segunda-feira, 29 de junho de 2020

Construir-se é um processo cheio de frustrações, onde precisamos exercitar, separar o que conquistamos de tudo que precisamos deixar para trás. _____________________________________ Poeta da colina


foto: internet
"...e as pombas do meu quintal eram livres de voar, partiam para longos passeios mas voltavam sempre, pois não era mais do que amor o que eu tinha e o que eu queria delas, e voavam para bem longe e eu as reconhecia nos telhados das casas mais distantes entre o bando de pombas desafetas que eu acreditava um dia trazer também pro meu quintal imenso..."


(p. 98, Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar


domingo, 28 de junho de 2020

Gosto da palavra AMOR. Dizem-me que AMAR é melhor, que contém a palavra MAR. Ah! Mas Amor contém MOR que quer dizer MAIOR. E assim fica AMOR, MAIOR que o MAR de AMAR. ________________________ Portelinha

foto; Internet
Talvez, Deus use uma régua e um compasso. Algo que Lhe mostra que as coisas vão se encaixar. Ou um relógio do tempo, que lhe denuncia a hora exata dos encontros que vamos ter no decorrer da vida.Por várias vezes, questiono se Deus é um físico, matemático ou, apenas, um poeta apaixonado pelos romances impossíveis. Fico de cá, imaginando Ele de lá, chateado com a nossa bagunça ao encontrar os amores e deixando-os passar. Por muitas vezes, sonhei com Deus dançando em casamentos celebrando o amor, abrindo um vinho por mais um recém-nascido, comemorando o milagre da vida e dando muxoxos quando alguém prega o ódio em Seu nome, resmungando ‘esse babaca não entendeu foi nada.’. – será que Deus falaria ‘babaca’ ?!  Deus deve achar engraçado demais nossas confusões, indecisões e incertezas. Deve ficar de lá mandando chuvas de sinais para nos mostrar o caminho enquanto nós, cegos de vaidade, desapercebemos o óbvio. Não sei se para Deus somos comédia romântica, suspense ou drama. Será que eu teria paciência de assistir a minha própria vida com tanta dedicação, assim como Ele nos assiste? Em Sua onisciência, onipresença e onipotência, penso que, talvez, apertando um botão, Ele resolveria tudo. Nossas angústias, medos e realizaria todos os nossos desejos. Sentado numa cadeira, típica das lojas de games, adicionando alguns reais para jogar mais meia hora. É impossível prever o que Deus nos preparou. Mas, é indiscutível a Sua força através da nossa fé. O que a fé move e a energia que rege tudo isso.É incrível saber que as lágrimas não escorrem pelo rosto em direção a boca por acaso. Que o sorriso depois da tempestade é a resposta. É maravilhoso que, mesmo diante do caos, ainda temos a esperança. E com tanto barulho, bobagem dita, repetida e espalhada em nome de Deus, Ele continua fiel aos Seus princípios e focado na Sua maior e mais forte das leis: A lei do amor.Quem sabe seja esse o segredo de Deus. Seja essa a Sua régua e compasso ou o Seu relógio do tempo: Descarregar sinais de amor sobre nós. Para que, de alguma forma, sejamos tocados e encantados por esse sentimento que nos revela tanto de nós, e nos revela tanto para o outro. Como dizia minha vó, Deus faz tudo certinho. E com muito amor.


Edgard Abbehusen

quinta-feira, 25 de junho de 2020

"Pra não pensar na falta, eu me encho de coisas por aí. Me encho de amigos, livros e músicas." Tati Bernardi

