sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Os escritores ruins estão todos vestidos, pobrezinhos. Estão de fraque, cartola, traje de festa, joias de vidro. Já os bons escritores, sem se darem conta disso, sem se vagloriarem de sua coragem, estão sempre nus.


Não quero um amor exibido, de tela grande, explicando cada pedaço de uma trajetória coerente pra milhares de pessoas que nada tem a ver com a gente. Quero um amor minimalista, que acontece na sala, na padaria, no quarto, nas primeiras mensagens e, de repente, você apareceu aqui, nasceu na minha cama como se nunca tivesse nascido em outro lugar antes, como se a história já começasse do meio e a gente já começasse se amando. Não quero um amor que dure só 90 minutos nem quero créditos finais rápidos. Quero um amor que se desenvolva no ritmo de uma trilha sonora escolhida a mãos inquietas que passeiam por coxas, que abrem zíperes, que fazem estrago em cachos, que segurem com força pra não deixar vendaval nenhum levar a gente pra longe. Não quero um amor que exija traje ou perfume. Quero um amor cru, com cheiro de pele e bastante suor, com saliva pelo corpo todo pra eu me sentir mais gente. Quero unhas e carne, entranhas expostas, nada de gemido abafado. Quero que você fale o que vier à mente e o que quiser esconder de mim, tudo bem, eu respeito os teus segredos. Um dia você se conforta e se abre, me abre, conta comigo e conta pra mim. Que amor tem disso de esconde-esconde até não conseguir esconder mais nada. Não quero um amor com fim definido. Por que é que a gente não pode deixar o fim pra lá e continua uma história com 365 ou quantos dias quiser? Quero que seja, quero que esteja, quero um amor pra dormir do teu lado e bocejar, desgrenhar o cabelo, acordar com remela e beijar mesmo assim, toda aquela parte que o cinema não mostra. Quero você na tela pequena do quarto, nos bastidores do banheiro enquanto você faz a barba e te passo mais sabão só pra te atrasar mais um pouco. Quero tanto que nem ligo se a gente não for sucesso de crítica ou se não pegar o bonequinho de ouro no domingo. Eu só ligo pra você e desligo a TV quando quero desligar do mundo. Eu quero um amor como o nosso, que acontece mesmo sem encenação, sem bilheteria de sucesso, que passa em lugar nenhum a não ser dentro da gente. Eu quero.”

Eu também, Daniel, querido, eu também quero.


Stella Florence

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

To vendo filme demais... Ai, como eu me iludo!"

 
"Existe mesmo o "tempo certo das coisas"? E se o certo ceder as pontas? E se o certo perder a linha? E se o certo for esse - exatamente esse - errado que não passa, que não para pra desesperar a tua ausência? E
se, no fundo, não existir tempo algum que se estabeleça, que dia a gente inventa? Até quando o peito aguenta? Quem vai abrir mais um dia dentro da minha esperança? E se a espera perder a paciência? E se a ciência perder a cabeça, a gente se entrega? A gente se encontra? A gente se ama?"

-Priscila Rôde-

domingo, 28 de novembro de 2021

Dias de fome, cafuné de um amor. Encolho, pássaro mudo. Voar é silêncio de gozos. Meu vento tem cheiro de um bilhete. Afinidade com Deus não é tão simples. O sagrado exige. ___________________________ Dan Cezar

Out/2021


Ele não sabe mais nada sobre mim. Não sabe que o aperto no meu peito diminuiu, que meu cabelo cresceu, que os meus olhos estão menos melancólicos, mas que tenho estado quieta, calada, concentrada numa vida prática e sem aquela necessidade toda de ser amada.

Ele não sabe quantos livros pude ler em algumas semanas. Não sabe quais são meus novos assuntos nem os filmes favoritos. Ele não sabe que a cada dia eu penso menos nele, mas que conservo alguma curiosidade em saber se o seu coração está mais tranquilo, se seu cabelo mudou, se o seu olhar continua inquieto.
Ele nem imagina quanta coisa pude planejar durante esses dias todos e como me isolei pra tentar organizar todos os meus projetos. Ele não sabe quantos amigos desapareceram desde que me desvencilhei da minha vida social intensa. Que tenho sentido mais sono e ainda assim, dormido pouco. Que tenho escrito mais no meu caderno de sonhos. Que aqui faz tanto frio, ele não sabe por mim.
Ele não sabe que eu nunca mais me atentei pra saudade. Que simplesmente deixei de pensar em tudo que me parecia instável. Que aprendi a não sobrecarregar meu coração, este órgão tão nobre. Ele não sabe que eu entendi que se eu resolver a minha dor, ainda assim, poderei criar através da dor alheia sem precisar sofrer junto pra conceber um poema de cura.
Hoje foi um dia em que percebi quanta coisa em mim mudou e ele não sabe sobre nada disso. Ele não sabe que tenho estado tão só sem a devastadora sensação de solidão. Ele não sabe que desde que não compartilhamos mais nada sobre nós, eu tive que me tornar minha melhor companhia: ele nem imagina que foi ele quem me ensinou esta alegria.


Marla de Queiroz



Livro QUANDO AS PALAVRAS SE ABRAÇAM.

.


