terça-feira, 17 de abril de 2018

O amor gosta de desconstruir barreiras e impressões para se construir inteiro e livre. _____________________________ Isabella Gonçalves

Eu acredito em grandes amores. Mas falo como se não acreditasse. Eu não tenho muitas  expectativas para o romance. Eu sou um daqueles indivíduos raros, talvez um pouco cansados. Mas eu acredito em grandes amores, até porque já tive um. Eu tive esse amor que tudo consome. O amor do tipo “eu não posso acreditar que isto existe no mundo físico.” O tipo de amor que irrompe como um incêndio incontrolável e então se torna brasa que queima em silêncio, confortavelmente, durante anos. O tipo de amor que escreve romances e sinfonias. O tipo de amor que ensina mais do que tu pensaste que poderias aprender, e dá de volta infinitamente mais do que recebe. É amor do tipo “amor da tua vida”. E eu acredito que funciona assim: Se tu tiveres sorte, conhecerás o amor da tua vida. Tu estarás com ele, aprenderás com ele, darás tudo de ti a ele e permitirás que a sua influência te mude em medidas insondáveis. É uma experiência como nenhuma outra. Mas aqui está o que os contos de fadas não te vão dizer – às vezes encontramos os amores das nossas vidas, mas não conseguimos mantê-los. Nós não chegamos a casar-nos com eles, nem passamos anos ao lado deles, nem seguraremos as suas mãos nos seus leitos de morte depois de uma vida bem vivida juntos. Nós nem sempre conseguimos ficar com os amores da nossa vida, porque no mundo real, o amor não conquista tudo. Ele não resolve as diferenças irreparáveis, não triunfa sobre a doença, ele não preenche fendas religiosas e nem nos salva de nós mesmos quando estamos perdidos. Nós nem sempre chegamos a ficar com os amores das nossas vidas, porque às vezes o amor não é tudo o que existe. Às vezes tu queres uma casa num pequeno país com três filhos e ele quer uma carreira movimentada na cidade. Às vezes tu tens um mundo inteiro para explorar e ele tem medo de se aventurar fora do seu quintal. Às vezes tu tens sonhos maiores do que os do outro. Às vezes, a maior atitude de amor que tu podes ter é simplesmente deixar o outro ir. Outras vezes, tu não tens escolha. Mas aqui está outra coisa que não te vão contar sobre encontrar o amor da tua vida: não viveres toda a tua vida ao lado dele não desqualifica o seu significado. Algumas pessoas podem amar-te mais em um ano do que outras poderiam te amar em cinquenta anos. Algumas pessoas podem ensinar-te mais em um único dia do que outras durante toda a sua vida. Algumas pessoas entram nas nossas vidas apenas por um determinado período de tempo, mas causam um impacto que mais ninguém pode igualar ou substituir. E quem somos nós para chamar essas pessoas de algo que não seja “amores das nossas vidas”? Quem somos nós para minimizar a sua importância, para reescrever as suas memórias, para alterar as formas em que nos mudaram para melhor, simplesmente porque os nossos caminhos divergiram? Quem somos nós para decidir que precisamos desesperadamente substituí-los – encontrar um amor maior, melhor, mais forte, mais apaixonado que pode durar por toda a vida? Talvez nós devêssemos simplesmente ser gratos por termos encontrado essas pessoas. Por termos chegado a amá-las. Por termos aprendido com elas. Pelas nossas vidas se terem expandido e florescido como resultado de tê-las conhecido. Encontrar e deixar o amor da tua vida não tem que ser a tragédia da tua vida. Deixá-lo pode ser a tua maior bênção. Afinal, algumas pessoas nunca chegam sequer a encontrá-lo.


Heidi Priebe 

segunda-feira, 16 de abril de 2018

'Cá entre nós: fui eu quem sonhou que você sonhava comigo, ou teria sido o contrário? (...) não era isso o que eu queria ou planejava dizer. Pelo menos, não desse jeito embaçado como uma VIDRAÇA durante a chuva. Por favor, apanhe aquele pequeno pedaço de feltro(...) limpe devagar a vidraça(...) até ficar mais claro o que há POR TRÁS. Lago, edifício, montanha, outdoor, qualquer coisa. Certamente molhada, porque só quando chove as vidraças embaçam será? ' _____________ (C.F.A)

Eles não souberam quando começaram ou terminaram, se por algum momento a mágica do “nós” chegou a acontecer, se podia ser amor ou vontade de dividir uma pizza. Talvez ela quisesse somente uma companhia, alguém para chamar de “amor”, um par de meias novas no Natal e passear na pracinha que tem apenas uma árvore. Ele quis um apartamento maior, a estabilidade que pode ser superficialmente alcançada, um salário mais proveitoso. Nunca disseram adeus, nem até mais, nem qualquer outra coisa que desse possibilidade de um fim ou de um próximo encontro; terminavam as conversas com beijos. Talvez ele a ame. Talvez ela quisesse saber disso. Por causa da mudez das emoções que sentiam, eles não sabiam que destino davam a si. O bonito deles é a coisa mais simples em suas histórias: de alguma forma silenciosa e cheia de esperança, eles esperavam um pelo outro, embora nenhum pedido tenha sido feito. 