Silêncio. Uma saudade que dança, lembrança. Herança de um tempo feliz.  É uma saudade que eu chamo de minha, talvez por que eu tinha a intenção de ficar. E mesmo que eu saia sozinha, os sorrisos que fui ninguém vai me tirar.  Justo eu, que nunca tive endereço, encontrei em você um grande apreço, meu começo, moço, sem fim algum. De sentimentos que conviviam em perfeita harmonia, sintonia, poesia de dois. Ironia do destino a gente se cruzar. É como se tivessem sequestrado a parte mais bonita de mim e eu começasse do fim para entender o meio. Me roubaram exatamente no momento em que eu estava deitada no teu peito, morando no teu abraço, laço, embaraço. Cansaço que dói, arde. Ferida que rasga na pele. Impele. Martele. Ele. Eu não quero parecer uma menina que caiu na rotina e perdeu a rima de se apaixonar. Eu prefiro ser uma mulher que ainda decora poemas, na esperança de resolver seus dilemas e depois se encontrar. Agora me diz: quanto tempo demora a tua hora de voltar? Não pense que isso é um lamento, na verdade eu sentia um afrouxamento e uma paz sem igual, e talvez esse tenha sido o meu mal, o meu bem e eu fiquei refém de tanto sentir ao teu lado, demasiado. Humano. Te reinvento na minha memória, mesmo que a nossa história tenha a duração de um sorriso. Talvez seja o fato de que ao teu lado eu amanhecia sem pressa, porque essa era a promessa: me demorar no teu olhar, no teu sonhar, acompanhar o teu corpo quando em mim ele fazia morada, e eu não queria mais nada, pois me sentia embrulhada naquele abraço. E depois vieram as tuas canções, o teu som e eu encontrei o meu tom ao teu lado. E ainda tem o violão dedilhado com tanto apreço e isso não tem preço quando fecho os olhos e lembro. Da forma que eu admirava você passeando naquelas notas e não há quem possa me pedir para esquecer, a intensidade com que você se entregava quando estava aninhado, tão afinado naquele instrumento. Eu gostava também de gargalhar com os teus olhos, rodopiar com as tuas mãos, adormecer na tua paz, na tua barba, na tua boca.  Eu lembro do primeiro abraço, era como se tivéssemos fazendo um juramento que servia de acento ao nosso sentir, que teimava em existir com a nossa permissão. Agora me dá a tua mão e me diz que isso vai passar, e que logo eu vou bordar, cirandar, estar ao teu lado de novo. Sendo feliz de novo. Me diz, moço. Vem ser porto. Chega bonito, inteiro como sempre foi. E não esquece de trazer os pássaros para cantarolar na minha janela como fazia todas as manhãs com tuas mensagens, teus telefonemas. Passeia de mãos comigo, brinda comigo, me aquece do frio que faz lá fora. Eu estava tão entregue. Sem medo algum, eu me doava um pouco mais a cada dia. Sem esperança de que desse certo ou não, mas eu estava vivendo aquilo tudo com tanta verdade. 

Não era amor. Era um adorar diário. 
Não era amor, era uma vontade de recomeçar uma nova história todos os dias. 
Não era amor, era um bem-querer recém-nascido. 
Não era amor, era como se eu tivesse retornado de um lugar que eu nunca fui embora. 
Não era amor, era um gostar mais que todos já visto até hoje.
Não era amor, era agridoce.
Não era amor, era vontade de ficar perto, sendo silêncio, barulho, não importava, bastava ser alguma coisa.
Não era amor, mas eu me aconchegava no teu braço, e o barulho do mundo lá fora não me atormentava.
Não era amor, era lucidez, caminhar leve e músicas que falavam por nós.
Não era amor, era afeto macio, cheiro, presença.
Não era amor, era o reconhecimento imediato daquela outra alma que falava a mesma língua que a minha. 
Não era amor, era invasão, urgência e delicadezas que se exibiam a todo instante.
Não era amor, era vinho, verso e violão.
Não era amor, era sensibilidade aflorada.
Não era amor, eram sorrisos, zelo, soma.

Não era amor. Era melhor.

Bibiana Benites

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Existem coisas piores que estar sozinho mas geralmente leva décadas para entender isso e quase sempre quando você entende é tarde demais. E não há nada pior que tarde demais. _________________________________________ Charles Bukowski

Quando ela está sozinha, ora com suas próprias palavras. Já que para ela não existe regra para conversar com a pessoa amada. Quando ela está sozinha, olha para o espelho e agradece por mais um dia. Afinal, agradecer pela vida, é uma coisa muito rara e bela. Quando ela está sozinha, anda de bicicleta sem as mãos. Acredita que de braços abertos pode voar e ir para qualquer lugar. Ela adora essa sensação do vento no seu rosto e a velocidade que bate o seu coração. Sem precisar de nenhuma razão, ela muda os planos e realiza novos sonhos. Quando ela está sozinha, corta o cabelo com a tesoura da cozinha, tira uma fotografia e fica rindo de si mesma por dias. Quando ela está sozinha, deita na cama com uma blusa básica e uma calcinha. E antes de dormir, tira a sua maquiagem e fica ainda mais atraente e sexy. Quando ela está sozinha, corre balançando os braços e nem liga para o cabelo desarrumado. Anda pela rua com o seu fone no ouvido, com um sorriso tranquilo, natural e muito bonito. Seus olhos brilham de alegria enquanto ela caminha distraída, curtindo a trilha sonora da sua vida. Ela é livre. Isso não é um crime. Muitos não entendem essa menina e ficam querendo saber porque ela está sozinha. Ela tenta mostrar ao mundo algo que aprendeu com muita dor. Solidão é unir duas pessoas sem amor. Ela aprendeu a se dar valor e acreditar em um amor sem pressa. Aquele que, com o tempo, alcança o que interessa. Ela não se desespera e segue sua vida. Pra ela, uma simples tentativa nunca foi a melhor saída. Aprendeu a ser resistente. A dizer “não” quando não for suficiente. Sabe que metade de qualquer coisa nunca vai satisfazer. Poucos conseguem entender esse seu jeito de ser. Inteira em uma só. Ela nunca esteve sozinha. Nem com ela e nem com os demais. Ela é apenas uma menina que sabe viver em paz, com ela mesma e com a vida.

