Não invento nada; simplesmente sou a
mensageira das minhas sensações".
(Emil Cioran)
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Pede o espírito uso de vocabulários para expressar suas dimensões;onde o amor quando expresso nas letras deveria fazer a convocação aos esquecidos contornos de nós. Aí está a beleza da linguagem, trazer-nos sem entregar-nos a realidade das coisas. Entretanto, o amor como palavra tornou-se gasta pelo abuso romântico das carências que nela se apegam e nela costuram promessas, roteiros e cenários. Torna-se o amor na literatura chave gasta que nenhuma porta abre, embora dele tanto se fale porque a palavra ocupa-nos provisoriamente o vazio a que o real amor cumpre ocupar. Ocupamo-nos com os reflexos. Amar-nos entre os capítulos permite certas seguranças ainda que o verbo a conjugar seja frágil. A linguagem é veste que solicita às essências ser por inteira desnudada, sendo por esta razão, inclusive, a seiva dos enganos, a distrair-nos em seu próprio mundo permitindo-nos pelo descuidado, caminharmos para sempre nos círculos da lógica que não se aproxima o coração. Um utilitário pretexto para enfeitarmos as superfícies e os enganos, não tocando o lugar onde sentimos nem alcançando verdade de onde emanam os nossos próprios significados. O amor confessa no silêncio o que nas palavras esconde. O silêncio é a renúncia da palavra que no amor se rende. A vida, tal qual o próprio amor, residem nas reticências que anunciam todas as possibilidades de nós...
Guilherme Antunes
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