, e reverso, e entregar-se à prosas sem nexo, tudo em nome de que...Em nome de que, quem sabe, Uma novidade avassaladora. Uma escapada no tempo. Paciência é advento do que há de vir, o que faz o verbo sorrir, acontecer, porque é disso que deveria se tratar toda palavra, toda rima, toda menção, todo refrão, tem que ser musica, e tem que tocar, e tem que abrir uma coisa alucinante no coração, algo que seja identificável, inegável, irrevogável, algo que supere, ou então sente e espere o próximo trem chegar á estação.

Be Lins

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

“Respirar já é um risco... Imagina o amor"! _________________________ Jornalista e poeta Michelle Ferret.

Promover o acaso é a melhor forma
 de desacreditar no destino.
....


.......
Bibiana Benites
Veio um silêncio delicado de querer se ouvir. Apenas um vento e sua vontade. Assim te escuto na palavra não dita. E observo quieta o teu semblante. Parte de mim te ama. A outra é cúmplice amanhã e depois e feliz. Nunca foi senão um olho que cuida o outro. De amor deito, de outro jeito, amo. Sonho a palavra agora dita, e tatuado de intenções eu te repito: o meu amor é tua cria. A noite, esta senhora de alegrias, concede as luas. Gozemos com as estrelas!

Dan Cezar

“Sim, eu tenho milhares de defeitos, alguns medos, vários problemas. Mas e daí?” ____________________ — Clarice Lispector.

Moça faz da tua alma
teu próprio jardim.

— Floricitar
"Perguntais-me como me tornei louca. Aconteceu assim: Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!” Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim. E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É uma louca!” Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face. Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”Assim me tornei louca. E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendida, aquele que nos compreende esvaviza alguma coisa em nós."



(Khalil Gibran)

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Ela é a inconstância. _____________________ Invernus, 1994.

Me usa, me deduza, me traduza, 
me confunda.
 Me conheça, me reconheça, 
não me dispensa. 
Vem, não vai, fica vai.
 Espera, ouve, te amo, pra sempre.

— Caio Augusto Leite
Já abracei, com tamanha vontade, que mais parecia um beijo. Já tive beijos, onde lhes faltou o aperto, como de um abraço. Já soprei vidas inteiras, nesta vida, em verdades ditas de coração. Já caminhei sem saber por onde ia, e não me perdi. Já fiquei perdido, por saber para onde queria ir, e acabei deitada no chão. Já fui imensas vezes dormir, para poder sonhar. Já vivi os melhores sonhos acordada. Já chorei lágrimas que não saíram. Já soltei sorrisos, do meio do nada, apenas por me lembrar de alguém. Já tive tantas incertezas na vida, que na única certeza absoluta que me apareceu, quase nem acreditava nela.  Já tornei bastante infelizes, pessoas que me amaram. Já acreditei tanto no amor, que deixei de ouvir a razão, e não me arrependo do que fiz. Já magoei por seguir o coração, mas apenas me arrepende, o que não fiz. Já fiquei quando deveria ter ido. Já corri quando realmente deveria ter ficado. Já levitei de felicidade como se tivesse nascido. Já morri tantas vezes de tristeza, melancolia e solidão. Já virei páginas que nem sequer li. Já permaneci meses, num único parágrafo. Já me olhei orgulhosa num reflexo do que via. Já me detestei, ao ponto de ser a ultima pessoa do mundo, a quem queria ver à minha frente. Já disse o que queria, e com isso, ouvi o que não quis. Já quis tanto dizer algo, que o melhor que consegui foi um silêncio. Já tive muitos amigos, que depois me mostraram serem desconhecidos. Hoje sobram apenas dedos das mãos, que nada têm que me mostrar, - Conhecem.me! Já perdi sonhos por se diluírem nas duras realidades. Já ganhei realidades que ultrapassaram os melhores sonhos, e nem sequer tinham sido sonhadas. Se me conheces, - Julga.me!, se não me conheces, - Ajuíza.me!, de preferência à primeira, e não esperes outra impressão para o fazer. - É que eu sou assim todos os dias, um iniciado absoluto, a viver...


| Luís Santos |- Adaptado




quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Eu não sou tão triste assim... é que hoje estou cansada. _________________________ (Clarice Lispector)

O tempo corre, apressando a noite
E eu fico aqui, silenciosa,
esperando um verso amanhe(ser) 
em mim
para que eu adormeça 
P O E S I A


(Wendel Valadares)
- Vem cá, menina, senta aqui que Eu sei que você está cansada. - ele me chamou apontando pra cadeira vazia. - Estou mesmo. - respondi sentada. - Que é isso, hein? Ando exausta esses dias. - Tenho percebido. Também pudera. Você não para! Ocupada, ocupada, ocupada. Sua boca é 'estou ocupada'. Não deixa nem eu te dar uns cheiros. - disse-me ele fazendo cócegas no meu pescoço.- Ah, eu tenho cócegas! - falei entre risos.- Eu sei! Por isso faço. Adoro ver você sorrindo, minha pedra preciosa."


