sexta-feira, 3 de julho de 2015

Mas como menina-teimosa que sou, ainda insisto em desentortar os caminhos. Em construir castelos sem pensar nos ventos. ________________________ Caio F. Abreu


Nos delírios poéticos encontramos
algumas respostas para as
 nossas tantas perguntas…
Eu deveria ter ficado mais atenta às respostas da vida. Deveria ter me desfeito dos motivos, mesmo sem ter encontrado os motivos. Deveria ter prestado mais atenção enquanto o caminho se desenhava bem ali, na minha frente. Mas eu mudei a direção do vento só para segurar os sonhos entre os dedos. E esqueci que os sonhos são ventos que não se retêm, porque escapam… Deveria ter ouvido quando me disseram que descobrir o conceito de infinito era o meu caminho, mas eu tapei os ouvidos e a boca. E cega, caminhei na contramão, enquanto o mundo seguia na direção certa dos meus sonhos. Eu queria ir além… Mas não enxergava o mundo além do meu mundo. E cultivava uma vontade inocente e aflita de tocar com a ponta dos dedos a felicidade, sem lembrar que felicidade é um instante, apenas um instante, diante da vida toda que acontece lá fora. E no fundo, no fundo, se traduz apenas como um desejo não palpável – quase inalcançável – que faz a gente perseguir os nossos sonhos. Depois de vagar na direção contrária e atravessar o tempo, eu fui lá, mergulhar nas coisas interpostas, porque queria descobrir a essência dos sentimentos. Queria lapidar os seus conceitos, e colocar cada um no seu devido lugar, só para ter ao alcance das mãos as sensações que movem o mundo. Um desejo megalômano, de quem desconhece a vida e o seu jeito estranho de apresentar a realidade e impor a sua vontade. O que acontece aqui, às vezes não acontece lá, do outro lado do muro. Mas sonhos são sonhos. E quando eu sonho não penso em mais nada, além da possibilidade de torná-los realização; ainda que os momentos de fraqueza dobrem as minhas pernas e retardem os meus passos. Ainda assim eu vou lá, manipular o vento. E as respostas silenciosas do tempo, quando ainda insisto nas interposições? Para essa pergunta obstinada e persistente – que algumas vezes ofusca o meu sorriso e desarmoniza os meus sentidos – só tenho uma resposta: Às vezes o tempo não é sim, nem não. Às vezes o tempo é espera. Só isso. E o que a gente deseja, enquanto aguarda, é o que tempo de espera também seja de realização. Os sonhos? Descobri que eu sonho os impossíveis do mundo, porque não sei viver a realidade – e tudo que ela traz – sem o pretexto de um dia poder realizar de fato, tudo aquilo que guardo aqui dentro, e a vida real não alcança. E quando abro a porta e por algum motivo não os vejo lá, sorrindo, à minha espera, o meu único desejo é um abraço acolhedor, que traga para dentro a paz que conforta, e me faça desejar mais um instante de felicidade. E as sensações que movem o mundo e os seus conceitos? Não tenho resposta. Só descobri que, às vezes, o que a gente escreve encontra abrigo em outra vida porque lá também existe a mesma sensação. Mas também não tem resposta. Quanto ao que eu deveria ter alcançado lá no começo, quando os sonhos ainda eram inocentes, compreendo que a gente pode um monte de coisas, mas só descobre isso depois, no tempo que se foi…

Érica Gaião

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