domingo, 30 de julho de 2017

Só o romântico diz que não vai mais amar... _______________________ Ana Jacmo

Cena do Filme Comer Rezar Amar
Obrigado, doutores endócrinos, nutricionistas, preparadores físicos, musas fitness e toda gente afeita a defender dietas, receitas, fórmulas e novos hábitos para uma vida boa e saudável. Vocês estão fazendo um ótimo trabalho! Mas, aqui entre nós, tudo isso de nada vale sem um detalhe: não basta reduzir açúcar, carboidrato, gordura. Tem de aumentar o amor! Pão integral faz bem, mas ter alguém a quem se achegar inteiro, como um navio cheio de imigrantes aportando na terra nova, faz muito mais. Faz, sim. Nada contra granola light, mas uma pipoquinha no cinema de braço dado, a cabeça encostada no ombro do outro, ahh… faz o coração bater mais leve. De que adiantam as dietas e o exercício físico para quem arrasta uma alma sedentária? Correr, andar, puxar ferro, malhar o corpo levam embora no suor a sujeira dos dias. Mas alongar nossos afetos é que nos leva adiante por caminhos limpos, povoados de gente nova e velhos amigos. Renova nossa esperança, exercita nosso gosto pela vida. O amor é um exercício poderoso. Reduz o peso da barriga e leva embora o das costas. Quem ama faz tudo melhor, dorme, acorda, estuda, trabalha, come sem culpa, vive sem medo. É o exercício do amor que nos equilibra na vida, compensa a sanha odiosa dos idiotas, ajeita as coisas. Quem ama a si mesmo ou ao outro com empenho vai bem na academia, na quadra, no campo, na pista, na yoga, no pilates e onde mais quiser. Amar condiciona e fortalece, refresca e aquece. Cura e agradece. Obrigado, senhores especialistas. Mas não basta reduzir o açúcar nem intensificar o treino. Só vive melhor, com mais saúde e intensidade, quem não tem preguiça de aumentar o amor.


Ande J. Gomes

quarta-feira, 26 de julho de 2017

"Tudo o que fazemos é marcado pela fragilidade da nossa condição. Somos esta coisa humana, provisória, incerta, inacabada, imperfeita. Mas somos também poeira enamorada. Há em nós alguma coisa de maior. Mesmo no erro. Beckett dizia: errar, errar mais, errar melhor. No erro podemos encontrar um caminho." _______________________ (José Tolentino Mendonça)



A estrada que não foi seguida


Duas estradas separavam-se num bosque amarelo,
Que pena não poder seguir por ambas
Numa só viagem: muito tempo fiquei
Mirando uma até onde enxergava,
Quando se perdia entre os arbustos;

26/07/2017- Tejupá-SP
Depois tomei a outra, igualmente bela
E que teria talvez maior apelo,
Pois era relvada e fora de uso;
Embora na verdade, o trânsito
As tivesse gasto quase o mesmo,

E nessa manhã nas duas houvesse
Folhas que os passos não enegreceram.
Oh, reservei a primeira para outro dia!
Mas sabia como caminhos sucedem a caminhos
E duvidava se alguma vez lá voltaria.

É com um suspiro que agora conto isto,
Tanto, tanto tempo já passado:
Duas estradas separavam-se num bosque e eu —
Eu segui pela menos viajada
E isso fez a diferença toda

Robert Frost

terça-feira, 25 de julho de 2017

"Se eu sinto e me faz bem, levo comigo... A frase, o livro, o filme, as dores, a estrela, a risada, o choro, a amizade, a fé." E claro o amor... _______________________ Juliana Sfair