Romances são folhas em árvores de verão. Lindas folhas à balançar ao sabor da brisa quente que embala noites e dias de sol e de lua, mas que finda a temporada, precisa seguir viagem para o outono da vida, e suportar o inverno das distâncias e saudades, e ressurgir nas Primaveras para arder de novo e de novo a cada verão, enquanto folha for. O resto é trabalho para o ouvir, abraçar, acarinhar, curar, passear, mimar, DAR IMPORTÂNCIA, verbos tão meus......


Meu Jardim -29-10-2021
Por todas as histórias findas, antes de ser tornarem lindas, gratidão. Por tudo o que foi desfeito, pela falta de calor e jeito, gratidão. Por não ter o que eu queria, estar próximos apenas pela geografia, gratidão. Por ter dado certo por pouco tempo, contrariando a vontade do momento, gratidão. Por todo o amor genérico e sentimentos falsificados, gratidão. Por tanto ter sido tão pouco, apenas o potencial do fogo, gratidão. Por todo afeto inútil e lixo emocional, gratidão. Pelas histórias tão breves, predispostas a causar feridas, gratidão. Por todos os parcos amores não terem ficado em minha vida, gratidão. Pois meu coração estava livre e vazio pra você chegar doce e macio se instalando em cada vão.


Gratidão.



Marla de Queiroz

"Sem aviso, o vento vira uma página da vida" _______________ Helena Kolod.

Represa Jurumirim Avaré SP_
Todo dia ajustar um pouquinho o olhar, os gestos, os pensamentos, revisitar os sonhos e atualizar a lista de bênçãos e aspirações. Contemplar tanto e lembrar que, na escrita, isso também é produtivo. Ter aquela hora do dia em que alguma coisa é gatilho pra ansiedade e lembrar que os gatilhos existem, mas que tem também aquela outra hora em que eu me observo sendo feliz e constato "nossa, como a alegria me cai bem!": é pra guardar tudo isso na memória do corpo: "células nervosas que disparam juntas permanecem conectadas". Se você entende a estrutura fica mais simples. Faz frio às vezes, chove na praia, mas o rosto virado pro oeste recebe o vento úmido e pensa: quantas sensações cabem nesse instante? Vocês já perceberam que quando a gente tá agoniada não consegue apreciar nem a paisagem mais bonita? Vocês já perceberam que quando a gente tá sossegada até a nuvem chumbo traz leveza? Pois eu tento estar preparada para as coisas incríveis ensinando o coração: se essa fosse sua última oportunidade de contemplar a beleza você ia escolher mirar o pôr do sol imaginando como será o nascente? Às vezes a razão é quem ensina o coração a ser inteiro. Tem muita sabedoria nos clichês. Então eu só consigo falar de amor se for assim: dentro da paisagem, do processo, da estrutura, da trama, da teia, das sinapses porque isso é tudo o que eu tenho vivido ultimamente. Porque eu passei tempo demais explorando apenas universos alheios: foi necessário, sempre tinha algo fabuloso, mas se você fica muito tempo só mergulhado ali, você só vê aquilo que o Outro quer mostrar, ou o que você acha que captou do que o Outro não quis mostrar. Criar ilusões pode virar uma especialidade e você precisa de uma sucessão de ilusões para sustentar a primeira. Descriá-las depois é uma desconstrução tão profunda que pode custar tudo o que você tem. Resta fazer todo o caminho de volta, mentalmente, até chegar naquele lugar do "ah, então foi aqui que eu comecei a me autoboicotar... mas quem eu posso ser além dessa dor?"




Marla de Queiroz



 



terça-feira, 16 de novembro de 2021

"Flor incrível que pareça, flor(em)si. Aconteça o que aconteça, foi quando você chegou em mim, que eu aconteci." _______________________ Lilian Vereza

Arquivo Pessoal
Ela nasceu na estação das flores, tem um perfume nos sonhos e muito mais pétalas do que raízes. Ela tem um jeito desajeitado de sentir alto, de ser muito, de estar o tempo todo de braços dados com o sorriso. Ela sabe de cor a pose que a liberdade faz, tem uma doçura nos pensamentos e um encantamento urgente por tudo que vem de dentro.Ela tem mira e tem o arco e a flecha na mão, mas o alvo, tantas vezes é uma miragem, uma armadilha da intuição. Mesmo assim ela acredita, é doce e inquieta, brinca de existir como quem não tem medo do abismo. Atravessa mares, olhares, faz pontes em corações partidos. Ela tem arte na veia, cor de pôr do sol e um coração vivido. Ela age por impulso, chora de tanto rir, brinca de fotografar a vida fazendo abrigo nos breves instantes de felicidade. Tudo que mora dentro dela é muito inteiro pra ser metade.


Lilian Vereza

domingo, 7 de novembro de 2021

"(...) refleti que no fim todos passam e tudo passa; o fim é um grande sossego e um imenso perdão." ______________________ Rubem Braga

METADE 


Que a força do medo que tenho 
Não me impeça de ver o que anseio; 
Que a morte de tudo em que acredito Não me tape os ouvidos e a boca; 
Porque metade de mim é o que eu grito, 
Mas a outra metade é silêncio...                                                     


Que a música que eu ouço ao longe Seja linda, ainda que tristeza; 
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada Mesmo que distante; 
Porque metade de mim é partida Mas a outra metade é saudade... 


