quarta-feira, 22 de março de 2017

"Repara que o outono é mais estação da alma que da natureza." __________________ Drummond

No momento em que traço estas linhas de fim, tenho diante de mim a primeira folha do Outono, a primeira folha de Plátanos, que esta semana, caminhando numa praça, o vento trouxe e sem avisar pousou em meu peito, bem ali na altura do coração. E não adianta dizer que foi meu anjo porque ele anda ocupado com coisas mais importantes no momento. Mas foi um sinal. Sinal positivo. Primeiro porque a mãe natureza me diz através deste gesto poético que estão se findando os dias tórridos deste que foi o mais caliente dos verões. Está chegando a estação mais sublime do ano, a estação dos Poetas. Pois eu trouxe a folha comigo, está aqui em minha frente, inerte, num álbum entre fotos de outras flores; A folha é marrom-claro, em tons de ocre e nuances de cobre. Já foi verde como a esperança. Para nós que já estamos sentindo as primeiras aragens, as primeiras auroras da estação que está chegando, é preciso lembrar de Bashô, um antigo poeta japonês, monge zen-budista que peregrinava à pé pelo velho país do sol nascente e relatava em seus poemas haicais as maravilhas da paisagem. Já naquela época ele falava da beleza da lua nas noites de Outono.  Nada muda a paisagem romântica e bucólica, quando numa noite de Outono, tudo fica mais nostálgico, feérico e sublime. Através da história, muitos poetas escreveram sobre a lua. Mas é o luar outonal a principal fonte de inspiração, como se fosse um pacto com a musa, uma ode aos céus, um ditirambo ao amor. Mas é hora de, sob o halo lunar, guardar minha folha de Outono. É hora de fechar este álbum. É hora de abrir este coração.


Tchello d¨Barros

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