sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Os escritores ruins estão todos vestidos, pobrezinhos. Estão de fraque, cartola, traje de festa, joias de vidro. Já os bons escritores, sem se darem conta disso, sem se vagloriarem de sua coragem, estão sempre nus.


Não quero um amor exibido, de tela grande, explicando cada pedaço de uma trajetória coerente pra milhares de pessoas que nada tem a ver com a gente. Quero um amor minimalista, que acontece na sala, na padaria, no quarto, nas primeiras mensagens e, de repente, você apareceu aqui, nasceu na minha cama como se nunca tivesse nascido em outro lugar antes, como se a história já começasse do meio e a gente já começasse se amando. Não quero um amor que dure só 90 minutos nem quero créditos finais rápidos. Quero um amor que se desenvolva no ritmo de uma trilha sonora escolhida a mãos inquietas que passeiam por coxas, que abrem zíperes, que fazem estrago em cachos, que segurem com força pra não deixar vendaval nenhum levar a gente pra longe. Não quero um amor que exija traje ou perfume. Quero um amor cru, com cheiro de pele e bastante suor, com saliva pelo corpo todo pra eu me sentir mais gente. Quero unhas e carne, entranhas expostas, nada de gemido abafado. Quero que você fale o que vier à mente e o que quiser esconder de mim, tudo bem, eu respeito os teus segredos. Um dia você se conforta e se abre, me abre, conta comigo e conta pra mim. Que amor tem disso de esconde-esconde até não conseguir esconder mais nada. Não quero um amor com fim definido. Por que é que a gente não pode deixar o fim pra lá e continua uma história com 365 ou quantos dias quiser? Quero que seja, quero que esteja, quero um amor pra dormir do teu lado e bocejar, desgrenhar o cabelo, acordar com remela e beijar mesmo assim, toda aquela parte que o cinema não mostra. Quero você na tela pequena do quarto, nos bastidores do banheiro enquanto você faz a barba e te passo mais sabão só pra te atrasar mais um pouco. Quero tanto que nem ligo se a gente não for sucesso de crítica ou se não pegar o bonequinho de ouro no domingo. Eu só ligo pra você e desligo a TV quando quero desligar do mundo. Eu quero um amor como o nosso, que acontece mesmo sem encenação, sem bilheteria de sucesso, que passa em lugar nenhum a não ser dentro da gente. Eu quero.”

Eu também, Daniel, querido, eu também quero.


Stella Florence

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