quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Antes do ano terminar, tem alguma coisa pra dizer?



Eu tenho. Eu fico pensando o que seria se tivéssemos nos encontrado na solidão. O que poderíamos ser, o que teríamos sido. Imagino nossos diálogos noite adentro, a companhia quente em uma madrugada fria, o criado-mudo cheio de livros, o abajur cansado de tanto trabalhar e seu peito descoberto fazendo papel de travesseiro para o meu descanso. eu consigo imaginar as conversas, você me dizendo sua opinião sobre o último filme e discussões gostosas sobre o último livro do llosa, nossas leituras contrárias criando uma nova maneira de entender o que interpretamos, uma felicidade completa por descobrir o que juntos nos tornamos. Eu imagino nosso casamento, eu entrando de vestido branco simples e você me esperando no altar, seu rosto surpreso ao me ver subir no palco pra cantar composição feita pra você, meu coração saltar ao ver que você preparou o mesmo em melodia diferente. Eu vejo nossa casa, branca, clara e florida, tendo em cada canto a felicidade detalhada, um cômodo de marfim para os nossos livros chamarem de morada, um porta-retrato nosso no hall de entrada. Eu me vejo em você. me enxergo em seus sigilos, me encontro naquilo que você não diz, me enxergo em seus discursos apaixonados de olhos tão claros imensidões de mim. e não entendo porque tanta ironia da vida te estar tão longe, me esfregando sua presença assim tão de perto, não entendo obra de quem foi tornar errado o que era pra ser certo, não entendo a razão de te encontrar com o peito fechado logo quando o meu resolve ser aberto. e sinto raiva dos casais opostos que atravessam as ruas, daqueles que não se completam mas vivem a vida de alegria nua, enquanto nós que nascemos tão siameses, almas tão exatas em um mundo perdido, precisamos nos contentar com "bons dias e boas tardes" e sorrisos simplistas de distantes amigos. Logo nós que fomos feitos de palavras, temos que nos esquivar de nossos sentimentos que gritam já quase surdos, enquanto nós dizemos em olhares desviados um discurso de eu te quero muito, completamente mudo.

Flá Costa

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