Nos delírios poéticos encontramos algumas respostas para as nossas tantas perguntas… |
Eu deveria ter ficado mais atenta às respostas da vida. Deveria ter me desfeito dos motivos, mesmo sem ter encontrado os motivos. Deveria ter prestado mais atenção enquanto o caminho se desenhava bem ali, na minha frente. Mas eu mudei a direção do vento só para segurar os sonhos entre os dedos. E esqueci que os sonhos são ventos que não se retêm, porque escapam… Deveria ter ouvido quando me disseram que descobrir o conceito de infinito era o meu caminho, mas eu tapei os ouvidos e a boca. E cega, caminhei na contramão, enquanto o mundo seguia na direção certa dos meus sonhos. Eu queria ir além… Mas não enxergava o mundo além do meu mundo. E cultivava uma vontade inocente e aflita de tocar com a ponta dos dedos a felicidade, sem lembrar que felicidade é um instante, apenas um instante, diante da vida toda que acontece lá fora. E no fundo, no fundo, se traduz apenas como um desejo não palpável – quase inalcançável – que faz a gente perseguir os nossos sonhos. Depois de vagar na direção contrária e atravessar o tempo, eu fui lá, mergulhar nas coisas interpostas, porque queria descobrir a essência dos sentimentos. Queria lapidar os seus conceitos, e colocar cada um no seu devido lugar, só para ter ao alcance das mãos as sensações que movem o mundo. Um desejo megalômano, de quem desconhece a vida e o seu jeito estranho de apresentar a realidade e impor a sua vontade. O que acontece aqui, às vezes não acontece lá, do outro lado do muro. Mas sonhos são sonhos. E quando eu sonho não penso em mais nada, além da possibilidade de torná-los realização; ainda que os momentos de fraqueza dobrem as minhas pernas e retardem os meus passos. Ainda assim eu vou lá, manipular o vento. E as respostas silenciosas do tempo, quando ainda insisto nas interposições? Para essa pergunta obstinada e persistente – que algumas vezes ofusca o meu sorriso e desarmoniza os meus sentidos – só tenho uma resposta: Às vezes o tempo não é sim, nem não. Às vezes o tempo é espera. Só isso. E o que a gente deseja, enquanto aguarda, é o que tempo de espera também seja de realização. Os sonhos? Descobri que eu sonho os impossíveis do mundo, porque não sei viver a realidade – e tudo que ela traz – sem o pretexto de um dia poder realizar de fato, tudo aquilo que guardo aqui dentro, e a vida real não alcança. E quando abro a porta e por algum motivo não os vejo lá, sorrindo, à minha espera, o meu único desejo é um abraço acolhedor, que traga para dentro a paz que conforta, e me faça desejar mais um instante de felicidade. E as sensações que movem o mundo e os seus conceitos? Não tenho resposta. Só descobri que, às vezes, o que a gente escreve encontra abrigo em outra vida porque lá também existe a mesma sensação. Mas também não tem resposta. Quanto ao que eu deveria ter alcançado lá no começo, quando os sonhos ainda eram inocentes, compreendo que a gente pode um monte de coisas, mas só descobre isso depois, no tempo que se foi…
Érica Gaião
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