domingo, 9 de outubro de 2016

"Dizem que toda dor passa. Eu não sei se acredito, para mim ela se agarra na pessoa e se torna parte dela." ______________________ Daniel Bovolento

Paixão é não saber onde começa você e termina o outro. Em qual parte daquele aconchego se perdeu a angústia que dilacerava a sua solidão. É quando a gente finalmente entende os motivos de tudo ter dado tão errado no dia de ontem e de todas as dores que nos prepararam para a chegada do amor. Amar é um estado de permanência. É aprender a ceder. A esquecer que existe ego, orgulho, superioridade e que nos transforma em seres humanos mais humildes. Capazes de aceitar e reconhecer falhas, de compreender os momentos do outro, de entender que, de fato, não somos obrigados a nada, mas o querer ficar é mais forte que tudo. Estar ao lado de alguém é um infinito de desapegos. De certezas, vontades, expectativas, de sonhos. A gente abandona velhos desejos para construir novos ainda mais mirabolantes. Adiciona-se um prato na mesa de jantar, um travesseiro na cama e uma interrogação no futuro. Paixão é se perder. Na saudade, na ansiedade, na demora das horas e no tempo. Abandonamos o juízo, o bom senso e o discernimento em prol daquele calorzinho que esquenta o peito quando fechamos os olhos para sonhar. Desistimos e nos rendemos no breve espaço do mesmo segundo. Eis o maior descompasso da vida: se relacionar. Justamente porque para nos orientarmos na nossa própria travessia precisamos viver o caos de uma vida a dois. O relógio precisa caminhar no ritmo de duas pessoas para que um único sentimento possa fazer sentido. E cedo ou tarde faz. Quando o turbilhão de sentimentos dentro da gente entra em harmonia, enfim o carrossel da vida em conjunto equilibra seu passeio. Amamos. Conhecemos o amor. Se relacionar é um aprendizado diário. Sobre nós, sobre o mundo, sobre alguém. Vai muito além do beijo na boca, do abraço apertado e da gargalhada no rosto. Envolve um encontro de almas que precisam evoluir. Transcender aquilo que entendem como verdade absoluta para conhecerem a realidade do que significa parceria. É dar as mãos, os pés, o corpo inteiro e ainda assim querer se doar mais. Uma entrega que não tem início, fim ou meio termo, ela simplesmente é. Dia após dia, segundo após segundo. Amar é viver o outro em sua imensidão e só então compreender um pouco sobre si. Encontrar-se em olhares alheios. Descabelada, desnuda, descalça. Humana.

Danielle Dayan

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