terça-feira, 23 de junho de 2020

A menina que há tempos chorava, se pôs de pé. Tudo porque teve fé. (Cris Carvalho)

A menina da saia de chita precisa de novo segurar as mãos de Pipa pra não cair do cavalo da fantasia. A menina tinha se esquecido que dentro dela, adormecidos, estão os monstros do passado, que a fazem querer partir, mais do que chegar. Ela não quer olhar para trás. Mas ela também tem medo do que vem pela frente. Espada em punho, reza ao anjo da guarda para que proteja a menina que mora nela. A menina que não quer perder seu lado divino. O seu lado inocente, agraciado, bendito. A menina quer outra vez um quarto rosa, onde ela possa estar só com seus brinquedos e seus sonhos. A menina quer outra vez uma mão segura amparando a mão dela. 'Enterra o passado de vez, menina. Esquece e vai dormir'. 


Cris carvalho

sábado, 20 de junho de 2020

"No aconchego dos teus braços eu me sinto tão segura, que m'entrego e m'enlaço...- Sou carinho e sou ternura!"

ninguém conseguia a façanha
de ser minha paz e minha loucura
ao mesmo tempo
"Curioso não saber explicar como alguém tem o dom avassalador de ser o nosso ponto fraco. É como se eu estivesse em dieta e ele fosse a minha sobremesa predileta, armadilha, veneno e antídoto simultaneamente... inexplicável e irresistivelmente. É como se eu admitisse que existiam mais gentis, mais bonitos, mais inteligentes e até mais sinceros, mas ninguém conseguia a façanha de ser minha paz e minha loucura ao mesmo tempo, ninguém conseguia ser a razão e as contestações sobre todas as leis inventadas pro amor... a não ser ele, ele que me desarma, ele que estraga o meu show, ele que é único."

Yohana SanFer

Gosto de poesias porque lá encontro sobre mim algo para além do que consigo dizer. ____________________ Ana Suy

"(...) Aquilo a que muita gente chama amar consiste em escolher uma mulher e casar com ela. Escolhem, juro, já os vi. Como se se pudesse escolher no amor, como se amar não fosse um raio que quebra os ossos e nos deixa paralisados no meio do pátio. Tu dirás que eles escolhem porque-a-amam; creio que é o contrário. Não se pode escolher Beatriz, não se pode escolher Julieta. Não podemos escolher a chuva que nos vai encharcar até os ossos quando saímos de um concerto.”


Julio Cortázar, O Jogo da Amarelinha. Editora Civilização Brasileira, 2011.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

São muitas às vezes que nós acreditamos nas nossas verdades e depois descobrimos que era tudo uma enorme projeção do nosso querer que fossem verdades. ________________________ Denise Portes

Arquivo Pessoal
Sou uma espécie de conselheira sentimental dos amigos. Todos os dias ouço histórias de amor. Histórias de amor que estão começando, outras terminando. Todas iguais dentro das suas diferenças. Amor e egoísmo. Amor e medo. Amor e abandono. Amor. Todos os tipos de pessoas, diferentes personalidades, as mais variadas maneiras de encarar as coisas da vida. Seres distintos. Idade, cultura (ou a falta dela), gênero. Todas movidas por essa coisa enorme que de repente invade a vida de cada um e toma conta de tudo. E depois vai embora. Ou não. Curioso é perceber como as pessoas reagem ao fim dos relacionamentos. Algumas se mostram tão fortes, outras se fragilizam tanto que parece que não vão conseguir continuar a viver sozinhas. Algumas ficam se culpando, se martirizando desnecessariamente. Outras logo, logo partem para outra, literalmente. Essas são, ao meu ver, as que conseguem aproveitar melhor a vida. Vivem o que tem pra viver, sofrem, choram, mas se erguem e saem lutando contra moinhos de vento. É assim, sempre. É quase que um circulo vicioso. Os relacionamentos começam, são lindos por um certo tempo, depois começam a desgastar-se até que um dia chega a hora derradeira do adeus. O bom é que mesmo sofrendo horrores algumas pessoas não perdem a doçura. Não desistem de ser quem são por ninguém. Enfrentam as dores de maneira diferente, em intensidade diferente. Passa. Sempre passa. Dia após dia sentem-se melhor, mais forte. Passamos a vida toda atrás de amor. Mesmo não admitindo isso. Procuramos incessantemente por alguém que nos complete. Que nos faça felizes. E essa pessoa chega. Faz o que tem que fazer na nossa vida, depois vai embora. E ninguém morre por causa de um coração partido, isso eu aprendi. Sempre surge uma pontinha de esperança e um amor novinho em folha. No tempo certo.

