sexta-feira, 25 de março de 2016

Uma mulher exuberante estava mergulhada até o talo na vida louca: noite sim, noite também, sua casa luxuosa recendia a litros de bebida e sexo de má qualidade. Para os brutos, um paraíso; para aquele coração delicado de mulher, uma prisão, pois ela sentia a mesma sede de amor que eu e você sentimos. _______________________________ Stella Florence

Monica Bellucci interpretou Maria Madalena
 em Paixão de Cristo.

Feliz Páscoa!
Quando qualquer mudança já lhe parecia impossível, um homem sábio, de passagem por sua cidade, fez uma palestra que ela assistiu embevecida. Uma intensa sensação de acolhimento tomou conta de sua alma e fez com que aquela mulher, apesar da rejeição social que a cerceava, tentasse conversar particularmente com o sábio. Tão cansada, tão linda, ela se ajoelhou diante dele e confessou não saber como recomeçar, como conhecer a si mesma, como crescer. O mestre, emanando aceitação e doçura, sintetizou o caminho: “O amor cobre uma multidão de pecados”. A partir daquele dia inesquecível, Maria de Magdala (ou Maria Madalena) se tornou a mais humilde, determinada e fiel discípula que Jesus Cristo jamais teve. Enquanto os homens dormiam em seu medo, Madalena acompanhou o último suspiro de Jesus. Enquanto os homens dormiam em sua perplexidade, Madalena foi cuidar do cadáver do mestre. Enquanto os homens dormiam em sua preguiça, Madalena viveu em primeira mão o que viria a ser o símbolo máximo da vida após a morte: o encontro com Jesus redivivo. Após aqueles dias vertiginosos, ela seguiu os apóstolos até a Galileia, pedindo que eles a aceitassem em um dos vários grupos que pregariam a boa nova. Um a um, eles se recusaram a levá-la, temendo sua má fama do passado (ou, quem sabe?, apenas invejando a força espiritual daquela mulher). Sozinha, Madalena trabalhou pelo seu sustento. Certo dia, um grupo de leprosos chegou à cidade de Dalmanuta procurando Jesus (sem as redes sociais, as notícias demoravam a se espalhar). Ela então os reuniu sob as árvores da praia e os encheu de esperança em dias melhores. Madalena os acolheu como filhos, eles a aceitaram como mãe. Expulsos pelas autoridades locais, os leprosos tiveram de seguir para o vale imundo em Jerusalém. Madalena foi com eles. Não demorou até que ela visse em sua pele as primeiras manchas violáceas. Decidida a rever Maria de Nazaré, Madalena se despediu emocionada de seus filhos do coração e viajou, a pé, até a cidade de Éfeso. Com o corpo já coberto de chagas e quase inconsciente, ela chegou ao seu destino. Poucos dias depois, Madalena sentiu um grande alívio. Parecia que estava de volta àCafarnaum, sob as árvores, a espera do mestre. De repente, ela vê Jesus Cristo se aproximar, mais belo do que nunca! Madalena tenta se ajoelhar, mas ele a impede, recolhendo-a, luminosa, em seus braços: “Maria, já passaste a porta estreita... Amaste muito! Vem!”. Que nesta Páscoa, nós, mulheres modernas, nos lembremos de Maria Madalena: uma mulher que de enfrentou preconceitos ferozes apenas para amar, amar muito.


[Stella Florence]

Republicado (04 de abril de 2015)

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