Que as palavras que eu falo 
Não sejam ouvidas como prece 
E nem repetidas com fervor, 
penas respeitadas como a única coisa que resta 
A um homem inundado de sentimentos; 
Porque metade de mim é o que ouço 
Mas a outra metade é o que calo... 

 Que essa minha vontade de ir embora 
Se transforme na calma e na paz que eu mereço; 
E que essa tensão que me corrói por dentro 
Seja um dia recompensada; 
Porque metade de mim é o que penso 
Mas a outra metade é um vulcão... 

Que o medo da solidão se afaste 
E que o convívio comigo mesmo Se torne ao menos suportável; 
Que o espelho reflita em meu rosto 
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância; 
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, 
A outra metade eu não sei... 

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito 
E que o teu silêncio me fale cada vez mais; 
Porque metade de mim é abrigo 
Mas a outra metade é cansaço... 

Que a arte nos aponte uma resposta 
Mesmo que ela não saiba 
E que ninguém a tente complicar 
Porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer;
 Porque metade de mim é platéia 
E a outra metade é canção... 

 E que a minha loucura seja perdoada 
Porque metade de mim é amor 
E a outra metade... também. 



 Oswaldo Montenegro

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Eu me importo...


Noite regadas a um gostoso café e risos descomprometidos com lógica. Pode contar que eu me importo com confissões sejam elas inusitadas, amorosas, alegres, infantis. Apenas me importo. Eu me importo com a chuva, as noites estreladas, os dias ensolarados. Eu juro que me importo com as palavras engasgadas, os silêncios amorosos, a súplica pelos beijos, os abraços intermináveis. Eu me importo com os rodapés, que passam instruções, ou mandam recados que entram porta a dentro de nossa alma. Eu me importo com a literatura que causa, fazendo acontecer algo dentro da gente. Com os sentimentos capazes de juntar as mais diferentes pessoas na mesma mesa, seja do bar, da cozinha ou da copa. Com tudo que chega trazendo alegria, com tudo que vai e liberta a alma. Eu me importo com as rimas, com o poeta, com o amor plantado à duras penas, com quem nunca careceu de aprovação para viver. Sim senhor, eu me importo, desde que as mágoas sejam passageiras, o tempo suficiente de na impossibilidade de lutar, deixar pra lá, até cair no esquecimento. Ressaca amorosa e mágoa guardada, só serve para coibir a alegria. Não desce nem com vinho da melhor qualidade. E isso, não me importa.

Ita Portugal

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Eu vivo em pleno estado de GRATIDÃO....... (Marla de Queiroz)

Inaugurou um novo capítulo: uma garoazinha de tristeza, uma saudade entreaberta, e o vento aborrecido. Sudoeste querendo abraçar tudo. E ela vagueando por aí sem nenhuma palavra que arranhasse o silêncio. O tempo contido nas coisas, os dias aprisionados na ansiedade já não deslizavam pelo calendário. Esperança já nem suspirava. Não havia espera de nada, apenas a companhia corriqueira: ela e a solidão_ mão com mão, rostos sem face. Já não desejava amores nem intrigas de paixão alguma: sossegou-se na solitude aceitando aos poucos o tempo alargado para se preencher com improvisos, sem horários rígidos, sem avisos. Preencheu de paz o espaço novo do coração esvaziado.(Dizem que a Primavera chega trocando a roupa da paisagem). E no auge da sua descrença o dia amanheceu de novo. Quando não queria mais fugir de si mesma, foi surpreendida por uma voz de timbre limpo, olhos atenciosos e mãos que diziam coisas. Era alguém que tranquilizava quando apenas sorria. Uma pessoa que trazia em si o amparo de tudo. Tinha o dom da conveniência e da clareza e pronunciava reciprocidade. O fato resumindo é que o amor não era mais aquele estardalhaço. O amor era suave e tinha um jeito de penetrar sem invadir, de libertar no abraço. O amor não era mais aquela insônia, mas sonho bom na entrega ao desconhecido. O amor não era mais a iminência de um conflito, mas uma confiança na vida. E, pela primeira vez, o amor não carregava resquícios de abandono, pois havia descoberto: o amor estava ali porque ambos estavam prontos.
(O Tempo estava certo.) 


 * Marla de Queiroz Do meu livro QUANDO AS PALAVRAS SE ABRAÇAM. (vendas pelo direct. Envio com dedicatória

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

"Feito flor abraçada por borboleta. Feito café da tarde com bolinho de chuva. Onde, em vez de nos orgulharmos por carregar tanto peso, a gente se orgulha por ser capaz de viver com mais leveza." Ana Jácomo

Eu ainda sou essa poesia que rima e (des) rima.
Que faz prosa, só pra caber na tua fala.
Me faço e refaço, basta ser papel em branco a me tocar.
Sou poesia inacabada, esperando construção.
Sou pontuação, sou reflexo do que leio.
Ás vezes sou repetição.


Mas, de tudo que sou, gosto de ser vento, daqueles que sopra pra longe qualquer aflição.