terça-feira, 16 de junho de 2020

Lembrar de você a cada manhã. Pensar em você para dormir melhor. _____________________ | Tati Bernardi |

Pálpebras que falam. Olhos que cantam e en(cantam). 
Vozes que se entrelaçam. Bailam. Paixões cantadas com os ouvidos. 
Sorrisos sentidos com o olhar. Poemas escritos com a mente. 
Versos recitados para estrelas. 
Mãos que se tocam através de cartas. Perfumes eternizados em livros. 
Solidão acompanhada pela presença da saudade. 
Sentimentos pontuados por reticências. Amor eternizado pelas entrelinhas. 
A força do que não foi dito. O encontro in(esperado).


- Lígia Guerra -

sexta-feira, 12 de junho de 2020

“(…)”Sempre” era uma promessa! Como é que você pode não cumprir uma promessa desse jeito? (…) — Às vezes as pessoas não têm noção das promessas que estão fazendo no momento em que as fazem.” _________________________________________ A Culpa é das Estrelas.

junho/2020
As pessoas amam bem mais a expectativa do amor possível, que o amor propriamente dito. Daí a intensidade dos impulsos bloqueados, os que estão impedidos de expansão e movimento na direção do objeto amado. Os "grandes amores" da literatura são grandes, não por serem amores, mas por serem impossíveis. Já os grandes amores da vida real só quem sente é que sabe. A impossibilidade de dimensionar um impulso afetivo carrega de energia a fantasia. E esta se encarrega de dar dimensão ao que o exercício da relação, talvez, tirasse. Na paixão impossível só estão as projeções do que idealizamos, pretendemos ou não conseguimos viver em nosso cotidiano. Daí ser fácil entender sua força, sua obsessiva presença na cabeça dos enamorados. É por isso, aliás, que só é musa quem é inatingível. Case-se com a sua musa e acordará com uma jararaca... Case-se com quem ama e será feliz. Quer se ver livre de uma paixão colossal? Vá viver com a pessoa objeto da paixão (observem, por favor, que não estou usando a palavra amor). Aliás, já está nos clássicos e, mesmo, antes destes, nos antigos: "A conquista enobrece e a posse avilta". Ou, como dizia Goethe: "Nas batalhas da paixão, ganha aquele que foge". Quantas vezes as relações humanas terminam ou se interrompem sem terem esgotado o potencial de possibilidades adivinhadas, intuídas, sentidas. Aí, o que não se esgotou clama por vir à tona e, muitas vezes, ameaça ocupar (e às vezes ocupa, efetivamente) todo o "ego". Não é por outra razão que o apaixonado é o maior dos egoístas. Ao dedicar tudo ao objeto da paixão, está é alimentando a própria necessidade, seja de sofrimento, de idealização, de felicidade ou fantasia. Entupido de impossibilidades, ele clama. E a isso muitos chamam amor. Mas amor é coisa muito diversa... Amor não clama nem reclama: amor dá.

terça-feira, 9 de junho de 2020

Não consigo imaginar outro lugar onde eu gostaria de estar agora, e olha que tenho a mania besta de sempre tentar. ___________________________ Gabito Nunes

A verdade é que, enquanto você estiver assim, nessa interminável agonia, esperando notícias que nunca chegam, vai deixar passar várias possibilidades interessantes ao seu redor . Claro, ninguém se compara a quem você aguarda, mas quem você aguarda não está disponível no momento . Poderá, inclusive, nunca estar, apesar de tudo o que foi dito naquele dia . Pessoas que somem não são confiáveis . E, mesmo que você tenha certeza absoluta de que não se trata de desprezo, que deve ter acontecido alguma coisa, que esse sumiço tem alguma explicação, não adianta nada você ficar ai esperando . Corroer-se de ansiedade não vai apressar a resolução do problema, seja ele qual for . Então, desencana ..