Arquivo Pessoal
Eu sei que o mundo tem andado pelo avesso e que o desapego nunca esteve tão na moda. As relações estão cada vez mais efêmeras e desinteressantes. Mas é importante, e muito, não embrutecer o coração nesses tempos onde o mais foi trocado pelo tanto faz. O duro é que esquecemos de como gostar da companhia de alguém. São tantas oportunidades de conhecer outras pessoas que, vez ou outra, passamos do ponto de ligar ou se importar com quem quer que seja. Parece existir uma predileção pela tortura do outro. Em vez de assumirmos uma postura sincera e dizermos o quanto antes que aquela não nos atrai densamente, optamos por essa manipulação esquisita, deixando alguém no famoso “stand by” enquanto resolvemos nos aventurar em diferentes metades. É algo muito estranho a ser feito, mas que parece fazer sucesso entre alguns. Só que ao destratarmos o afeto de alguém, não percebemos os entristecedores males causados naquele coração em questão. É daí que surgem os descasos, destemperos e incredibilidades no tal do amor. Coitado, vira e mexe ele é lançado nesse redomoinho de expectativas superestimadas e mal conduzidas. Mas me recuso a acreditar que o amor possa terminar assim, surrado e nas mãos dessa gente que idolatra o constante viver de mutos pares e poucos ímpares. Somos livres para descansarmos nos sentimentos alheios, não importa o momento. Ainda assim, não custa nada nutrirmos uma dose de responsabilidade afetiva para com quem não encontramos tantos motivos para continuarmos. Depois não adianta reclamar do mundo, das pessoas que aqui vivem e nas formas das quais elas reproduzem o amor. A culpa não é dele e sim nossa. Quando o complicamos, quando queremos forçá-lo a tomar caminhos egoístas, simplórios e separados. Nesse processo, é essencial para o coração manter-se aquecido. Torná-lo bruto em tempos de desapego não é benéfico para ninguém. Quem não quer estar, que parta. Mas se for pedir um lugar aqui dentro do peito, que venha trazendo ternura e reais intenções de soma.


Guilherme Moreira Jr.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Às vezes o amor só existe na ponta da caneta. No texto incompleto. No poema feito às pressas. Na música que toca repetidamente. Às vezes o amor é apenas lembrança. Às vezes, saudade. _______________________ Ita Portugal

A soma do que somos. Do verbo, da carne, do gozo, do ápice, do caos, do ombro, do assombro, do coice, do palavrão, da cara feia, do ócio, do gosto, desgosto, do destino, da palmada, das quedas, da revanche, da teimosia, da arrelia, da euforia, da noite, do dia, da dor, da ânsia, do tédio, do buraco que fede, da palma da mão ao centro do coração, da palavra ao grito, da chuva e do sol, da harmonia a agonia, dos sonhos imaginários, da plenitude à necessidade, dos trajetos errados aos labirintos das palavras que nos engole, contando a história de todos os nossos casos e acasos. Das tentativas ao amor. 





Ita Portugal

terça-feira, 18 de julho de 2017

A vida não espera a gente ficar pronto para nada, parece que ela nunca tem tempo, o nosso tempo. Tudo é imprevisível, nada é seguro, e a todo instante nos deparamos com o que não queríamos, não gostaríamos, jamais esperávamos. ________________________ Marcel Camargo

O amor disse o seu nome e você não escutou. O amor sentou ao lado e você se distraiu. O amor insistiu e você o ignorou. O amor decorou seu rosto mas você o esqueceu. O amor lhe sussurrou e você nada ouviu. O amor já foi mais simples e você o complicou. O amor que era óbvio, você crê: nunca existiu. A dor disse o seu nome e você de prontidão. A tristeza se sentou e você deu atenção. A saudade se insistiu e você a agarrou. A solidão decorou sua casa e você não reclamou. A vida já foi mais simples e você a complicou. Aquilo que era óbvio você diz que nunca viu. Qual seria o erro, então?