Patrícia Rocha

 

domingo, 23 de maio de 2021

Foi o vento… sossega, meu coração! Às vezes o vento parece falar…

O amor sempre será esse lado menos exposto, arranhado no corpo, com ares de futuro. Se entrega à próxima composição, mas segura os sinais. Desabotoa represas, mas encolhe os canais. Suspenso-lento-ardendo. O amor sempre será esse teu lado que não desemboca, que não vem à tona, que não vale meu sopro, minha noite, minha pena, meu poema. Não diz, não age, é inerte, insosso, imaturo, indeciso, impreciso ao que preciso, agora. Quanto mais abandona, mais me encontra: providencial; um lado meu que só renasce porque te espera. Acredita ainda, e envelhece. Renasce porque te melhora. Renasce para que no ventre dessas entregas, uma palavra pequena aborte as próximas distâncias. Uma palavra só, ou uma ponta de coisa-qualquer que valesse uma poesia. O amor sempre será esse hiato que não se desenvolve. Essa pedra que onda bate e não se dissolve. [...]"


____Cáh Morandi & Priscila Rôde

sexta-feira, 21 de maio de 2021

Entrego, Confio, Aceito e agradeço! Um mantra! Que a vida fica mais leve e fácil assim!



Sentou-se à beira-mar pra entender o vento. De onde vinha, pra onde ia. Que segredos trazia, se respostas e acalantos o vento oferecia e levava embora consigo. Refletia os sorrisos de ontem, as vontades de hoje, a incerteza do amanhã. Embaralhava suas memórias, seus quereres e expectativas ao passo que a brisa do mar tocava seu rosto e beijava seus ouvidos. A moça queria tudo. Queria entender os mistérios do tempo e desvendar suas fases. Os motivos dos tombos, as certezas das escolhas, as lágrimas de estafa. Não percebia as transições, julgava os dias iguais, não enxergava as respostas tão óbvias preocupada demais com os dias de amanhã. Não entendia que fases foram feitas pra passar.Na cegueira, fugiam-lhe os detalhes que a transportavam de um período a outro. A notícia que chega, o abraço recebido, a segunda chance, a força desconhecida, a palavra entoada, os planos arquitetados, os caminhos percorridos, os desafios superados, as dores que ensinam, os sorrisos que curam, os obstáculos transpostos, os desejos, as verdades, os recomeços. O simples despertar num dia novo. Distraída, não percebia nada. Mas se sabia errada. Num gesto furtivo, olhou pro céu e viu a lua que chegava. Nova. Aceitou o sinal. Num salto, molhou os pés e se despediu da beira-mar. Foi sem saber o que aquelas ondas acabavam de lhe ensinar. As minúcias do tempo dando sinal a cada chegada e retorno das ondas. O movimento contínuo e, no entanto renovado. Ondas que vinham e voltavam, quebravam e reconstruíam, brindavam e arrastavam. E misturavam sonhos e ciclos as ondas inquietas do mar. A moça não sabia mas o vento anunciava que uma nova fase acabara de chegar. A moça em breve descobriria que seus passos e seu coração (re)começavam a mudar.

Ela não sabia mas correu dali pra se entender com o tempo.


Yohana Sanfer

sexta-feira, 2 de abril de 2021

"Sim, a cruz diz muitas coisas, mas possivelmente uma das suas maiores mensagens seja: 'Eu sei como você se sente".

