Que a vida não me pegue desprevenida. Que nenhuma lição seja repetida por falta de aprendizagem. Sentir-me-ei confortável se souber que fui boa aluna. |
Livrai-me dos solavancos que misturam e confundem meus sentimentos. Dos estragos causados quando fico com o coração endurecido. Das tantas palavras que me leva a pensar que sou “sabida”. De usar pouco silêncio, quando ele é tão necessário; Do tempo perdido com coisas sérias dos adultos. De anoitecer sem agradecer e amanhecer sem sorrir. De querer ser grande, sem ter sapato de salto alto suficiente. Das palavras ásperas que tanto machucam. De sentir saudade do que não tem jeito. Da solidão, com tanta gente perto. Do apego ao que se dissipa facilmente. De perder tempo com o que foi perdido. Das certezas que me privam da beleza de tecer sonhos incertos. Dos carinhos econômicos por medo de me entregar. Da falta dos riscos que emocionam a vida De todas as faltas. Da falta de coragem, da falta da música, da falta do toque, da falta de amizade, da falta de fé e de amor. E liberta-me de usar as hipóteses do desaforo de ser normal e viver o óbvio, engaiolada nas convicções. Que eu renasça com a sensação de que sou poeta, sonhadora, louca e majestosamente viva, sem precisar me preocupar em explicar as razões disso.
Ita Portugal
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