terça-feira, 25 de agosto de 2015

Pediste ao céu para que viesse rosa sem qualquer espinho. Não há rosas sem espinhos, amor. Serias então outra que não eu? E a primavera, entristecida, porque outra que não tua? ________________________ Guilherme Antunes

Segue então moça, firme, agarrada à sua fé.
E se eu for embora por instantes, seu gesto será de tristeza? Se eu for embora por instantes, não devolverei o afeto que até então me foi ofertado. Se eu for embora, prometa deixar a porta fechada para eu não titubear. E se for à tardinha, espero que o sol, em um ato de solidariedade, desbote no horizonte. Quero sair apressada, para não dar tempo às lembranças e fingir que tudo evaporou da memória. Não irei esfuziante e nem alardearei os motivos, aliás a única coisa acalentadora é que foi bom. Tivemos dias generosos, todavia mergulhamos em aflições. Nunca fomos proprietários de tranquilidade. Se eu for embora, irei lembrar das promessas de tonalidade que sentenciavam um horizonte feliz. Quando eu sair, será de uma forma despojada, sem contudo parecer livre. Farei apenas para não esgarçar a guardada felicidade. A propósito, o que será de mim quando sair? Continuarei com a habitual descompostura que me mantém viva. Nunca adiei a felicidade. Sei que ela foi decorrente das porções generosas da convivência, que um dia esqueceu de prosseguir a estrada colorida de girassóis. Então, nada mais se junta ou acumula. Não há investimentos dentro do peito. Sairei sem ruído. E se eu decidir ir, colecionarei coragem para chorar, lavando a alma, retirando o pó infinitas vezes ou até que se feche a ferida, cerzida de boas recordações. Finalmente batizarei essa vivência de um amanhecer para a vida.

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