segunda-feira, 13 de junho de 2016

A cura começa com a ternura! _______________________ Ana jácomo

Ganhei e amei esta linda poesia!
Bela ternura!

Zaragatoa (Plantago coronopus)
"Os amores se soltavam na primavera; começavam em 1º de maio, com a plantação da árvore de maio e com discretas palavras floridas que se espalhavam pela aldeia. Eu mesmo ainda as empreguei nos anos 1960-1965, em minha pequena aldeia da Borgonha: nas portas das casas onde moravam as meninas, punham-se buquês de flores mais ou menos bonitas, mas ou menos eloquentes para dizer sem dizer o que pensávamos e o que esperávamos delas… Nossa gramática naqueles anos, se reduzia ao lilás, e o que contava para nossas apreciações era a quantidade e o cuidado dos buquês… Já não ousávamos mais oferecer flores silvestres, muito vexatórias para nossas jovens amigas. No entanto a linguagem das flores, inventada por enamorados condenados ao silêncio ou excessivamente submetidos a um controle social tradicional, por muito tempo permitiu exprimir ternura e sentimentos, sob os olhos das matronas, dos pais e dos maridos ciumentos. A acácia homenageava a graça, o áster a elegância, o bom-dia o coquetismo; já o boa-noite era um convite para aquele mesmo anoitecer, enquanto o aciano expressava o charme e o botão-de-ouro a zombaria. O sólido buxo: 'Não vou mudar'; a madressilva: 'Somos um para o outro'. O junquilho acusava a mentira, o cíclame dizia adeus, e o cipreste vinha confirmar que “Nosso amor morreu”. O morangueiro lembrava as delícias, a zaragatoa, “que tua imagem está gravada em meu coração”. O goivo amarelo: “Gostaria que fosse já”. O visco assegurava um triunfo próximo, a hortênsia reprovava a frieza, o jacinto azul significava suspeitas. O ouro-rosa propunha um simples flerte, enquanto a inocente margarida perguntava se se era amado, e o miosótis, como todos sabem ainda, pelos menos os ingleses, dizia: forget me not. A rosa, sempre muito oferecida, torna a dizer que se ama com matizes nas cores: a rosa pompom, que será somente um namorico, a rosa creme, que vai se amar deliciosamente. A tuberosa fala de volúpia até morrer, e a zínia, enfim: 'Silêncio, estão nos espiando!” (Grifei)




(Pascal Dibie, em 'Silêncio dos amantes', in: Mutações: o silêncio e a prosa do mundo / Org. Adauto Novaes. - São Paulo: Ed. Sesc, 2014, p. 363)

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