sábado, 26 de novembro de 2016

“Não faltou amor, não da minha parte.” _______________________ — Querido John.

Sei disso. Minha liberdade nunca coube no teu abraço. Meu riso solto, minhas fotos confessionais, minhas músicas escolhidas a dedo. Não foi fácil te manter segredo, quando o que eu sentia queria sair pela boca, pelos olhares, pelo corpo, pelos corredores, pelas persianas do meu andar. Minha arte sempre foi sofrer sorrindo, entende? Você jamais saberá dos presentes que eu comprei e não entreguei, das mensagens que rascunhei e apaguei. No meio do furação eu te descobri. E eu já sentia tanto, eu já sentia tudo. Eu já fazia planos pra nós. (...) Quem tem alma que cabe jamais me interessou. Sou mandala de imprevistos, improváveis. Sou de possíveis. Não sei pisar em ovos. Minha melodia é livre e não cabe num único estilo musical. Moço, eu tenho asas por dentro, sabe? Já percebeu que vira e mexe, estou voando, na tua frente? Sou profunda e abrigo armários de mar, prontos para acalmar minha euforia dominical, se preciso. Troco esse carnaval tradicional por livros e dois dedos de vinho quase todo ano. Minha pele tem pó de estrela e meu cabelo, estações. Sou fotográfica. Não troco sono tranquilo por amores desarrumados. Meu vigor anda de havaianas, senta no chão, medita em campo aberto, procura vinis no sábado a noite, acontece na contramão das ondas fortes, avassaladoras. Sou desassossegada dentro de um vestido preto. Não gosto de brincos maiores do que minhas orelhas e sim, não sei varrer ansiedade para baixo do tapete. Vez por outra permito que a tristeza leve meu sorriso, pra variar a cara lavada de sempre. Uma casa chamada intuição. É meu coração. Alarga, absorve, expulsa, canta, contém e compõe, me põe em cima e embaixo, que é para relembrar a existência. Sobre doer nobremente, quem nunca? Sou carne e espírito, fique sabendo.


Erica de Paula

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