(Rachel Carvalho)- Adaptado




quarta-feira, 11 de novembro de 2015

"Ao rosto vulgar dos dias, a vida cada vez mais corrente, as imagens regressam já experimentadas, quotidianas, razoáveis, surpreendentes." ______________________ Alexandre O'Neill.

Fiquei mais quieta depois que sonhei com o silêncio. 
Eu ando acordando poemas e adormecendo a prosa.


Célia Musilli.
Quando perco o sono fico costurando flores por dentro dos sonhos , no viés do vestido da noite.Às vezes me dá uma vontade crua de ser triste só pra encharcar com lágrimas de sal a poesia e espantar as abelhas.Mas não aprendi amargura nem quando me amamentaram com fel.Eu só preciso pingar duas gotas de lua nos meus olhos pra dilatar a pupila e resgatar minha inocência e aceitar com ternura minha vida de insônias, ardências e alguns (des)encontros. Estou com sede de mudanças, mas não quero arrastar os móveis, nem desentortar os quadros.Quero desabitar meus hábitos; entrar na poeira estagnada das coisas e assoprá-la no vento como quando se liberta um passarinho depois de curar sua asa machucada. Pra estar feliz eu só preciso deixar que meus dedos dancem a coreografia do poema novo,vestir as palavras de cetim pra seduzir o moço e aumentar as exclamações do seu desejo. Amanhecer é da competência dos dias. O poeta tece a paisagem.
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(Marla de Queiroz)

domingo, 8 de novembro de 2015

“Eu quero nós. Mais nós. Grudados. Enrolados. Amarrados. Jogados no tapete da sala. Nós que não atam nem desatam. Eu quero pouco e quero mais. Quero você. Quero eu. Quero domingos de manhã. Quero cama desarrumada, lençol, café e travesseiro. Quero seu beijo. Quero seu cheiro. Quero aquele olhar que não cansa.” ________________________________ Caio Fernando Abreu


Hoje apetece-me mesmo dizer-te que gosto de ti. 
E desejar-te bons sonhos. Calmos. Tranquilos.
Adormecidos.
 Abraçados. Descansados.
 Selados com um beijo. 


- Rita Leston -
Se estivesses aqui apetecia-me um beijo calado: um beijo onde se fecha os olhos e o fôlego se perde. Se estivesses aqui queria o abraço: aquele abraço em que o corpo do outro passa a fazer parte do nosso. Se estivesses aqui apetecia-me o ombro e o colo: aquele ombro que nos aquieta e o colo que nos sossega. Se estivesses aqui apeteciam-me as mãos: mãos dadas; mãos que não deixam cair; mãos que afagam. Se estivesses aqui queria as conversas de fim de dia. Queria o jantar de todos os dias. Queria o beijo de todas as noites. Queria adormecer com o teu respirar no meu pescoço. Com os teus braços como almofada. Queria a birra da manhã e o primeiro café do dia. Queria tudo isto. E mais um pouco. Se estivesses aqui: seriamos um só. Demoras?


- Rita Leston -

“É bonito, não? Duas pessoas se sentirem, se saberem, se precisarem, se amarem, os dois na mesma intensidade…” _____________________ — Shami.

Os afectos. São eles o colo que tanto,
sentidamente damos,
como profundamente precisamos.

Luiz Santos
Ambos estão certos de que uma paixão súbita os uniu. É bela essa certeza, mas é ainda mais bela a incerteza. Acham que por não terem se encontrado antes nunca havia se passado nada entre eles. Mas e as ruas, escadas, corredores nos quais há muito talvez se tenham cruzado? Queria lhes perguntar, se não se lembram - numa porta giratória talvez - algum dia face a face? Um “desculpe” em meio à multidão? Uma voz que diz “é engano” ao telefone? - mas conheço a resposta. Não, não se lembram. Muito os espantaria saber que já faz tempo o acaso brincava com eles. Ainda não de todo preparado para se transformar no seu destino juntava-os e os separava, barrava-lhes o caminho e abafando o riso sumia de cena. Houve marcas, sinais, que importa se ilegíveis. Quem sabe três anos atrás ou terça-feira passada uma certa folhinha voou de um ombro ao outro? Algo foi perdido e recolhido. Quem sabe se não foi uma bola nos arbustos da infância? Houve maçanetas e campainhas, onde a seu tempo, um toque se sobrepunha ao outro. As malas lado a lado no bagageiro. Quem sabe numa noite o mesmo sonho que logo ao despertar se esvaneceu. Porque afinal cada começo é só continuação e o livro dos eventos está sempre aberto no meio.


sábado, 7 de novembro de 2015

"...não sou tola a ponto de descartar a tão gostosa possibilidade de amar. Só fico na espreita, pensando em como o vento irá soprar amanhã e trazer a solução do meu sorriso." ________________________

O verbo amar não 

se conjuga sem você.

