domingo, 27 de julho de 2014

"Tenho este defeito. Só amanheço quando entardece." _________________________ Padre Fábio de Melo

"Não, as palavras não fazem amor, fazem ausência(...)"

Alejandra Pizarnik
Seu último poema dizia que a primavera traria de volta as flores que o outono levou. Vê? Aqui dentro ainda é inverno. Trocaria toda essa erudição e frases feitas por diálogos despretensiosos, que não exigissem disposição para decifrar incógnitas. Rabisco frases sem sentido, me pego rimando e desenhando versos bobos. Vou gastar meus clichês, esgotar rompantes emocionais, desperdiçar ironia e matar as incertezas. Se não dá pra converter em exclamação, dispenso. Detesto a contradição, mas ela me adora. É um caso de amor e ódio onde invariavelmente saio rendida. Meus textos não tem sentido porque os desejos rumam em sentidos opostos. Tem um elefante branco, uma caixa de lápis de cor e milhares de objetos inúteis aqui dentro. Fico criando associações, buscando coerência e domínio. Não alcanço nada disso e me frustro. Quebro as pontas de todos os lápis: é inverno e não cabe desenhar nenhuma flor. Vai render meia página. E eu queria um livro inteiro, dez ou doze capítulos de você.

Flávia Queiroz

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