Guilherme Antunes



sexta-feira, 14 de julho de 2017

Dentro de cada mulher, convivem todas as tempestades e todas as calmarias, e consagra-se, assim, a plenitude do mistério. __________________________ Fernando Coelho

Tem dias que o peito aperta. A alma parece grande demais para um corpo que não é capaz de contê-la. Os olhos ardem porque a vida vem e nos confronta com novas perguntas, para as quais não temos nenhuma resposta. Tem dia que viver dói um bocado. Os desafios parecem maiores que nossas pernas dão conta de seguir, mais pesados que nossos braços dão conta de segurar. Tem dia que parece que nunca mais vai acabar. Parece que estamos vivendo um ano inteiro em vinte e quatro horas. Parece que acabamos inscritos por acidente numa gincana diabólica qualquer no melhor estilo “Hunger Games”. Tem dia que é teste de paciência. Maratona no deserto. Frio sem fogo nem cobertor. Dias difíceis! Quem é que não tem? Alguns deles, inclusive, parecem vir encadeados numa sequência aparentemente infinita de desafios à nossa resiliência e persistência. Alguns deles vêm cheios de experiências de perda, frustração e dor.No entanto, esses dias, assim como aqueles outros raros opostos em que o mundo parece estar cem por cento do nosso lado, esses dias também acabam. A dor é temporária, é circunstancial, e muitas vezes, necessária. A dor é a linguagem do corpo, físico e psíquico, que nos alerta sobre o perigo, que nos avisa sobre algo que não deveria estar nesse lugar. Bendita dor que nos tira o chão. Porque a partir dela, levamos uma chacoalhada da vida e entramos outra vez em sintonia com o movimento do universo. Agradeçamos cada uma das nossas dores. Mestras do aprendizado na nossa jornada aqui na Terra. Que a dor cumpra o seu papel e que sejamos capazes de ouvir, refletir, aprender a lição e persistir. Porque a dor é passageira. Mas desistir é para sempre!


Ana Macarini

terça-feira, 11 de julho de 2017

Perdi a coerência, o jogo,o rebolado. Contei lorotas fascinantes. Investi em aventuras patéticas, brindei sem esperar o resultado. Apressada, fiz rima para amores incompletos. Faminta, engoli todas as promessas sem pensar no mal-estar do dia seguinte. Enfrentei as partidas sem nenhuma valentia e no último instante entendi que nem sempre o amor desce na nossa estação. __________________________ Ita Portugal

Ainda a pouco desaguei solidão em palavras. Perguntei porque continuo por anos a fio entre tentativas e uma distância expressiva do ideal e a realidade. Nesse instante reflito sobre todas as verdades que não enxerguei e a dificuldade que foi desencadeada pelos secretos que não consegui desvendar. É excepcionalmente difícil conservar conceitos otimistas e sem nenhum sofrimento quando prenunciamos um dia seguinte, nublado. Há trabalho ainda para ser feito e desabrochar é um deles, porém mesmo doendo, abrir as pétalas é um exercício poético e se não vivemos para ver esse rápido espetáculo, que vivamos pela possibilidade de seguir em frente. Vai ver, o universo comemora. Sempre esqueço que existe essa alternativa




Ita Portugal

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Me pergunto e quisera saber de que se trata essa nostalgia de invernos… Dizem que inernos são crises… Quiçá não porque não há outros tons, mas é no inverno onde se forma o silêncio para ouvir as folhas… (Adilson Shiva)

Julho/2017
A vida, filho, é demasiadamente grande e temos por isto, medo. Assim nos prendemos às idéias e números, como necessidade para algum sossego e de garantir a perfeição: quanto se deve ganhar para que não falte, quanto se deve sobrar para bem viver, qual a distância para chegarmos, qual a idade para sonharmos, quanto de cansaço para partirmos, quanto nos falta para amarmos? Assim nos garantimos sem garantirmos coisa alguma, com esta bobagem de quererermos maquinar o mundo como uma disciplina de rigor. O rigor, meu filho, embora seja jeito de controle dos medos é um conceito muito estúpido para o espírito.


Guilherme Antunes