Fernanda Young

domingo, 7 de junho de 2020

" Quando a alma está no comando, a sua vida se torna uma "história de amor" Ansiamos por movimentos, para nos ligarmos com nossas almas. Os monges encontram essa ligação no canto. Os tuaregues, no deserto. Os poetas, na palavra. Os tocadores de tambor, na batida.... e eu dentro de mim mesma" ___________________________ Renata Lobo

Finalmente, aconteceu o melhor: eu entreguei os pontos. Tem hora em que deixar-se vencer pelo cansaço é que é vitória. Não para ficarmos morando nele, pois quando cansaço passa a parecer casa já virou cilada. Deixar-se vencer pelo cansaço, às vezes, só para a coragem descansar um pouco, tomar ar, beber uma água, estirar as pernas. Outras, para desistirmos de tentar ignorar o pedido de escuta do nosso coração ♥, que está cheio de coisas pra nos dizer, meio doído, meio assustado, meio aperreado, carente do olhar da gente. Querendo tempo. Querendo colo. Querendo abraço com os braços bons da ternura. Por preguiça afetiva, pra não darmos confiança para alguns sentimentos, pra economizarmos lágrima, por medo de que desminta as mentiras que nos contamos por comodismo, a verdade é que muitas vezes desconversamos quando o nosso coração ♥ tenta puxar assunto. E, não é raro, desconversamos com a maior cara-de-pau do mundo. Desconversamos com os recursos mais costumeiros, com outros inéditos, alguns até bizarros. Para esse tipo de escuta, quando é a nossa vida que está na berlinda e não a alheia, bem mais do que coragem, há que se ter também muito amor. Então, finalmente, aconteceu o melhor: eu entreguei os pontos. Cansei de resistir ao papo. Procurei um lugar confortável em mim, diminuí o volume dos ruídos todos do lado de fora, pausei os afazeres, sem mais nenhuma resistência e com toda honestidade amorosa de que era capaz. Disse pra ele: “Fala, meu amado, eu estou aqui inteirinha com você.” E ele falou tudo o que sentia e tudo o que sentia era legítimo. Choramos juntos sem economia de instante, depois assoamos a vida. Desapertou. Desapertamos. Respiramos mais macio. Criamos espaço, os dois. Combinamos deixar coisas pra trás e seguir em frente, mais leves. Combinamos que nem sabíamos direito como era isso de seguir em frente, mas que ali onde estávamos também não havia mais jeito de retorno. Combinamos que descobriríamos, juntos, ao caminhar!... 


sexta-feira, 5 de junho de 2020

Tu sabes que não existe no mundo nada tão instável, tão inquieto quanto o meu coração. _________________ Goethe

Não me atraso para a dor nem para o desencanto. Dentro de mim também há noites de silêncios e desamparo. Apenas cuido para que essas horas, solúveis, não se acomodem na minha janela. Cuido para que esse frio não me atrase com a sua estação de lágrimas sempre tão saudosas. Mas, não me atraso para a falta de riso nem para o desencontro. A fé é que sempre chega muito cedo. E me move. Tempo de fé invade, não espera o momento.

Priscila Rôde

terça-feira, 2 de junho de 2020

A vocês, eu deixo o sono. O sonho, não! Este eu mesma carrego! ________________________ Paulo Leminski

Arquivo Pessoal
Menina dos olhos cintilantes, que sorri para o dia de sol e para as flores que brotam sem pedir licença. Feminina, encantadora e apaixonada; pelos outros, pela vida ou por qualquer coisa que simplesmente – como se fosse pouco – faça bem a ela. Ela não costuma admitir, mas adora sentir-se acolhida. O que para os outros pode soar como pieguice, para ela é delicadeza, e uma linda parcela de amor. Sabe viver o presente sem se preocupar com os medos do futuro, porém, muitas vezes, oculta as suas vulnerabilidades para proteger a sua sensibilidade à flor da pele. “Como existem pessoas que não gostam de carinho?”, “Por que elas escondem tanto o que sentem?”, – se questiona, deitada em sua cama e olhando para o branco do teto, que, tempos atrás, era repleto de estrelas e planetas fluorescentes colados. Se entregar? Só se for de corpo e alma. Dinheiro? Prefere sentimento sincero. Não que ela não goste de dinheiro, mas não faz questão de ser milionária… Companheira, solidária e munida de sinceras gentilezas, ela se adapta às situações, mantém a calma, mesmo perto de quem desvaloriza a sua veia sonhadora. Mas, quando sozinha, se esconde na sua concha e sorri por saber que os sonhos são, e sempre serão, os seus melhores amigos. 

Frederico Elbone