Então, Josias celebrou a Páscoa ao Senhor em Jerusalém; e mataram o cordeiro da Páscoa no décimo quarto dia do mês primeiro. 2 E Josias estabeleceu os sacerdotes nos seus cargos e os animou ao ministério da Casa do Senhor. 3 E disse aos levitas que ensinavam a todo o Israel e estavam consagrados ao Senhor: Ponde a arca sagrada na casa que edificou Salomão, filho de Davi, rei de Israel; não tereis mais esta carga aos ombros; agora, servi ao Senhor, vosso Deus, e ao seu povo de Israel. 4 E preparai-vos segundo as casas de vossos pais, segundo as vossas turmas, conforme a prescrição de Davi, rei de Israel, e conforme a prescrição de Salomão, seu filho. 5 E estai no santuário segundo as divisões das casas paternas de vossos irmãos, os filhos do povo; e haja para cada um uma porção das casas paternas dos levitas. 6 E imolai a Páscoa, e santificai-vos, e preparai-a para vossos irmãos, fazendo conforme a palavra do Senhor, dada pelas mãos de Moisés. 7 E ofereceu Josias aos filhos do povo cordeiros e cabritos do rebanho, todos para os sacrifícios da Páscoa, em número de trinta mil, por todos que ali se achavam, e, de bois, três mil; isso era da fazenda do rei. 8 Também fizeram os seus príncipes ofertas voluntárias ao povo, aos sacerdotes e aos levitas; Hilquias, e Zacarias, e Jeiel, maioral da Casa de Deus, deram aos sacerdotes para os sacrifícios da Páscoa duas mil e seiscentas reses de gado miúdo e trezentos bois. 9 E Conanias, e Semaías, e Natanael, seus irmãos, como também Hasabias, e Jeiel, e Jozabade, maiorais dos levitas, apresentaram aos levitas, para os sacrifícios da Páscoa, cinco mil reses de gado miúdo, e quinhentos bois. 10 Assim se preparou o serviço; e puseram-se os sacerdotes nos seus postos, e os levitas, nas suas turmas, conforme o mandado do rei. 11 Então, imolaram a Páscoa; e os sacerdotes aspergiam o sangue recebido nas suas mãos, e os levitas esfolavam as reses. 12 E puseram de parte os holocaustos para os darem aos filhos do povo, segundo as divisões das casas paternas, para o oferecerem ao Senhor, como está escrito no livro de Moisés; e assim fizeram com os bois. 13 E assaram a Páscoa no fogo, segundo o rito, e as ofertas sagradas cozeram em panelas, e em caldeiras, e em frigideiras, e prontamente as repartiram entre todo o povo. 14 Depois, prepararam o que era preciso para si e para os sacerdotes, porque os sacerdotes, filhos de Arão, se ocuparam até à noite com o sacrifício dos holocaustos e da gordura; por isso é que os levitas prepararam para si e para os sacerdotes, filhos de Arão. 15 E os cantores, filhos de Asafe, estavam no seu posto, segundo o mandado de Davi, e de Asafe, e de Hemã, e de Jedutum, vidente do rei, como também os porteiros, a cada porta; não necessitaram de se desviarem do seu ministério, porquanto seus irmãos, os levitas, preparavam o necessário para eles. 16 Assim se estabeleceu todo o serviço do Senhor naquele dia, para celebrar a Páscoa e sacrificar holocaustos sobre o altar do Senhor, segundo o mandado do rei Josias. 17 E os filhos de Israel que ali se acharam celebraram a Páscoa naquele tempo e a Festa dos Pães Asmos, durante sete dias. 18 Nunca, pois, se celebrou tal Páscoa em Israel, desde os dias do profeta Samuel, nem nenhuns reis de Israel celebraram tal Páscoa como a que celebrou Josias com os sacerdotes, e levitas, e todo o Judá e Israel que ali se acharam, e os habitantes de Jerusalém. 19 No ano décimo oitavo do reinado de Josias, se celebrou essa Páscoa. Josias provoca o rei do Egito e é morto  20 Depois de tudo isso, havendo Josias já preparado a casa, subiu Neco, rei do Egito, para guerrear contra Carquemis, junto ao Eufrates; e Josias lhe saiu ao encontro. 21 Então, ele lhe mandou mensageiros, dizendo: Que tenho eu que fazer contigo, rei de Judá? Quanto a ti, contra ti não venho hoje, senão contra a casa que me faz guerra; e disse Deus que me apressasse; guarda-te de te opores a Deus, que é comigo, para que não te destrua. 22 Porém Josias não virou dele o rosto; antes, se disfarçou, para pelejar com ele; e não deu ouvidos às palavras de Neco, que saíram da boca de Deus; antes, veio pelejar no vale de Megido. 23 E os flecheiros atiraram no rei Josias; então, o rei disse a seus servos: Tirai-me daqui, porque estou gravemente ferido. 24 E seus servos o tiraram do carro, e o levaram no segundo carro que tinha, e o trouxeram a Jerusalém; e morreu, e o sepultaram nos sepulcros de seus pais; e todo o Judá e Jerusalém tomaram luto por Josias. 25 E Jeremias fez uma lamentação sobre Josias; e todos os cantores e cantoras falaram de Josias nas suas lamentações, até ao dia de hoje; porque as deram por estatuto em Israel; e eis que estão escritas na coleção de lamentações. 26 Quanto ao mais dos atos de Josias, e às suas beneficências, conforme está escrito na Lei do Senhor, 27 e aos seus atos, tanto os primeiros como os últimos, eis que estão escritos no livro da história dos reis de Israel e de Judá.

2 Crônicas 35

Assim como a primeira Páscoa marcou a libertação dos hebreus da escravidão egípcia, a morte de Cristo marca a nossa libertação da escravidão do pecado (Romanos 8:2). Assim como a primeira Páscoa devia ser realizada em memória como uma festa anual, os cristãos devem relembrar a morte do Senhor através da comunhão do Senhor até que Ele volte
(1 Coríntios 11:26).



quarta-feira, 10 de março de 2021

Mulheres são donas dos labirintos. Os cegos de alma e de amor se perdem nelas. ________________ Fernando Coelho



