segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

" Vi então que dependeria tão somente de mim, da minha força de vontade. Nenhum analgésico faria efeito." ____________________________ Jully S

"Sou apenas uma sobrevivente
 na louca confusão do amor."

F. Coelho
Franzi a testa, arreganhei os dentes e ... desci. Desci vertiginosamente. Onde dói? Dói meu peito que permanece curvado em pranto. Doem meus ombros que não suportam o peso da saudade. Doem meus ouvidos secos de palavras carinhosas. Doem meus pés que não têm para quem caminhar. Doem meus olhos que não encontram senão a casa vazia. Dói meu couro cabeludo que não recebe os ungüentos do cafuné. Dói tudo, doutor. Dói simplesmente tudo, porque meu corpo não é só essa carne óbvia em cuja massa seus dedos afundam procurando um nódulo, uma urticária, uma veia estourada. Dói tudo porque em tudo a alma se coloca e a alma, doutor, a alma sente sem anestesias. É claro que eu sei que vai passar, não sou nenhuma ignorante dos mecanismos da vida para, mesmo sob essa dor doída de alma doente, me jogar do décimo segundo andar. Sei que vai passar. Minha razão sabe que vai passar. Meu coração sabe que vai passar, aos poucos. Sei também que o único tratamento recomendado ao meu caso é o tempo. Sei de tudo isso, tudo isso me é claro, mas por enquanto, por favor, faça esta caridade: não me pergunte onde dói.


Stella Florence

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