domingo, 3 de maio de 2020

Amei esse passo estranho que abraço, na prece que envolta comigo permanece. Calcei meus sapatos, andei com as estrelas, defendi a imagem sonhada, olvidada e-vivi. (Eloah)

Talvez exista um lugar que negamos haver em nós justamente porque nos pede atenção; e que mais ignoramos quanto mais nos convoca. Um lugar a guardar nossos vazios. Um cativeiro para as nossas rejeições. Um cárcere para todos os medos. Um espaço invisível a desabitar-nos por inteiro desocultado apenas pela inconsciência. A consciência pouco sabe e pouco desconfia. Acredita no que vê. Magoa-se com a palavra. Apaga se ameaçada. Sujeita às interrupções. A inconsciência é o palco em que a vida se ouve mesmo calada. Sabe da lágrima, da culpa, dos nós. Aguarda-nos no sonho, na palavra, no erro. Espera-nos do lado avesso da liberdade. Uma liberdade que preservamos às custas deste lugar que negamos haver em nós e que nos convoca. A liberdade que somente acreditamos. Aquela que não é. Aquela onde nunca estamos.


Guilherme Gonçalves

Nenhum comentário:

Postar um comentário