Há uma outra mulher oculta em ti. Desmintam os outros, desconversem os amigos, ignorem os familiares. Há uma outra mulher e uma outra vida ocultas sob o teu próprio corpo, por ora invisíveis aos teus próprios olhos, mas tuas por sagrado direito. Uma mulher não mais regida pelos signos do zodíaco ou pela insegurança. Uma a não depender da sorte ou se entregar ao destino enquanto se aguarda. Uma que não se prestará aos medos ou às migalhas. Há uma mulher oculta em ti, que aprendeu a desculpar a si e a perdoar os outros. Uma que não mais carrega os dramas afetivos do passado, as complicações com seus pais e ausências tantas que ocupam no coração, lugar reservado ao amar. Uma mulher que aprendeu a prestar contas somente à liberdade e não mais aos olhos de ninguém. Uma mulher que descobriu no travesseiro caberem sonhos e não tristezas. Há uma mulher oculta no teu sangue, desmintam os médicos, desconversem as carências, ignorem os familiares, que aprendeu a dispensar e a despedir. Que sabe se cuidar sozinha, que sabe se curar sozinha, porque sabe se amar sozinha. Há uma mulher oculta sob o teu próprio nome, que desaprendeu ansiedades e ressentimentos. Uma que descobriu ser maior do que jamais pensou um dia se tornar e que te aguarda paciente para isto. Uma que te verá aportar na tua própria leveza com teus tons de milagre. Há uma mulher oculta na outra margem de ti, distante dos cansaços e das resignações; que aguarda tomar o teu lugar e se permitir falar, chorar e gozar da alma, do corpo e dos cálices de vinho. Uma que confessará desejos, expulsará demônios e idiotas. Uma mulher que cravada em tua carne e feita de estrelas não te adoecerá dos escuros porque deixou de acreditar neles no instante que amanheceu. Há uma outra mulher oculta em ti a querer fazer-te outra e torná-la pública, como principal personagem no palco da tua vida, sem vergonhas, mágoas e chances perdidas. Tu és a bela adormecida oculta a si mesma que não se deu conta que o que esperas é o teu amor próprio despertar-te para si e fazer-te feliz para os sempres.


Guilherme Antunes

quarta-feira, 3 de março de 2021

Volta e meia entro numa cilada meio exotérica – nem sei bem como isso funciona, mas entro – e passo a acreditar em nuvens de algodão... ______________________________________ Marina Melz

Descansar a cabeça doente em areias claras. Não sentir culpa ao mimar os olhos com as reverências das ondas. Pensar nele de vez em quando. Nos objetivos, sempre. E desejar a água de coco mais gelada. O silêncio acobertando inquietações. As conclusões erguendo-se abatidas. Uma esperança de que nada mude. Mas que graça teria se tudo permanecesse? Cansar-se do conforto produz estímulo. Temperar a vida buscando momentinhos felizes. Posso pensar mais um pouco? Enquanto observo o mar escurecer cheio de adeus. Posso? Posso saciar a mágoa com lágrimas? E posso protegê-las da exposição? Só quero encontrar alguma coisa que sei bem o que é. Mesmo assim venho sonhando, durante as tardes, que preciso. No momento, minhas boas intenções sofrem. Minhas mãos. As ideias. A segurança. E tudo pode parecer tão recente. O grito sem propósito. Eu não deveria ter passado a tinta por cima da angústia que me cerca. Mas que outro jeito conheço eu para escapar das tristezas? Quero continuar seguindo. De perto. De longe. Com algumas restrições. Revezo a atenção entre consequências e bisbilhotadas ao céu que se maquia de vermelho. E decido. Me interromper? Nunca.

Priscila Nicolielo

domingo, 28 de fevereiro de 2021

"(...) refleti que no fim todos passam e tudo passa; o fim é um grande sossego e um imenso perdão." ____________________________Rubem Braga

imag: Arquivo pessoal
Apesar de todos os medos, escolho a ousadia. Apesar dos ferros, construo a dura liberdade. Prefiro a loucura à realidade, e um par de asas tortas aos limites da comprovação e da segurança. Eu, Daniela, sou assim. Pelo menos assim quero fazer: a que explode o ponto e arqueia a linha, e traça o contorno que ela mesma há de romper.A máscara do Arlequim não serve apenas para o proteger quando espreita a vida, mas concede-lhe o espaço de a reinventar. Desculpem, mas preciso lhes dizer: Eu quero o delírio. 


\Lya Luft           
                                                                                                              IMG: ARQUIVO PESSOAL

sábado, 27 de fevereiro de 2021

Ela anda em liberdade pelo mundo e, vez ou outra, realiza pequenas pausas para sonhar... Na presença de café, livros e música, esquece deliciosamente o caminho de volta... _______________________ Tatiana Kielberman

Tomara que meu vestido caia quando seus olhos percorrerem meu corpo. Duvida dos meus arrepios e continue, não para. Beija meus lábios entreabertos, desenha minha silhueta com seu toque, me provoque com suas mordidas, sinta meu cheiro. Arrisque vagabundagem e segure meus seios. Escute meus gemidos, trance nossas pernas. Feche meus olhos, diga que me quer, sussurre, me ensine a querer mais. Encoste seu corpo no meu, sinta meu suor. Coloque uma música, fale sobre você, minta fingindo demonstrar interesse sobre mim também. Ria da minha falta de experiência. Me abraça, me esquenta, bagunça o meu cabelo. Seja doce. Repare. Veja como fico quando quer ir. Note que qualquer sopro seu me chacoalha. Me observe enquanto eu durmo. Tire a camisa, me ensine a desabotoar seu coração. Me envergonhe tirando sua bermuda. Caminhe ao meu lado, me embriague com teus beijos, me morda com delicadeza. Dance dentro de mim com seus movimentos, enquanto dou nome a melodia para nossa música. Delire, insista e queira mais. Enrosque sua barba no meu cabelo. Entrelace nossas mãos, enrosque nossos corpos, grude nossa pele. Seja leve. Tomara que meu vestido caia enquanto você mostra sua urgência e me toca com a suavidade dos seus dedos. Me empresta uma camisa tua, divida seu travesseiro. Encosta minha cabeça no seu peito, me puxe, me lambe. Não falemos de amor, mas saibamos amar. Não se zangue ao me ver fraquejar. Fale baixinho, gargalhe comigo. Deite ao meu lado, me entenda, sorrias palavras desconexas. Questione minha timidez, escute meu silêncio. Perca o juízo, me bata. Seja inteiro. Se eu gaguejar, me beija. Se eu recuar, me puxe. Se eu ficar tensa, me anime. Se eu te amar, fica. Seja meu. Não precisamos de promessas, de declarações, de frases feitas. Que vivamos de falta de fôlego, gozos, suspiros. Mostra que posso ir além, porque é quando saímos da zona de conforto, que a magia acontece. Tomara que você se dissipe em mim, enquanto me moldo em você.


