sexta-feira, 12 de junho de 2015

"Há tanta paixão silenciosa em teus olhos, e há tanta canção em teus suspiros, e há tanta valsa em tuas pálpebras, e há tantas invenções de flores raras em teu coração, e há tantos momentos de favos em tua boca, e há tantos corações imitando o teu, e há tanta nervura de promessas em teus ombros, e há tanto de ti em tudo o que existe!" _________________________________ Fernando Coelho

amar 
é precisar morrer mais tarde 
é querer chegar mais cedo.

amar
é atenuar as pressas 
e sentir pressas.

G. Antunes
Maria carregava um camafeu na gola do vestido. Era a porta para o jardim dos namorados. Todo dia, quando voltava de sua plantação de faces leves, retida em fotografias dos trigais, dos arrozais, dos milharais, das ramas de centeio (tudo regado com horizonte), Maria queria mostrar pra alguém. Um e outros tinham pressa, para o nada do fazer. Então, Maria abria a varanda carregada de borboletas virgens e umedecida de esperas no tal dia dos namorados. Somente nesse dia, parece, o pessoal de sua região acordava mais disposto pra amar, ou arrependido porque não amava de outrora. Maria se arregaçava de batom a mostrar que vivia a vida amando, que nada apodrece com o amor, que a margem enlaça o rio, que se escreve sobre a água, que até a chuva horizontal se torna, para quem ama se afogar deitado no amor. O amor fala trastes, roupas, sexo, lápis, filhos, rádio tocando no escuro dentro de um pé de pau, cantos de pintassilgos entre os dedos vagos, na ribanceira de um beijo curvado. Maria só quer dizer que o dia dos namorados vai ser ainda amanhã, e depois, e depois, e depois...ela até contratou um poeta que corre as ruas, capengando de rasuras, pra cima e pra baixo, avisando isso num megafone de letras.

                 
     Feliz dia dos Namorados

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