- Tom Jobim
Eu que escrevo e, brinco de amar o impossível, sei que o meu amor é perene. Mas para os que brincam de desacreditar no amor, esses pouco sabem sobre como o amor está presente na vida de todos e, talvez, mais fortemente quando nos esforçamos para ele estar ausente. Simples ânsia essa de amar e encontrar um sorriso vizinho que vire amor maior e enlouqueça a alma em busca do incerto. Sem interrogações, sem definições, sem dizeres estipulados, sem tamanhos ou mensurações tangíveis.
Nossos limites são ilusões, são amores que se foram e nem por isso deixaram de ser amores. Amor-gangorra, que vai e nem sempre vem, mas que, um dia, nos dará a graça da sua aparição alegre a ponto de transformar amores repentinos em um lindo pedaço de eternidade.

Frederico Elbone

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Resta-me saber se a saudade cabe numa canção que havíamos sonhado juntos. _______________________ Adilson Shiva


A Esperança é o mais Frágil dos Sentimentos.

Mia Couto
Amaneira de reagir à saudade e à tristeza é ter um coração bom e uma cabeça viva. A saudade e a tristeza não são doenças, ou lapsos, ou intervalos, como se diz nos países do Norte. São verdades, condições, coisas do dia a dia, parecidas com apertar os atacadores dos sapatos. É banalizando-as que as acompanhamos. Um sofrimento não anula outro. Mas acompanha-o. Para isto é preciso inteligência e bondade. Aquilo que resta são as pequenas alegrias. No contexto de tamanha tristeza e tanta verdade tornam-se grandes, por serem as únicas que há. Não falo nas alegrias que passam, como passam quase todas as paixões. Falo das alegrias que se tornam rotinas, com que se conta: comprar revistas, jantar ao balcão, dormir junto do mar, dizer disparates, rir. Coisas assim. São essas coisas — entre as quais o amor — que não se podem deitar fora sem, pelo menos, morrer primeiro. 

Miguel Esteves Cardoso, in 'As Minhas Aventuras na República Portuguesa'

Acredite, sinto sua falta. Sinto falta daquilo que o padre nem disse e do “sim”, que nunca pude gaguejar de cima do altar. Quer saber mesmo? Sinto falta daquilo que nem fizemos e das infinitas coisas que fizemos de conta que faríamos. ________________________ Ricardo Coiro

Sobra só essa loucura,
que ninguém segura no meu coração.
Acredito que a verdade é que fomos feitos para nos encontrar e trocar esperanças. Nos próximos amores (se houverem), na vontade de viver, na ânsia de encontrar alguém que construa na gente o seu lugar. Não era para ficarmos juntos uma vida inteira, nem, como imaginei, para construirmos castelos de sonhos e companhias. Era para nos provarmos como a paixão sempre nos dá pistas da sua existência. Ela simplesmente é uma paixão de anos e dias inteiros que me fez acreditar no poder que a vida tem em distribuir momentos lindos. Nem todos momentos vêm completos e precisam ser infindáveis, às vezes, algumas coisas surgem e criam uma pequena e linda ponte para, do outro lado, encontrar um coração que também queira um lar calmo para morar./Não é no anelar, mas é na ponta dos dedos a nossa aliança. Ali está a sensibilidade, ali está a energia que faz de nós vulcão e brisa de mar. (...)Nossa aliança é a minha inocência em amar as pessoas e a sua resistência em acreditar que seja possível amar tanto. É a minha vontade de pedir desculpas por qualquer coisa que eu não tenha feito e a sua mão firme, segurando a minha, e dizendo “calma, essa solidão vai passar”.Nossa aliança é o choro cúmplice que temos quando temos medo de que a febre nunca passe. É a fragilidade que escorre em lágrimas porque não tem motivo para esconder: está escancarada nos olhos.Nossa aliança é a certeza de que não precisamos um do outro, mas nos queremos acima de qualquer coisa. Uma aliança é circular porque não tem começo, nem fim. O que nos une é a certeza de que o amor é um eterno recomeço.


Trechos escritos de Frederico Elbone e Marina Melz