__________________(A menina por trás da vidraça)

quinta-feira, 5 de abril de 2018

"Diz-me dos silêncios inquietos que cantam no teu olhar, do rio de palavras selvagens, preso em ti, das melodias vadias que escreves ao luar; diz ao desassossego que ateias em mim, o poema que quero entender. E quando minha pele começar a enrubescer, diz-me tudo. Não deixes nada por dizer." ________________________________ *Teresa Subtil, simplesmentelis, outroblog*

Acontecia estar ainda a pousar o telefone e as saudades estarem já, do seu lado da linha, prontas para agredir. Respirava-se a presença constante daquela ausência que doía. Mas estava prestes a acabar. O espaço por ocupar iria morrer no abraço filmográfico entre bagagens e sorrisos molhados. O abraço ansiado, sabia-se lá há quanto tempo, feito para acontecer. Suspenso num tempo qualquer em que as coragens eram diferentes e não havia ainda o direito de escolher sempre a felicidade nem o que nos faz bem. Ia fazer cinema. Já ouvia os aplausos. É que havia também uma contagem. Riscos num calendário enfeitado da cumplicidade cor-de-rosa e azul-bebé na declaração implícita de terem chegado. Ela tinha chegado. Tão lindo o seu castelinho nas nuvens com almofadas brancas pelo chão, muitos livros nas estantes, a cozinha grande, permissiva e confidente. Quanta harmonia. Ali o amor não era ideia. Uma coisa que se diz e que se escreve em forma de poesia mas que morre nas mesmas linhas em que é falada sem no entanto chegar a ver-se a ser… a sério. No castelinho nas nuvens, o amor era um facto. Existia. Tinha corpo e tinha mais coisas. Levou-se toda e tola a morar lá. E era lá que ela e as suas malas diriam adeus. Na porta da frente, erguia-se o horizonte desenhado por Deus para si. Oferecido, porque sabia quem ela era e sabia que merecia. Fora assim aos seus olhos, a terra e o céu encontraram-se a meio do caminho para que ela pudesse receber o que era dela.Nunca mais se lembrou da vida real. Dos medos reais. Nem da outra realidade na ponta da corda, amarrada ao chão numa pedra fixa. Ela fora o doce segredo que na sombra dera de comer, às escondidas, ao sonho de voar. Quando aterrou, fez-se assassina e aprendeu a matar. Silenciosamente. Cravou-lhe uma faca bem fundo, na mesma cozinha, onde ele continuava de copo na mão a distraí-la com o humor mordaz e as mãos indecentes que a faziam errar na medida do sal. Mas custava a matar o sonho. Todas as noites tinha ainda de o sufocar com a almofada que antes servia para lhe marcar o lugar no faz-de-conta que estava ali. E onde o via tranquilo a dormir ao seu lado, observa-o agora a perder a vida dentro de casa dela. Dentro se si. De facto, quando olhamos o abismo, o abismo também olha para nós e ela não era a mesma. As nuvens desfizeram-se e o castelo deixou de ter onde se manter de pé. Aí veio disparada das alturas, às cambalhotas, de encontro à vida. Na queda perdera a bússola. Ou deixara-a cair intencionalmente. Não se lembrava. Pela primeira vez, perdera-se. Não porque não sabia onde estava, mas porque não sabia para onde ir. Como é que se extraem vidros do coração, sem que ele pare? Sem lhe causar aquele tipo de danos permanentes que causam paralisia. Teria de ser com cuidado. Era isso. Com cuidado. Com disciplina. Colar a cabeça ao pescoço de novo e dela retirar todos os vestígios de castelos com cozinhas grandes onde se fez amor e se cometeu homicídio. Ainda havia muito por colher no atalho que a tinha levado para longe do permitido. Sabia-o porque metia a cara entre as mãos, cheia de vergonha, por ter querido baralhar-se tanto. Vergonha por ter mingado.Por um tempo tivera quinze anos, usara duas tranças e andara num campo de trigo dourado de mãos dadas a um sonho a falar de pertencer. Também houvera borboletas. Afinal qualquer ilusão só é capaz de iludir te houver borboletas…Tivera muitas, a fazer-lhe cócegas nos princípios, nas metas e na personalidade. Que ano cheio de tudo. Perto do fim e das suas habituais avaliações, agarrou o Destino e perguntou-lhe com alguma dor “Ainda estás a meu favor?” A resposta tardou. Gostava de pensar que não por abandono ou desinteresse de quem a estivesse a Ouvir, mas antes por falta de espaço na agenda cósmica do seu Guardião. Em tempos de tão grandes transformações em tantas vidas, há que esperar a vez do que eclode antes de nós, para e por nós. Também. Ela eclodiria depois, para e por si, para e por alguém. Era assim que era desde a primeira insatisfação de Deus. Não podia deixar de rir de si mesma. Apesar de tudo, como uma chamazinha numa noite chuvosa e fria de Inverno, o resquício da infantilidade que lhe fazia tranças e a levava para campos de trigo dourado, recusava-se a desistir e a tornar-se adulto. Que assim fosse para que ela não se esquecesse de quem Era. Apesar de tudo. "Os sonhos são cenouras" -concluiu. Os sonhos são cenouras penduradas à frente do nariz e que nos fazem andar, continuar, optar, enganar e fazer tudo outra vez. Os sonhos são cenouras que não se trincam, mantêm-nos a fome.E a criança que não quer crescer. Há destas fomes, como a que sinto, que são como castelos nas nuvens – só nossos. Cuidado por isso com os sonhos, com certas fomes e todos os castelos.






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