O barulho na sala denuncia a incontrolável pressa como se o tempo fugisse sem cumprir suas tarefas. E ela respira fundo, feito um trago de cigarro que penetra no peito. Parece ser o décimo café já quase morno que embebeda a consciência. Pensa bem, ela é esse vulcão sem aviso prévio para nenhum sentimento. Vai querer encarar alguém assim: exausta de medo, que confunde lembranças, não manda recado. Alguém cheia de apetite, mas de paladar sentimental totalmente apurado. A vantagem é que ela sabe amar de um jeito bobo, sem freio, atravessado. Ela sabe amar nas madrugadas friorentas e exigir que na próxima manhã, seja primavera. E nesse vai e vem, entre a pressa e os castigos impostos pela falta de doçura e paciência, ela insiste na vida com fúria e trezentos graus de ansiedade. Vivendo em doses generosas de alegria e pecados, a vida parece que é pra já. Nenhum labirinto ou distância é capaz de fazê-la desistir. Ao final do caminho é apenas um corpo em cacos, cansado, mas ainda visitada pela esperança. Amanhã, passa. Ela, o sonho, a incerteza, o vento, amores e tentativas.
Ita Portugal
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