quinta-feira, 25 de junho de 2020

"Pra não pensar na falta, eu me encho de coisas por aí. Me encho de amigos, livros e músicas." Tati Bernardi

Silêncio. Uma saudade que dança, lembrança. Herança de um tempo feliz.  É uma saudade que eu chamo de minha, talvez por que eu tinha a intenção de ficar. E mesmo que eu saia sozinha, os sorrisos que fui ninguém vai me tirar.  Justo eu, que nunca tive endereço, encontrei em você um grande apreço, meu começo, moço, sem fim algum. De sentimentos que conviviam em perfeita harmonia, sintonia, poesia de dois. Ironia do destino a gente se cruzar. É como se tivessem sequestrado a parte mais bonita de mim e eu começasse do fim para entender o meio. Me roubaram exatamente no momento em que eu estava deitada no teu peito, morando no teu abraço, laço, embaraço. Cansaço que dói, arde. Ferida que rasga na pele. Impele. Martele. Ele. Eu não quero parecer uma menina que caiu na rotina e perdeu a rima de se apaixonar. Eu prefiro ser uma mulher que ainda decora poemas, na esperança de resolver seus dilemas e depois se encontrar. Agora me diz: quanto tempo demora a tua hora de voltar? Não pense que isso é um lamento, na verdade eu sentia um afrouxamento e uma paz sem igual, e talvez esse tenha sido o meu mal, o meu bem e eu fiquei refém de tanto sentir ao teu lado, demasiado. Humano. Te reinvento na minha memória, mesmo que a nossa história tenha a duração de um sorriso. Talvez seja o fato de que ao teu lado eu amanhecia sem pressa, porque essa era a promessa: me demorar no teu olhar, no teu sonhar, acompanhar o teu corpo quando em mim ele fazia morada, e eu não queria mais nada, pois me sentia embrulhada naquele abraço. E depois vieram as tuas canções, o teu som e eu encontrei o meu tom ao teu lado. E ainda tem o violão dedilhado com tanto apreço e isso não tem preço quando fecho os olhos e lembro. Da forma que eu admirava você passeando naquelas notas e não há quem possa me pedir para esquecer, a intensidade com que você se entregava quando estava aninhado, tão afinado naquele instrumento. Eu gostava também de gargalhar com os teus olhos, rodopiar com as tuas mãos, adormecer na tua paz, na tua barba, na tua boca.  Eu lembro do primeiro abraço, era como se tivéssemos fazendo um juramento que servia de acento ao nosso sentir, que teimava em existir com a nossa permissão. Agora me dá a tua mão e me diz que isso vai passar, e que logo eu vou bordar, cirandar, estar ao teu lado de novo. Sendo feliz de novo. Me diz, moço. Vem ser porto. Chega bonito, inteiro como sempre foi. E não esquece de trazer os pássaros para cantarolar na minha janela como fazia todas as manhãs com tuas mensagens, teus telefonemas. Passeia de mãos comigo, brinda comigo, me aquece do frio que faz lá fora. Eu estava tão entregue. Sem medo algum, eu me doava um pouco mais a cada dia. Sem esperança de que desse certo ou não, mas eu estava vivendo aquilo tudo com tanta verdade. 

Não era amor. Era um adorar diário. 
Não era amor, era uma vontade de recomeçar uma nova história todos os dias. 
Não era amor, era um bem-querer recém-nascido. 
Não era amor, era como se eu tivesse retornado de um lugar que eu nunca fui embora. 
Não era amor, era um gostar mais que todos já visto até hoje.
Não era amor, era agridoce.
Não era amor, era vontade de ficar perto, sendo silêncio, barulho, não importava, bastava ser alguma coisa.
Não era amor, mas eu me aconchegava no teu braço, e o barulho do mundo lá fora não me atormentava.
Não era amor, era lucidez, caminhar leve e músicas que falavam por nós.
Não era amor, era afeto macio, cheiro, presença.
Não era amor, era o reconhecimento imediato daquela outra alma que falava a mesma língua que a minha. 
Não era amor, era invasão, urgência e delicadezas que se exibiam a todo instante.
Não era amor, era vinho, verso e violão.
Não era amor, era sensibilidade aflorada.
Não era amor, eram sorrisos, zelo, soma.

Não era amor. Era melhor.

Bibiana Benites

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