quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Apesar dos ventos não serem favoráveis, eu coloco meu barquinho no mar. Eu coloco e vou seguindo, vencendo ondas, vencendo rochedos, vencendo abismos. Vou com meu barquinho pelas tempestades e sei que encontrarei um porto sereno com seu sorriso na praia a me esperar. _________________________ Caio Augusto Leite

Cena do Filme Titanic
Talvez eu seja feita de vento, uma brisa leve soprando pra algum lugar que eu não sei exatamente onde fica, mas saberei. Talvez. Porque não me arrisco a tentar definir mais nada, e nem a carregar o peso de tantas certezas, até porque a vida sempre ri de todas elas. A única certeza que tenho é que sou pequena demais para ter tantas certezas assim. Quase tudo parece duvidar das minhas respostas prontas, e nisso reside minha alegria: me conformar em perceber que o mais sábio é entender que talvez seja, talvez não, talvez mude, talvez não. Por um tempo, a delicadeza da alma feita só de brisa me desafiou o espírito. Em um momento da vida em que minha alma foi picada em pedaços e colada de forma meio torta, achei que deveria ser dura feito pedra. Enquanto acreditei nisso, tive certezas inquestionáveis, e as dúvidas foram prontamente rechaçadas ou respondidas. Tinha um caminho definido e uma meta a ser alcançada. Eu era meu próprio quartel. Pena que nele jamais deixaria de ser um soldado raso, sem direito a questionar as próprias certezas impostas. Pena, também, ter esquecido que pedras não foram feitas pra sair do lugar. Por um descuido da armadura vigilante em que me transformei, uma das minhas certezas inquestionáveis se desfez no ar, explodiu linda e colorida feito confete no meu rosto, e surgiram dúvidas alegres e zombeteiras que espalharam o caos no meu quartel e desfizeram toda hierarquia e seriedade que constituí como alicerces da minha alma de pedra. Toda essa desordem momentânea me deixou atônita, manca de uma certeza só: sou pequena demais para ter tantas certezas assim. Mentira, tenho outra: tenho que respirar e comer, senão morro. O resto… bem, o resto, até onde eu sei e acredito, pode mudar. Por isso, desertei do meu quartel, piquei mais uma vez a alma inteira e estou, no momento, remendando-a novamente. Vai ficar torta, eu sei, mas perfeccionismo nunca me ajudou muito, e está mais pra defeito que qualidade. E é por isso que acredito ser feita de vento. Ou talvez de pólen, poeira de estrelas, onda do mar, asa de borboleta, tanto faz. Que seja do que for, que tenha brechinhas e seja mal colada mesmo, para que o sol jamais deixe de iluminar os cantos mais escuros, e a cola que une seus pedaços não seque tanto a ponto de endurecer os sentimentos e o sorriso de gratidão a absolutamente tudo que me retirou o excesso de certezas, o fardo pesado de verdades inúteis e mutáveis. E a gente segue assim, mal colada e sorridente entre dúvidas zombeteiras, rumo a algum lugar que não se sabe exatamente onde fica. Feito vento.


(Desconheço a autoria)

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