sábado, 31 de janeiro de 2015

Poema à quatro mãos? Não poema de um coração que pulsa, sente, sofre, perdoa, esquece e ama novamente. Poema de pessoas igualmente sensíveis. Perfeito, dentro das imperfeições de um adeus. _______________________________ Roseli Fardin

'a ela não importava os caminhos de volta. 
a ela não preocupava os caminhos de ida.
abandonou mapas, crenças e medos.

sem sair do lugar, 
encontrou-se.'

G. Antunes
Eu nunca saberei como me despedir de ti, visto que não há chance ou ensaio em que eu saia inteira. Despedir-me é a renúncia de parte do amor que parte e deixa uma lembrança de nós dois. Despedir-me de ti é o mesmo que abrir mão deste meu lado feliz e satisfeita com o mundo, em troca da versão chorosa e arredia de quem ficou presa e perdida pelo caminho. Sobrou-me anestesiada esperança e uma metade que respira mas não sente, que caminha mas não sonha. Hoje sou árida mansidão, uma mulher sem pressas nem vontades. Sinto dores por não saber no amor ser temporária, e com os vazios no lugar de ti, restam-me todos os desamanhãs. E não irei sorrir nem prosseguir com o que escolhi deixar imóvel no instante em que te encontrei. A tua despedida de amor foi um jeito de morte, e por vezes deveríamos saber fazer qualquer coisa contra o inevitável em nós que não nos desague na tristeza. Eu não soube ser diferente, então a vida irá chamar mas não responderei, enquanto o peito estiver ardendo a sua falta. Eu não previ nem me preparei para o que serei na tua ausência. Depois de ti, ganhei eternidades quando talvez só me reste o tempo. Sou uma fiel exemplar das que não sabem o que fazer depois que o amor vai embora. Serei assim para sempre, morna metade e mais de um mesmo que não convence. Um estado de espera para sonhar e viver outra vez. Agora que regresso aos meus habituais abismos, espero, com braços que não se cansam, com desejos que não secam, por um amor que não muda mesmo quando a lua é outra, ou quando a vida inventa um novo jeito de seguir. Quem sabe um dia eu possa nascer pedra enquanto você flor, pra te namorar sem doer entre os silêncios do jardim e primavera, dessabido da língua das saudades que invernam os homens.

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