#anadamata- https://www.facebook.com/cartaspv/

sábado, 13 de fevereiro de 2021

"O amor começa tarde..." ________ Drummond

Drummond dizia que “amor é o que se aprende no limite, depois de se arquivar toda a ciência, herdada, ouvida; amor começa tarde”. Penso que confundimos a vontade de desvendar o outro, a sede insaciável da presença e a admiração, com o amor. O amor, mesmo, é o que começa tarde. O amor começa não na magia embriagante que é, munidos de uma curiosidade que reduz o mundo ao outro, tocar uma vida pela primeira vez; mas no encantamento que resiste – e aumenta – quando a convivência já houver recheado nossa memória com registros de todas as variações minúsculas de gestos e sorrisos que dela provêm; quando as marcas de loucura já tiverem sido captadas e tomadas como poesia e o sofrimento alheio escorrido de nossos olhos. O amor começa não nos diálogos agradáveis e engraçados, não no bem estar e admiração mútuas que as palavras trocadas são capazes de fornecer: isso é o que nos convida a abrir a porta e ir deixando alguém entrar. O amor começa tarde. Começa quando nem todos os momentos compartilhados requerem palavras que externem aquilo que se sente, simplesmente por estarmos tão conectados a alguém a ponto de olhar nos olhos e apenas com uma troca de sorrisos carregar a tranquilidade que o nosso coração sente ao confirmar que o do outro está sentindo o mesmo, de que ele está ali, compartilhando daquele momento com a mesma intensidade e o enxergando através das mesmas lentes: aquelas moldadas pelos arquivos diários e silenciosos do amor. O amor começa não só na euforia das noites de sexta-feira, mas nos tédios compartilhados de domingo; não só na sinfonia do encontro de timbres, mas no descobrimento da paz que mora dentro dos silêncios cotidianos. O amor começa depois. Depois que aquela vida que nos tira o ar tantas vezes, for também a mesma que, simplesmente por existir e respirar, nos dá coragem e vontade de continuar fazendo o mesmo.


Patricia Pinheiro

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

"(...) Venho sonhando, durante as tardes, que preciso. No momento, minhas boas intenções sofrem. Minhas mãos. As ideias. A segurança." ___________________________________ Priscila Nicolielo

“Essa menina é um furacão, moço.
Mas o amor também é.”


— A menina e o violão.
Com os ensejos que foram-me ofertados aprendi que as mulheres entregam lascas de ouro em entrelinhas curvilíneas. E saber lê-las é o que diferenciam os homens. Sim, mulheres desejam ser possuídas. Mesmo que não admitam. (...).Possuir uma mulher é muito mais do que levar seus orgasmos ao sexto sentido, mas sim fazê-la sentir-se a vontade para ter esses orgasmos e sorrisos, todos múltiplos, sem receios, culpas, inseguranças e questionamentos retóricos. Fazê-las fazerem algo que nunca imaginaram e mesmo assim sentirem-se felizes, confortáveis e compreendidas é o ponto chave de todo enredo. Mulheres precisam ser descobertas e compreendidas, e essa sensação de compreensão se passa com olhares, sorrisos e mãos firmes. (...) Por uma sociedade ainda pouco adaptada e evoluída à chegada incisiva e direta da mulher – o que considero uma pena – elas nos dão deixas sutis, onde os espertos captam e transformam pequenas mexidas de cabelo e sorrisos de canto de boca em um final de noite em uma praia despovoada regada de sorrisos e orgasmos cabais. Mulheres querem homens com histórias e peculiaridades. Não com carros e roupas de marcas estendidas no varal da noite. Qualquer mulher pode ser conquistada por um papo regado de esmero, gargalhadas e charme. E isso não há falo ostentador que compre. Mulheres querem caras com pegada na cama, mas principalmente na vida. Um homem com um horizonte amplo, mas principalmente com ação frente ao mundo.(...) Fazer uma mulher sentir-se compreendida e respeitada é abrir uma porta de ventura mutua..(...) Só estou dizendo que com o tempo aprendi a importância de saber desferir belos tapas e puxões de cabelo, como também sei beijar-lhe o pescoço e ceder um pouco de mim ao ver um filme recheado de paixão e brigadeiro de colher. Me dediquei a conhecer e estudar as mulheres pelos bares e supermercados que permeio, o que até hoje não sei se é um problema ou uma solução.


