Eu enxergo futuros. Eu os encontro nas entrelinhas dos seus porquês; os reconheço entre os movimentos do seu corpo. O intervalo, a pulsação, os silêncios, o olhar, os suspiros te confessam. Eu enxergo futuros entre xícaras de café; entre as mágoas; entre os sonhos. Eu enxergo futuros porque te vejo dirigindo-se para lá. Adianta dizer-lhe de precipícios e erros? Adianta a preocupação e o prognóstico das misérias e reincidências? Solicita-me palavras para ocupar-se. Pede-me verdade como álibi para os seus enganos. Eu enxergo futuros mas não sei das respostas. Porque são nas perguntas que deveria se reconhecer: pela entonação dos medos, nas pausas da dúvida, na certeza do que não sabe e pelo que constrói exatamente por isto. Eu enxergo futuros porque vejo o invisível presente: este que busca fugir entre respostas, conselhos, fórmulas, ilusões, compulsões e demais anestesias. As mesmas que por tanto tempo bebi por saber-me cego e exigir-me outro.
Enxergar é uma difícil convocação para si mesmo.
Guilherme Antunes
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