Frederico Elboni

Texto na Íntegra Aqui

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Um pedido a Deus: “Ensina-me a contar os meus dias de tal maneira que eu alcance coração sábio”____________ (Salmos 90.12).

Talvez o Salmo 90:12 seja um dos versículos mais lidos em aniversários. Porém, nem todos compreendem sua mensagem com clareza. Uma leitura desatenta pode fazer o leitor pensar que o simples fato de contarmos os dias se passando em nossas vida nos fará alcançar a sabedoria. Entretanto, isso não é verdade. Sabemos que o verdadeiro caminho para a sabedoria é o temor do Senhor. Por isso, sem o temor do Senhor você poderá até se tornar uma pessoa experiente, mas não uma pessoa sábia. Precisamos lembrar que existe a sabedoria humana e a sabedoria dos céus, e é desse que estamos em busca. À luz das Escrituras, vemos que o passar do tempo não dá sabedoria automática ao homem. O que pode dar sabedoria é o que fazemos com o passar do tempo, o que fazemos com a experiência. O salmista declara: “Sou mais prudente que os idosos, porque guardo os teus preceitos”(Salmo 119:100). 


NIVER 02/02/2021

 

Assim, ao perceber a brevidade da vida, o Salmista pede a Deus: “Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios”. Em outras palavras, ele está pedindo a Deus que lhe dê condições de perceber a passagem do tempo, a brevidade da vida, e ao perceber como somos frágeis, que isso o ajude a alcançar a sabedoria. Sim, o passar do tempo pode nos ajudar a alcançar a sabedoria, mas para isso precisamos perceber como somos frágeis. Isso faz com que coloquemos nossa confiança no Senhor, naquele que de eternidade a eternidade é Deus, e não pode ser abalado.

  • Por isso, assim como o Salmo 90:12, peçamos a Deus: “Ensina-nos a contar os nossos dias…”.


fonte: http://servolivre.com/2016/05/25/ensina-nos-a-contar-os-nossos-dias/ 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

A pessoa planta um amor para colher uma saudade. Porque regou as flores se não iria ficar para a primavera? ______________________________________ D.A.


“Se era amor? Não era. Era outra coisa. Restou uma dor profunda, mas poética. Estou cega, ou quase isso: tenho uma visão embaraçada do que aconteceu. É algo que estimula minha autocomiseração. Uma inexistência que machucava, mas ninguém morreu. É um velório sem defunto. Eu era daquele homem, ele era meu, e não era amor, então era o que? Dizem que as pessoas se apaixonam pela sensação de estar amando, e não pelo amado. É uma possibilidade. Eu estava feliz, eu estava no compasso dos dias e dos fatos. Eu estava plena e estava convicta. Estava tranquila e estava sem planos. Estava bem sintonizada. E de um dia para o outro estava sozinha, estava antiga, escrava, pequena. Parece o final de um amor, mas não era amor. Era algo recém-nascido em mim, ainda não batizado. E quando acabou, foi como se todas as janelas tivessem se fechado às três da tarde num dia de sol. Foi como se a praia ficasse vazia. Foi como um programa de televisão que sai do ar e ninguém desliga o aparelho, fica ali o barulho a madrugada inteira, o chiado, a falta de imagem, uma luz incômoda no escuro. Foi como estar isolada num país asiático, onde ninguém fala sua língua, onde ninguém o enxerga. Nunca me senti tão desamparada no meu desconhecimento. Quem pode explicar o que me acontece dentro? Eu tenho que responder às minhas próprias perguntas. Eu tenho que ser serena para me aplacar minha própria demência. E tenho que ser discreta para me receber em confiança. E tenho que ser lógica para entender minha própria confusão. Ser ao mesmo tempo o veneno e o antídoto. Se não era amor, Lopes, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não sabe se vai ser antes ou depois de se chocar com o solo. Eu bati a 200Km/h e estou voltando a pé pra casa, avariada. Eu sei, não precisa me dizer outra vez. Era uma diversão, uma paixonite, um jogo entre adultos. Talvez seja este o ponto. Talvez eu não seja adulta suficiente para brincar tão longe do meu pátio, do meu quarto, das minhas bonecas. Onde é que eu estava com a cabeça, de acreditar em contos de fadas, de achar que a gente manda no que sente e que bastaria apertar o botão e as luzes apagariam e eu retornaria minha vida satisfatória, sem sequelas, sem registro de ocorrência? Eu nunca amei aquele cara. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada. Não era amor, era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, era sacanagem. Não era amor, eram dois travessos. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. Não era amor, era melhor.” 

Martha Medeiros, Divã

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Foi numa dessas curvas ilógicas da vida que muita coisa passou a fazer sentido. Há muita experiência que, não fosse na dor e na incompreensão, eu jamais teria aprendido. E não falo de saudade ou lugares vazios: falo dos tapas na cara que fizeram melhor a mim do que aos agressores. _________________________ Camila Costa.

Não é fácil aceitar as próprias lacunas e assimilar as ausências. Não é simples calar desejos de dias melhores alimentados por anos a fio. A conformação, pra mim, nunca foi um processo rápido e muito menos indolor. Mas eu consegui. E compreendi, embora não sem dor, que o que eu quero não tem nome.
Autoria: Silvia Prata